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A questão do território vem conquistando cada vez mais importância nos estudos sobre pobreza e vulnerabilidade social, visto que é indispensável o conhecimento do mesmo para compreender as transformações dos territórios vulneráveis, identificando-os como localidades que são mutáveis de acordo com aqueles que nele habitam. Diante disso, é imprescindível a compreensão que espaço é aquilo que antecede o território. Há também que se considerar que embora se completem, território e territorialidade possuem natureza diferenciada, uma vez que primeiro delimita o espaço e o outro a maneira de se viver no dentro do determinado território.

Delimitada as referidas categorias, buscou-se o cruzamento destas com a categoria vulnerabilidade social, na perspectiva de se pensar o território vulnerável enquanto espaços segregados e com déficits em termos de “geografia de oportunidades”, que incidem sobre as ofertas de bens e serviços e a formação do capital social, humano e cultural.

Refletir como a vulnerabilidade ante a pobreza incide sobre os riscos sociais e se a dinâmica familiar monoparental feminina pode ser considerada um arranjo em risco, fez parte da proposta ora apresentada. Diante da diversidade de arranjos familiares em curso, na cena contemporânea, o intuito não foi problematizar sobre o arranjo ideal, mas sobre algumas das variáveis sociais que ao agir sobre eles os tornam mais vulneráveis socialmente e os colocam na posição daqueles que são o perfil da PNAS.

50 Há uma tendência, na própria literatura, de se considerar os arranjos familiares monoparentais femininos os mais propensos às situações de vulnerabilidade e risco, devido a conciliação da vida privada a pública sem parceria no cuidado com filhos, agregado aos impactos de raça, classe e gênero.

Por outro lado, pode-se observar, na aproximação com a realidade das famílias no CRAS do Parque Esplanada, o quanto a existência de redes de proteção próxima ou primária corroboram no enfrentamento da vulnerabilidade e redução dos riscos social, principalmente se estas famílias contarem com a rede de proteção secundária via programas sociais. Essas redes se complementam, ainda que a rede secundária se constitua um direito que deve ser ofertado e de possuir maior alcance em termos de efetividade frente as demandas destas famílias. Classificadas como de proteção primária, a rede comunitária é formada por parentes, amigos e vizinhos enquanto a secundária, engloba a rede de serviços públicos, onde saúde, educação e assistência se destacam.

Sendo assim, apesar da ideia difundida em torno de maior vulnerabilidade ser conferida da família monoparental feminina, isso não pode ser afirmado, uma vez que ao término deste trabalho identificamos que as redes de entreajuda e o programa de transferência de renda, atuam nas inseguranças e desproteção social destas famílias minimizando seus impactos, sobretudo aquele que o conduz ao risco social.

Em suma, cabe ao profissional expandir seus conhecimentos sobre o assunto, buscando fugir das ações imediatistas, burocráticas e repetitivas com o objetivo de identificar e intervir nas demandas que se colocam a partir da realidade do sujeito e da demanda do território que este é parte e produto.

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