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As considerações finais deste trabalho remetem à limitação das Unidades de Conservação em garantir a manutenção da biodiversidade e serviços ecossistêmicos enquanto as demais áreas do território são degradadas pela via do “imperativo desenvolvimentista.” A análise dos paradigmas - desenvolvimento, produção agrícola moderna e científica - aplicados às políticas destinadas ao fomento das atividades produtivas vem negligenciando a sustentabilidade ambiental devido à sobreexploração e ao comprometimento da resiliência dos ecossistemas.

Pode-se perceber que a legislação vigente, responsável pela regulamentação e gestão do uso dos elementos naturais, foi claramente influenciada por estes paradigmas, o que dá indícios da dubiedade do papel do Estado que ao mesmo tempo em que fomenta a degradação implementa medidas para minimizá-las.

A análise histórica do processo de estruturação da atividade sulcroalcooleira no Nordeste brasileiro permite avaliar que a Mata Atlântica tem sido negligenciada pelos mecanismos destinados à expansão e modernização do cultivo. No mundo do açúcar, esta floresta sempre foi considerada um entrave para o desenvolvimento e foi destruída, inclusive, por meio de incentivos e subsídios estatais. O fato dela não ter sido, por vários anos, contemplada nas estratégias e políticas destinadas à conservação do bioma permite inferir que os interesses políticos e econômicos também exerceram um papel bastante relevante neste cenário.

Em busca do ideal da modernização e do desenvolvimento do setor sulcroalcooleiro, o Estado tem sido negligente ao tratar os impactos sociais e ambientais gerados pela expansão das atividades produtivas como externalidades, ou seja, como desvios do sistema produtivo, passíveis de resolução por meio do uso racional dos elementos naturais. O agravamento das injustiças socioambientais denuncia que as estratégias destinadas à sedimentação do modelo produtivo são incapazes de promover a sustentabilidade.

A análise do panorama atual das instituições do Estado de Pernambuco demonstra que a fragmentação histórica das políticas públicas contribui para agravar a situação do bioma na medida em que promove ações completamente desarticuladas, como é o caso dos assentamentos rurais implementados sem nenhum tipo de licenciamento ambiental no

110 município de Tamandaré. A ausência de diálogo entre o INCRA, órgão de Estado responsável pela criação destas áreas e a CPRH, IBAMA e ICMBIO, os órgãos responsáveis pela gestão ambiental, serve como indício para apontar como os aspectos sociais, econômicos e ambientais são tratados de maneira fragmentada nas esferas do poder público o que acaba por agravar ainda mais o quadro de insustentabilidade socioambiental instaurado.

No que diz respeito ao Conselho Consultivo da Reserva Biológica de Saltinho, pode-se dizer que ele é inovador na medida em que propõe a gestão democrática da reserva e seu entorno. A composição deste conselho, pautada pela participação dos diferentes setores sociais presentes na região, inclusive os grupos historicamente excluídos do processo decisório, caso dos trabalhadores rurais e assentados, representa, sem dúvida, um grande avanço. Contudo, como apontado por Mussi, (2007) a compatibilização dos diversos interesses e significados atribuídos ao mundo natural é o grande desafio deste tipo de mecanismo destinado à participação social. Neste sentido, é imprescindível que os representantes e gestores participem de cursos para qualificação técnica e política com o objetivo de identificar e lidar de maneira construtiva com os conflitos inerentes ao processo de tomada de decisão no que diz respeito à gestão ambiental na região. Outra questão fundamental é que esta ferramenta corre o risco de se tornar ineficiente à medida em esbarra nas limitações da estrutura estatal. Acserald, 2008, destaca que, a ambientalização truncada do Estado pode resultar em uma participação também truncada das instituições de gestão que contemplam a participação da sociedade. Os conselhos municipais, as secretarias de meio ambiente e outras instâncias destinadas à gestão ambiental de âmbito municipal são incipientes e desorganizadas. Desta forma, o conselho desta UC acaba sendo o único espaço onde podem ser denunciados e debatidos toda a problemática ambiental da região, o que compromete a sua produtividade porque multiplica o foco de suas atividades.

Todas estas observações demonstram o quanto é imprescindível o papel do Estado em reavaliar a maneira como a sociedade tem lidado com o mundo natural e promover alternativas mais sustentáveis de gestão. Ele deve ser a liderança intelectual que fomenta, induz e indica o caminho por meio de políticas públicas e mecanismos de gestão.

Diante do exposto, sugere-se que sejam implementadas estratégias voltadas à integração das diferentes esferas do poder público e que suas ações sejam pautadas por mecanismos

111 que possibilitem priorizar os aspectos ambientais, imprescindíveis para a sua efetividade a longo prazo.

No que diz respeito às instituições públicas responsáveis pela gestão ambiental é necessário que elas sejam estruturadas de maneira a descentralizar as responsabilidades. O fortalecimento das esferas municipais poderia ser interessante na medida em possibilitaria que as ações de gestão se pautassem pelos aspectos regionais.

Paralelamente devem ser traçadas estratégias que promovam um olhar mais crítico dos cidadãos a respeito do projeto de “desenvolvimento” a que estão submetidos. O caminho para esta sensibilização está indubitavelmente ligado a uma educação ambiental política que fomente reflexões sobre as limitações desta estratégia de modernidade. É preciso que os cidadãos estejam conscientes de seu papel como agentes transformadores da realidade de injustiças socioambientais em que vivem e que isto depende diretamente da maneira como a sociedade tem lidado com a natureza.

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