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Os cordões litorâneos são evidências de trangressões e regressões marinhas e formam patamares mais recentes que os encontrados a montante. Correlacionando-as com os níveis altimétricos dos terraços fluviomarinhos e com a indicação de que o continente sofreu epirogênese positiva epicíclica, não impedindo que os momentos de submersão da costa devido aos movimentos eustáticos. Estes eventos foram de tamanha magnitude que mesmo os movimentos de ascensão costeira posteriores não conseguiram fazer desaparecer os aspectos impressos no litoral (Silveira, 1962). O resultado da datação absoluta coletada a 70 centimetros de profundidade no cordão litorâneo (amostra CL indicada na figura 18) foi de 500 anos com desvio padrão de 65 anos e corrobora com as evidências geomorfológicas e pedológicas de variações eustáticas holocênicas conforme apresentado. A pulsacões climáticas estão relacionadas a eventos de curta duração, ciclos máximos de 2.000 anos, ocorridos em escala de tempo recente da Natureza, nos últimos 10.000 anos do Holoceno.

Nas camadas com maior presença de argila, a CTC é mais elevada, pois o coloide possui maior capacidade de adsorver íons positivos como cálcio, potássio e magnésio. O perfil de terraço M1 (Tabela 11) tem pouca matéria orgânica presente na cobertura do solo e uma influencia marinha majoritária, apresentando uma menor CTC e pouca saturação por bases, demonstrando um solo bastante lixiviado e intemperizado. O terraço FM2 tem uma maior cobertura vegetal com gramineas, arbustos e demais extratos característicos da Mata Atlântica e apresenta menor CTC nos horizontes arenosos. O nivel geomorfológico F1 tem maior saturação por bases e CTC moderada. O terraço fluvial tem baixa presença de argila nos horizontes superficiais, apesar de estar numa área que atualmente não sofre influência direta do mar. O rio Jequitinhonha dissecou verticalmente o relevo, demonstrando um canal fluvial encaixado no subsídio litológico do Grupo Itapetinga. Já os terraços fluviais e marinhos são depósitos marinhos e continentais costeiros que estão numa área em contato com o Grupo Barreiras, onde o rio se desenvolve horizontalmente em relacão ao relevo. Vale ressaltar que as CTCs e V% apresentadas não devem ser diretamente comparadas entre as superfícies geomorfológicas, pois são de transectos diferentes. Entretanto, são bases para o grau de intemperismo dos horizontes e o tempo das superfícies geomorfológicas apresentadas.Estes índices servem para caracaterização do terraço e comparacão entre seus horizontes. Essa paridade ocorre devido ao fato de solos menos expostos ao intemperismo e processos pedogeneticos apresentarem menor saturação por bases e capacidade de troca de cátions.

A metodologia se mostrou importante para identificação e caracterização dos baixos terraços da bacia hidrográfica do rio Jequitinhonha (BA), apontando para uma correlação de pulsações climáticas holocênicas quente/úmido e quente/seco com deposição de aluviões em horizontes dos solos intercalados com material arenoso proveniente de processos deposicionais marinhos e eólicos relacionados ao movimento eustático (regressão e transgressão). As pulsações climáticas holocênicas estão relacionadas com a deposição de massas de areias descontínuas que foram retrabalhadas e transformadas em áreas de restingas e cordões litorâneos com diferentes patamares, evidenciando a oscilação eustática e a mudança climática.

As idades dos períodos deposicionais (Figura 33) do ponto FM1 e do ponto FM4 quando comparadas com os dados morfométricos de deslocamento do canal fluvial, corroboram com o deslocamento do rio que ocorre no sentido da margem esquerda da bacia hidrográfica, ou seja, para o Norte. Este é um processo que provavelmente começou no Pleistoceno e ocorreu durante todo o Holoceno. Porém, o ponto FM2 está na mesma margem que o ponto FM1, mas aponta um período deposicional muito mais recente, de menos de 300 anos. Isto pode ser um indício de que este processo aconteceu de maneira conturbada, vide outras evidências de desequilíbrio energético apresentadas como, por exemplo, metamorfose da formação deltaica e o deslocamento horizontal do canal fluvial, e as coberturas superficiais dos terraços tenha sido retrabalhadas e expostas novamente a luz durante o Holoceno.

De acordo com os dados analisados do baixo curso do rio Jequitinhonha (BA), esta porção da bacia parece demonstrar dois períodos distintos de equilíbrio energético: um período mais estável, com gradiente energetico fluvial mais intenso, que provavelmente se extendeu até a metade do Pleistoceno; um período mais instável, de desequilíbrio energético, parece ter iniciado no final do Pleistoceno. Por volta de 1.500 anos A.P., os eventos regressivos marítimos que se iniciaram neste momento modificaram a paisagem e o padrão de drenagem. O fato da desembocadura do canal fluvial ser estreita, se comparada o porte de toda a bacia hidrográfica, e mais elevada que o entorno pode estar relacionada com o período anterior que o rio tinha mais potencial hidraulico e depositava os sedimentos ao longo da plataforma continental, pode estar relacionado com a transição destes dois momentos energéticos da bacia hidrográfica, expondo e relacionando os períodos deposicionais com os movimentos eustáticos do Quaternário brasileiro.

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ANEXO

Anexo A – Resultados das análises químicas dos baixos terraços do rio Jequitinhonha (BA). Anexo B – Diagrama textural do ponto CL.

Anexo C – Diagrama textural do ponto F1.

Anexo E – Diagrama textural do ponto FM2.

Anexo G – Diagrama textural do ponto FM4.

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