Dada afirmação de Amihud e Mendelson (1986) de que a liquidez é um atributo fundamental do mercado financeiro por estar atrelada aos custos de transação e por esse motivo afeta a tomada de decisão dos investidores de mercado, o objetivo desse trabalho foi estudar o comportamento temporal da liquidez no mercado acionário brasileiro tendo por base as 100 ações pertencentes ao IBrX no período de janeiro de 2000 a agosto de 2016. Para isso utilizamos como proxies para a liquidez e iliquidez: o Volume Financeiro, o Número de Trades, o Valor de Mercado (Market Cap), o Turnover, o Spread e Índice de Iliquidez de Amihud (2002). As variáveis dummies para Investment Grade, Non‐Investment Grade e Sem Classificação de Crédito foram também utilizadas. Para o estudo da amplitude dos retornos, por meio de regressões múltiplas utilizando o método de dados em painel em efeito fixo foi possível concluir que tanto as medidas de liquidez como as medidas de iliquidez envolvidas no estudo são significantes na explicação da variação nos retornos dos ativos. O Volume Financeiro foi retirado após a primeira regressão devido sua correlação ser alta com Número de Trades, a diferença é que um é multiplicado pelo preço e outro não. No caso das variáveis Turnover e Número de Trades não ficou comprovada a relação negativa com a amplitude do retorno como era esperado na regressão utilizando toda a janela de dados. Com relação ao Market Cap, foi comprovado que a sua relação com a amplitude do retorno é realmente negativa, da mesma forma o
Spread também comprovou sua relação positiva como era esperado inicialmente.
Com o objetivo de verificar o comportamento dessas variáveis durante o tempo, outas 11 regressões com janelas de tempo de 6 anos para as 10 primeiras e 5 anos e 8 meses para a última foram realizadas nessa parte do estudo. Dessa maneira, foi possível confirmar a literatura e afirmar que o efeito da liquidez não é constante durante o tempo pela análise das regressões de janelas diferentes, comparando os seus coeficientes, suas significâncias e a evolução deles durante o tempo. Dessa forma, podemos comprovar que a análise realizada anteriormente depende da janela utilizada, já que os coeficientes oscilaram em sinal e significância.
Para o segundo estudo realizado, verificamos o movimento de Flight to
Quality/Liquidity em momentos de crise através das variáveis dummies que representam
dependentes utilizamos a Iliquidez de Amihud (2002), o Spread e o Turnover. Através de 27 regressões, foi possível comparar em 3 períodos de crise distintos (2003, 2008 e 2014) o comportamento das variáveis.
Os resultados obtidos se mostraram diferentes nas 3 crises. Para 2003 não obtivemos nenhum resultado relevante para o objetivo. A possível explicação para isso é a baixa quantidade de empresas nas categorias estudadas. Nessa época, o mercado de ações brasileiro ainda não era tão desenvolvido como nos períodos seguintes. Na crise causada pela quebra do Lehman Brothers, 2008, os resultados se mostraram mais condizentes com o esperado, porém apenas para variável Turnover foi possível confirmar a significância da classificação de risco. Quando executamos o estudo para 2014 obtivemos resultados mais sólidos no que concerne ao objetivo traçado. A grande maioria dos coeficientes se mostraram significativos. No caso das variáveis de classificação de risco, estas se mostraram aderentes à literatura com os sinais dos coeficientes respeitando a relação com variáveis de liquidez ou iliquidez. Assim, podemos dizer que existe relação entre a medida de liquidez
Turnover e a medida de Iliquidez de Amihud (2002) com a classificação de risco atribuída às
ações.
Os estudos atingiram seus objetivos iniciais, no caso da variação do retorno foi possível relacionar diversas variáveis de liquidez e iliquidez em variadas janelas de tempo nos últimos quase 17 anos. Foi demonstrado que essas proxies possuem relação e essa por sua vez oscila durante os momentos de turbulência e ciclos econômicos do mercado. Sobre o Flight to Quality/Liquidity, da forma com que o estudo foi desenhado, foi possível demonstrar que a classificação de crédito produzida pelas agências de risco externas adiciona informação privada na tentativa de redução da assimetria de informação dos investidores em períodos turbulentos e por final geram uma redução nos custos de liquidez.
Por fim, como sugestão de pesquisa para próximos trabalhos, recomenda‐se que outros fatores como a política de dividendos, a qualidade das informações publicadas, as estruturas de propriedade das companhias e múltiplos de valuation sejam considerados em análises futuras. A recomendação serve tanto para os casos de relação entre retorno com liquidez como liquidez com classificação de risco. Adicional a isso medidas intradiárias poderiam ser base para futuros estudos.
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