• Nenhum resultado encontrado

Foi possível compreender elementos da experiência subjetiva das crianças que participaram do estudo, contextualizada nas questões pertinentes à deficiência do irmão e no impacto desta na vivência familiar. Os encontros proporcionaram às crianças um espaço acolhedor e facilitador para a expressão de fantasias, sentimentos e questionamentos acerca da deficiência do irmão.

Assim, a pesquisa pôde gerar benefícios não apenas para o meio acadêmico e à sociedade, mas também para as próprias crianças que dela participaram, ao permitir a comunicação de sentimentos, angústias e necessidades. Para que essa comunicação ocorresse, pode ser destacada a importância do estabelecimento de uma relação de confiança entre pesquisador e participante, a partir da empatia e de uma postura que pudesse transmitir segurança, considerando a natureza da pesquisa e as possíveis vulnerabilidades dos participantes.

Brincar com as crianças possibilitou que elas se sentissem confiantes para falar ainda sobre questões pertinentes a sentimentos relacionados a outras áreas da vida familiar. Esse espaço construído pela dupla criança-pesquisadora pareceu ter sido valorizado por elas, afinal, todas solicitaram que os encontros continuassem. A partir do fortalecimento do vínculo e da confiabilidade, por exemplo, os participantes puderam se sentir tranquilos o suficiente para

demonstrar suas ansiedades e dúvidas, sobretudo relacionadas ao diagnóstico do irmão. Essas crianças, dessa forma, utilizaram do espaço construído no contexto da pesquisa para sanar dúvidas, expressar sentimentos e acolher angústias.

Todos os aspectos abordados na pesquisa reforçam a necessidade de que outros espaços e momentos, especialmente estruturados como intervenções, sejam propiciados a essas crianças. Obter informações, compartilhar experiências com pessoas que passam por situações semelhantes e sentir-se acolhido permite à criança, que possui um irmão com deficiência, a construção da relação fraterna como uma experiência enriquecedora.

A pesquisa evidenciou, além disso, que crianças possuem capacidade de expressar suas experiências subjetivas. Incentiva-se, dessa forma, que mais pesquisas sejam realizadas com o intuito de ouvir a criança, tanto para o cuidado de questões próprias à infância, quanto em caráter preventivo, ao considerar que, com esse trabalho, é possível prevenir dificuldades na vida adulta.

Além disso, a partir dos resultados da pesquisa é possível promover reflexões acerca dos processos de cuidado, auxiliando instituições que atendem pessoas com deficiências a conhecerem as necessidades dos irmãos desses indivíduos e promoverem estratégias para o cuidado a eles, visando promover saúde e facilitar a continuidade de seu desenvolvimento. A saúde mental de cada membro da família individualmente e da família como um todo influencia diretamente no indivíduo que possui uma deficiência.

6. Referências

Amiralian, M. L. T. M. (2003). Deficiências: um novo olhar. Contribuições a partir da psicanálise winnicottiana. Estilos da Clínica, 15 (8).

Arnold, C. K.; Heller, T.; & Kramer, J. (2012). Support Needs of Siblings of People with Developmental Disabilities. IntellectualandDevelopmentalDisabilities, 50(5): 373-82. Bardin, L. (1977). Análise de Conteúdo. 4ª ed. (2011). São Paulo: Edições 70.

Bellin, M. H.; Kovacs, P. J.; & Sawin, K. J. (2008). Risk and protective influences in the lives of siblings of youths with spina bífida. Health & Social Work, 33 (3): 199-209.

Buscaglia, L. F. (2006). Os deficientes e seus pais: um desafio ao aconselhamento. Rio de Janeiro: Record.

Cezar, P. K.; & Smeha, L. N. (2016). Repercussões do autismo no subsistema fraterno na perspectiva de irmãos adultos. Estudos de Psicologia (Campinas), 22(1): 51-60.

Dew, A.; Balandin, S.; & Llewellyn, G. (2008). The Psychosocial Impact on Siblings of People with Lifelong Physical Disability: A Review of the Literature. Journal of Developmental & Physical Disabilites, 20: 485-507.

Dias, E. O. (2000) Winnicott: agressividade e teoria do amadurecimento. Natureza Humana, 2(1); pp. 9-48.

Dias, E. O. (2008). A teoria winnicottiana do amadurecimento como guia da prática clínica. Natureza Humana, 10 (1): 29-46.

Franco, V. (2016). Tornar-se pai/mãe de uma criança com transtornos graves do desenvolvimento. Educar em Revista, Brasil, n. 59, pp. 35-48.

Goldsmid, R.; & Féres-Carneiro, T. (2007). Relação Fraterna: Constituição do Sujeito e Formação do Laço Social. Psicologia USP, 22 (4): 771-787.

Huang, I. T.; Ososkie, J.; & Hsu T.H. (2011). Impact on Marital and Sibling Relationships of Taiwanese Families Who Have a Child with a Disability. Journal of Comparative Family Studies, 42 (2): 213-232.

Kroeff, P. (2012). A Pessoa com Deficiência e o Sistema Familiar. Revista Brasileira de Terapia de Família, 4 (1): 67-84.

Lei n. 13.146, de 6 de julho de 2015.(2015). Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Brasília.

Lizasoáin, O.; & Onieva, C. E. (2010). Um estúdio sobre lafratríaante laDiscapacidad Intelectual. Intervención Psicossocial, 19, (1): 89-99.

Loureto, G. D. L.; & Moreno, S. I. R. 2016. As relações fraternas no contexto do autismo: um estudo descritivo. Revista Psicopedagogia, 33 (102): 307-318.

Messa, A. A.; & Fiamenghi Jr., G. A. (2010). O impacto da deficiência nos irmãos: histórias de vida. Ciência & Saúde Coletiva, 15(2): 529-538.

Moyson, T.; & Roeyers, H. 2012. ‘The overall quality of my life as a sibling is all right, but of course, it could always be better’. Quality of life of siblings of children with intellectual disability: the siblings’ perspectives. JournalofIntellectualDisabilityResearch, 56 (1): 87- 101.

Navarausckas, H. B., Sampaio, I. B., Urbini, M. P., & Costa, R. C. V. 2010. "Ei, eu também estou aqui!": aspectos psicológicos da percepção de irmãos frente à presença de uma criança com paralisia cerebral no núcleo familiar. Estudos de Psicologia, 27(4): 505-513.

Nunes, C. C., & Aiello, A. L. R. (2008). Interação entre irmãos: deficiência mental, idade e apoio social da família. Psicologia Reflexão e Crítica, 21 (1): 42-50.

Pereira, A. P. A.; & Fernandes, K. F. (2010). A visão que o irmão mais velho de uma criança diagnosticada com Síndrome de Down possui da dinâmica de sua família. Estudos e Pesquisa em Psicologia, 10 (2): 507-529.

Pereira-Silva, N. L. P.; & Almeida, B. R. (2014). Reações, sentimentos e expectativas de famílias de pessoas com necessidades educacionais especiais. Psicologia e Argumento, 32 (79): 111- 122.

Petean, E. B. L.; & Suguihura, A. L. M. (2005). Ter um irmão especial: convivendo com a Síndrome de Down. Revista Br. de Educação Especial, 11(3): 445-460

Piaget, J. (1991). Seis estudos de psicologia. Rio de Janeiro: Forense.

Rodrigues, M. N.; & Silva, A. L. (2015). Impacto do Nascimento de um Filho com Trissomia 21: Perspectiva de Casais Idosos Portugueses. Perspectiva Enfermagem, 19 (2): 54-67.

Sá, S. M. P. (2015). A presença da pessoa com deficiência na família: com a palavra, o irmão. (Tese de Doutorado). Universidade Católica do Salvador. Salvador, BA, Brasil.

Serralha, C. A. (2011). A ética do cuidado e as ações em saúde e educação. Winnicott e- prints, 6(1), 15-36.

Serralha, C. A. (2016). O ambiente facilitador Winnicottiano: teoria e prática clínica. Curitiba. Editora CRV.

Silva, S. C.; & Dessen, M. A. (2014). Relações Familiares na Perspectiva de Pais, Irmãos e Crianças com Deficiência. Revista Brasileira de Educação Especial, 20 (3): 421-434. Trinca, W. (1997). Apresentação e aplicação. In Trinca, W. (Org.)Formas de investigação clínica

em psicologia. São Paulo: Vetor, pp. 11-34.

Winnicott, D. W. (1966). A criança e seu mundo (A. Cabral, trad.). Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar. Winnicott, D. W. (1975) O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago (Obra original publicada

em 1971).

Winnicott, D. W. (1983). Distorção do ego em termos de verdadeiro e falso self. In: Winnicott, D. W., O ambiente e os processos de maturação: estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional. Porto Alegre: Artmed, 128-139 (Obra original publicada em 1960).

Winnicott, D. W. (1984). Consultas terapêuticas em psiquiatria infantil. Rio de Janeiro: Imago (Obra original publicada em 1971).

Winnicott, D. W. (1994) A experiência mãe-bebê de mutualidade. In: Winnicott, C.; Shepherd, R.; & Davis, M. (Org.) Explorações Psicanalíticas: D. W. Winnicott. Porto Alegre: Artes Médicas (Obra original publicada em 1971).

Winnicott, D. W. (1996) O conceito de indivíduo saudável. In: D. W. Winnicott (1996). Tudo começa em casa, pp. 17-30. São Paulo: Martins Fontes. (Obra original publicada em 1967).

Winnicott, D. W. (1999). O Conceito de falso self. In: Winnicott, D. W., Tudo começa em casa. São Paulo: Martins Fontes, 53-58 (Obra original publicada em 1964).

Winnicott, D. W. (2005). Privação e delinquência. São Paulo: Martins Fontes (Obra original publicada em 1984).

Winnicott, D.W. (2011). Crescimento e desenvolvimento na fase imatura. In: D. W. Winnicott, A Família e o Desenvolvimento Individual (pp. 29-41). São Paulo: Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1950).

Winnicott, D. W. (2011). Família e maturidade emocional. In: D. W. Winnicott, A Família e o Desenvolvimento Individual (pp. 129-138). São Paulo: Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1960).

Werlang, B. G. (2009). Entrevista Lúdica. In: Cunha, J. A. (Org.). Psicodiagnóstico V.5 ed. Porto Alegre: Artmed, pp. 94 – 104.

Yamashiro, J., A; & Matsukura, T., S. (2013). Irmãos mais velhos de crianças com deficiência e de crianças com desenvolvimento típico: cotidiano e relacionamentos fraternos. Rev. Ter. Ocup. Univ. São Paulo, 24(2): 87-94.

Tozer, R.; & Atkin, K. (2015). ‘Recognized, Valued and Supported’? The Experiences of Adult Siblings of People With Autism Plus Learning Disability. Journal of Applied Research in Intellectual Disabilities, 28 (4): 341-351.

Documentos relacionados