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“Trabalhar remete a aprender a trabalhar, ou seja, a dominar progressivamente, os saberes necessários à realização do trabalho.”

83 CONSIDERAÇÕES FINAIS

À

luz de todo o caminho percorrido para a realização deste estudo até os resultados encontrados, pôde-se traçar as reflexões mais relevantes que poderão contribuir para um novo olhar para a prática do fisioterapeuta na atenção básica.

Historicamente, esta prática científica nasceu e se desenvolveu sob uma ótica reabilitadora, mas a possibilidade de inserção no nível básico de atenção vem impondo, no mínimo, um movimento para um alargamento desta atuação; hoje o fisioterapeuta vislumbra novos caminhos e possibilidades para o enfrentamento das demandas sociais neste nível de atenção. Em especial no Município de Niterói, onde a ESF encontra-se em fase de construção, foi possível pela observação e prática da pesquisadora e por meio dos depoimentos dos participantes, traçar um rol de desafios que serão transpostos paulatinamente, na medida em que, acredita-se, os profissionais , os gestores, demais profissionais de saúde e usuários, conscientizarem-se do valor da prevenção e promoção da saúde que a Fisioterapia hoje agrega.

Passos bastante importantes já foram dados pelos órgãos competentes que fundamentam a profissão. As políticas públicas já reconhecem a importância da inserção do fisioterapeuta nos programas de atenção básica e as diretrizes curriculares para o curso de fisioterapia já contemplam as ferramentas na formação para atender a essas novas competências do profissional fisioterapeuta. É preciso, entretanto, que essas conquistas se efetivem e este estudo possibilitou o reconhecimento dos principais focos onde este mudança precisa acontecer na prática.

A prática do profissional fisioterapeuta no município de Niterói, mesmo os que desenvolvem alguma ação na atenção básica, ainda está, em vias de regra ,atrelada à cura e reabilitação. Porém observa-se um movimento de mudança por parte de alguns profissionais. Estes adotam posição de enfrentamento com ações que, mesmo isoladas, provocam reflexões: são aconselhamentos posturais feitos individualmente nos consultórios ou participações em palestras em grupos focais da unidade, como gestantes, hipertensão, etc. Cabe aqui uma questão: por que o fisioterapeuta não compõe a equipe formadora desses grupos? Pôde-se constatar

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com este estudo que há uma via de mão dupla que , de certa forma, mantém esta distância entre o fisioterapeuta e as equipes da atenção básica: se por um lado o profissional não busca capacitação e não se disponibiliza para as ações , por outro ele também não é lembrado para participar dos programas de educação permanente e tão pouco de forma efetiva nos programas de prevenção e promoção da saúde.

Em relação ao reduzido interesse dos profissionais pode-se verificar que muitos dos fisioterapeutas inseridos nas policlínicas de Niterói tiveram sua formação concluída antes da implementação das DCNs em 2002, sendo a primeira lacuna já percebida na formação que se mantinha fiel a forma curativista-reabilitadora. Aqueles formados após 2002, quando havia obrigatoriedade de estágio no SUS, ainda assim tiveram a prática totalmente focada na reabilitação. E quanto à busca por capacitações não optaram por aquelas que contemplassem a saúde pública , já que neste campo não eram (ou não são) valorizados. Para isto, contribui e reforça também, o não reconhecimento pelo COFFITO de especializações em saúde pública.

Em relação ao incentivo por parte da gestão e pares , a falta de visibilidade do fisioterapeuta deve-se ao desconhecimento das reais competências deste profissional. O entendimento sobre a sua prática atrelada a um tratamento é profundamente marcante . É preciso considerar que a fisioterapia é uma prática científica jovem, que ganhou status justamente por ser, eminentemente reabilitadora; logo, desenvolver uma consciência no profissional para que ele seja agente desta mudança requer tempo e revisão das estratégias de ações.

A realização da oficina como produto deste estudo objetivou criar espaço de reflexão e assim, convidou para participar da mesma os fisioterapeutas e gestores das Policlínicas de Niterói. Chamados a repensar suas práticas estes atenderam ao convite e trouxeram à tona discussões acerca dos seus cotidianos profissionais. Com a presença de gestores, coordenadores e de profissionais fisioterapeutas , pode-se fazer algumas constatações : o numero reduzido de profissionais presentes apesar de terem sido liberados pelo gestor central coordenador do serviço de fisioterapia em Niterói; o foco dos debates que se manteve centrado na reabilitação, com cobrança de aporte de equipamentos nos serviços, melhoria de infraestrutura para tratamento, apesar da facilitadora pontuar a questão das ações

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de prevenção e promoção da saúde. Verificou-se, mais uma vez, que a maior resistência para a reorientação da prática pode estar no próprio profissional, haja vista que os demais participantes teve cada qual uma ação disparada a partir da realização desta oficina: como já destacado anteriormente a gestora de uma unidade básica disponibilizou um espaço para a realização de um projeto de autocuidado e reeducação do comportamento corporal para alívio dos desconfortos nas alterações musculoesqueléticas, idealizado pela pesquisadora, que já está em andamento. Este projeto conta com a participação de estagiários do curso de fisioterapia; após cinco anos sem reuniões, o coordenador de fisioterapia convocou os fisioterapeutas e, junto com a coordenadora do departamento de divisão técnica e metodológica, propôs o projeto “Nossas Práticas”. Este, reforçando mais uma vez o êxito do produto proposto, pois apesar da idéia ja existir a partir dele foi efetivada , consiste, dentre outras coisas, em reuniões para que os profissionais fisioterapeutas possam compartilhar suas práticas com seus colegas de equipe, conforme preconizado no SUS.

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REFERÊNCIAS

“A experiência prova, assim, um efeito de retomada crítica (retroalimentação) dos saberes adquiridos antes ou fora da prática profissional. Ela filtra e seleciona os outros saberes [...]”

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APÊNDICES

“Não existe arte sem técnica, e a arte atua a partir do domínio das técnicas próprias a um ofício.”

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