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Nosso estudo teve como escopo desvendar como as práticas pedagógicas intencionais proposta pelas educadoras do Departamento de Educação Infantil (DEI) do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada a Educação (CEPAE) da Universidade Federal de Goiás (UFG), contribuem para a construção da linguagem corporal das crianças. Assim, após um período de observação, levantamento e análise dos dados cinco categorias emergiram: Movimento Autonomia, Movimento Atividades Livres, Movimento Música, Movimento Brincadeira Orientada e Movimento Passeio. Após estudo reflexivo de tais categorias compreendemos o Movimento como linguagem, linguagem que entendemos ganhar vida nas atividades propostas pelas educadoras do DEI, pois segundo Ehrenberg (2014), a criança ao jogar, ao dançar, ao brincar se comunica e transforma em linguagem o movimento humano. Deste modo, nosso estudo, apresentou elementos que indicam que as atividades intencionais propostas pelas educadoras do DEI contribuem significativamente para o desenvolvimento da linguagem corporal das crianças.

Durante nossa investigação constatamos que as educadoras do DEI proporcionam e valorizam momentos nos quais as crianças demonstram atitudes independentes. Além de criar situações nas quais as crianças são desafiadas e incentivadas a desenvolverem sua autonomia, garantindo espaço para que as mesmas possam expor suas ideias e opiniões, gerando assim um ambiente profícuo ao aprimoramento da linguagem tanto corporal, quanto oral.

São assegurados também momentos nos quais as crianças podem propor e vivenciar “atividades livres” e espontâneas, tais momentos oportunizam a vivência de ricas experiências que contribuem para o desenvolvimento da criatividade, do companheirismo, do aprimoramento de habilidades motoras e também favorecem a integração das crianças, gerando situações nas quais as mesmas ao precisarem se comunicar para expressar suas ideias, opiniões e resolver conflitos exercitam tanto à linguagem oral quanto a corporal e ampliam assim as possibilidades do uso significativo de gestos e expressões corporais.

Vale ressaltar que a intencionalidade, que se faz presente em todas as vivências propostas pelas educadoras do DEI, torna o aprendizado mais significativo na medida em que a criança explora as possibilidades de raciocínio, movimento, controle motor, enfim, todos os aspectos coordenados de que ela necessita para resolver as situações propostas, favorecendo, assim, a descoberta de potencialidades e a superação de limites, gerando autoconfiança e consciência corporal dos movimentos a serem realizados para superar os desafios propostos. Destacam-se também as vivências que garantem que as crianças tenham a oportunidade de

ampliar sua visão de mundo, principalmente por terem a possibilidade de conhecer e interagir com ambientes diversificados.

Vale ressaltar que consideramos que a linguagem se configura através de diversas formas de comunicação e expressão, tais como a pintura, o poema, a escultura, bem como todos os elementos da cultura corporal. Assim, concordamos com Ayoub (2001) que nos diz que a expressão corporal caracteriza-se como uma das linguagens fundamentais a ser trabalhada na infância. A riqueza de possibilidades da linguagem corporal revela um universo a ser vivenciado, conhecido, desfrutado, com prazer e alegria. Nas vivências observadas no DEI percebe-se a nítida preocupação e a valorização de atividades que proporcionam às crianças o conhecimento do corpo e o desenvolvimento da linguagem corporal. Ao entrevistarmos uma das educadoras sobre o assunto ela esclarece que:

As atividades planejadas têm como objetivo conhecer, identificar e cuidar do próprio corpo, favorecendo por meio dos diversos movimentos corporais o desenvolvimento motor que possibilite as crianças a se expressarem por meio de diferentes linguagens principalmente através da brincadeira (DIÁRIO DE CAMPO, 30/04/2015).

Assim, acreditamos que resultados significativos na Educação Infantil são decorrentes de ações intencionais presentes na prática pedagógica dos educadores. Para Mello (2001), essa intencionalidade da ação pedagógica permite aos educadores visualizarem de uma maneira mais clara e abrangente, os objetivos a serem atingidos e toda a situação em si. Com isso, os objetivos educacionais poderão ser vinculados às reais necessidades das crianças, sem tornar a atividade desmotivadora.

Embora o DEI realize um trabalho de excelência, como apresenta os resultados desse estudo, percebemos limites que impedem a realização de um trabalho ainda mais qualificado. Concordamos com o PPP do departamento quando indica que a constituição de um quadro efetivo de educadores é o maior desafio na atualidade.

No momento o quadro de professoras efetivas é pequeno, de acordo com o projeto de trabalho semestral/anual intitulado “Sustentabilidade, Tecnologias e Educação Infantil”, corresponde há aproximadamente 25% de toda a equipe pedagógica, a qual é composta por professoras bolsistas, professoras substitutas, estagiários, além das próprias professoras efetivas. Acreditamos que a ampliação do número de professores efetivos geraria expressiva consolidação da proposta pedagógica qualificando ainda mais o trabalho desenvolvido junto às crianças matriculadas no DEI.

Outro limite observado advém da alta carga horária de ensino dos professores (30 horas/aula por semana) que acaba tornando precários os momentos de orientação e supervisão

dos estagiários e professores bolsistas. Percebemos que o acompanhamento dos estagiários, no nosso caso na modalidade obrigatória, embora tenha sido realizado da melhor forma possível, deixou muito a desejar, pois as condições de trabalho às quais as educadoras são submetidas não possibilitou um adequado acompanhamento, limitando assim a possibilidade de um trabalho integrado e interferiu significativamente no planejamento e nas ações dos estagiários. Vale ressaltar que durante nosso período de está

gio obrigatório ocorreram raros momentos nos quais tivemos as educadoras a nossa disposição para esclarecermos dúvidas quanto ao nosso planejamento.

Contudo, mesmo com as limitações apontadas anteriormente, constatamos que a proposta pedagógica do DEI, materializada nas vivências propostas pelas educadoras tem contribuído de forma significativa para o desenvolvimento da linguagem corporal das crianças.

Todavia, pensando na Educação Infantil, sabemos que algumas questões ainda necessitam de aprofundamento, tais como: a concepção de Movimento e de conteúdo apresentados em outras propostas pedagógicas, a importância da mediação do educador, a intencionalidade do educador, o papel do professor de Educação Física, a necessidade de uma equipe multidisciplinar, entre outras. Entretanto, uma das intenções deste estudo é instigar outras pesquisas, em busca de respostas que viabilizem uma melhor articulação entre teoria e prática na Educação Infantil.

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