• Nenhum resultado encontrado

Este estudo demonstra principalmente uma insatisfação dos trabalhadores com as estratégias e estilo de gestão adotado a partir da criação da Fundação Hospitalar de Saúde.

O estudo manteve como foco de pesquisa o impacto da implantação de um novo modelo de gestão da saúde pública, completamente novo desde a sua personalidade jurídica pública de direito privado quanto ao modelo de contratação de mão de obra e de relação com o próprio Governo, e seus impactos para as relações de trabalho e prestação de serviço.

O estudo constatou que a relação da FHS com o Governo do Estado de Sergipe passou a ser de prestador e tomador de serviços sucessivamente, e estabelecido através de contrato.

O desenvolvimento do trabalho explicitou uma insatisfação latente dos empregados, uma insatisfação predominante em trabalhar para FHS, o que caracteriza um clima organizacional ruim e permeado de conflitos. Um ponto importante sobre tudo a ser ressaltado é o reconhecimento da importância do emprego gerado a partir da realização de concurso público, independentemente do modelo de contratação seja pelo regime Estatutário, seja pelo regime Celetista.

A trajetória de implantação da FHS fora permeada por grandes desafios dentre os principais pode-se destacar a necessidade de criação a partir de Lei Ordinária aprovada pela Assembleia Legislativa do estado de Sergipe, portanto além da elaboração da lei, o desafio maior pautou-se no convencimento. Primeiramente foi necessário convencer o próprio Governador do Estado, logo em seguida fizeram- se necessárias diversas reuniões com os representantes do legislativo.

Feito o convencimento dos que aprovariam a lei, ainda era preciso convencer os Servidores que já trabalhavam na rede assistencial e os respectivos Sindicatos de Classes. Ainda assim o convencimento não foi fácil e alguns sindicatos e entidades da sociedade civil organizada não se convenceram acerca da qualidade da proposta, nem das estratégias a serem praticadas por esse novo instrumento de gestão.

Para reatar as críticas e ações movidas contra a criação das Fundações Públicas de Direito privado, a equipe de implementação montou o projeto de

implantação para convencer dos ganhos para os trabalhadores e para a sociedade em geral. Para convencimento dos trabalhadores o plano apresentava um Plano de Empregos, Carreiras e Salários, e um Programa de Avaliação de Desempenho que promovia avanços na carreira pela meritocracia, além da previsão de adesão a um plano de saúde e do desenvolvimento de um programa de previdência complementar e, a celebração de acordo coletivo de trabalho, como elementos principais de ganhos reais para os trabalhadores que aos poucos foram se convencendo e aceitando em sua grande maioria fazer parte deste no ente.

Vencido o preconceito da mudança fora iniciado efetivamente o processo de implantação, no percurso dessa trajetória vieram novos desafios dentre eles o curto prazo para realização de concurso público que com empenho da equipe de trabalho e mesmo com ação movida pela Ordem dos Advogados do Brasil foi possível realizar o referido concurso no prazo e com reconhecimento da sua importância e qualidade.

Outro grande desafio este até hoje provocando graves problemas e pondo em risco a construção do próprio projeto de Reforma Sanitária em Sergipe foi a incapacidade de financiamento e o próprio descumprimento do Contrato celebrado entre a FHS e a SES, não cumprindo os repasses de recursos e os prazos contratados, este fato impossibilitou que a FHS cumprisse com as premissas e justificativas da sua própria criação, como a perda da autonomia gerencial e financeira e a continuidade da falta de agilidade na aquisição de produtos e contratação de serviços.

As justificativas para a criação da FHS estavam exatamente sustentadas na necessidade da autonomia gerencial para garantir a agilidade e eficiência nas tomadas de decisão e na otimização de prazos para aquisição de Produtos e contratação de serviços, assim criando uma nova organização para assumir e operacionalizar toda Rede Hospitalar de Sergipe e o SAMU.

Realmente a FHS assumiu a gestão dos Hospitais que já existiam e também dos novos que foram construídos, mas não conseguiu cumprir com grande parte dos compromissos assumidos junto aos trabalhadores e a própria sociedade.

A FHS fora apresentada como essencial a Reforma Sanitária em Sergipe, e ela teve um papel essencial na reabertura de hospitais que se encontravam fechados, e na contratação de mão de obra efetiva via concurso público, porém a

perda de autonomia, a falta de eficiência na aquisição de materiais e medicamentos, o atraso no pagamento a fornecedores e o crescimento de uma dívida vultuosa, desconstruíram a imagem institucional e custou inclusive a mudança de todos os gestores tanto da SES quanto da FHS.

A pesquisa demonstrou que os trabalhadores já não reconhecem a FHS, principalmente pelo descasamento da proposta apresentada e do que realmente fora implantado, a exemplo do Plano de Empregos, Carreiras e Salários que não foi implantado e hoje é o ponto de maior conflito entre o próprio Governo do Estado e os trabalhadores.

Apesar de não ter sido o foco principal desta pesquisa, mas reconhecendo a importância de avaliação de um Novo Modelo de Gestão, pretendia-se fornecer subsídios mínimos para possível avaliação se o modelo escolhido realmente representa uma alternativa moderna e eficiente de gestão e se deveria ser seguida também por outros estados do Brasil.

Porém para que não se faça juízo de valor e se parta para condenação do modelo em si, concluímos que a experiência da FHS serve apenas como referência mas não como avaliação do modelo de Fundação Pública de Direito Privado para validação ou condenação, visto o número de equívocos muito mais pela que não fora feito ou concretizado.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Laíse Rezende. A FE no SUS: Fundação Estatal como proposta de gestão do trabalho para a Estratégia Saúde da Família na Bahia. Rio de Janeiro: s.n., 2009.

ARAGÃO, A. S. et al. Fundações Estatais. Estudos e Parecer, São Paulo, Saberes , 2009.

BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Fundação Estatal: metas, gestão profissional e direitos preservados. Ministério da Saúde, Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Ed. Ministério da Saúde, Brasília, 2007a. BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Projeto Fundação Estatal. Proposta para Debate, Brasília, Secretaria de Gestão, 2007.

______. Ministério da Saúde. Projeto de Lei Complementar: Série C. Projetos, Programas e Relatórios. Brasília, agosto de 2007b. Disponível em: <http://www.saude.gov.br/editora> Acesso em 12 maio 2011.

______. Diretrizes operacionais para os pactos pela vida, em defesa do SUS e de gestão / Ministério da Saúde, Secretaria-Executiva, Coordenação de Apoio à Gestão Descentralizada. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2006a.

______. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. PCCS-SUS: diretrizes nacionais para a instituição de planos de carreiras, cargos e salários no âmbito do Sistema Único de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2006b. 52p. ______. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Conferência Sérgio Arouca: relatório final. Brasília: Ministério da Saúde; 2004a.

______.Política de educação e desenvolvimento para o SUS: caminhos para a educação permanente em saúde: polos de educação permanente em saúde / Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Departamento de Gestão da Educação na Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2004b.

_______. Constituição (1988) da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal Subsecretaria de Edições Técnicas, 2002.

_______. Emenda nº 19/98. Brasília, Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, 1998.

_______. Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado /Secretaria da Reforma do Estado Organizações sociais. / Secretaria da Reforma do Estado.

Reforma do Estado. Brasília: Ministério da Administração e Reforma do Estado, 1999.

_____Projeto de Lei Nº 1.291, de 1999. Regulamenta o disposto no art. 39, § 6º da Constituição Federal e dá outras providências. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/sileg/integras/32786.htm> Acesso em 11 de maio de 2012.

CAMPOS, F. E. et al. Os desafios atuais para a educação permanente no SUS. In: Cadernos RH Saúde / Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. – Vol.3, n. 1 (mar. 2006) -. Brasília : Ministério da Saúde, 2006.

CAMPOS, F. E. De, PIERANTONI, C. L., MACHADO, M.H. Conferências de saúde, o trabalho e o trabalhador da saúde: a expectativa do debate. In: Cadernos RH Saúde / Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. – Vol.3, n. 1 (mar. 2006) -. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.

CAVALCANTE, J. et al. O empregado público, São Paulo, LTR, 2002.

Código de Organização e de Procedimento da Administração Pública do Estado de Sergipe – Lei Complementar nº 33 de 26/12/1996.

CECCIM, Ricardo Burg, FEUERWERKER, Laura C. M. O Quadrilátero da Formação para a Área da Saúde: Ensino, Gestão, Atenção e Controle Social. In: PHYSIS: Rev. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 14(1):41- 65, 2004.

CHIAVENATO, Idalberto. Carreira - Você é aquilo que faz - Ed. Saraiva, 2006.

_____. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. 4º Reimpressão. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

_____. Desempenho humano nas empresas: como desenhar cargos e avaliar o desempenho. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2001.

CHIZZOTTI, Antônio. Pesquisa em ciências humanas e sociais. São Paulo: Cortez, 2000.

COSTA, ACO, et al. Plano de carreira, cargos e salários: ferramenta favorável à valorização dos recursos humanos em saúde pública. Odonto. Clín.-Cient. Recife. abr./jun., 2010. Disponível em: <http://www.cro-pe.org.br> Acesso em: 11 maio 2011. Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Estado de Sergipe (Lei 2.148 de 21/12/1997).

FLEURY, S. Fundação estatal. Observatório de conjuntura da política de saúde. Palestra no Encontro de Conjuntura e Saúde. Rio de Janeiro (RJ). FIOCRUZ; 2007. JAEGER, M. L.; CECCIM, R.; MACHADO, M. H. Gestão do trabalho e da educação. Revista Brasileira de Saúde da Família, [S.l.], edição especial, v.7., p. 86-103, 2004.

LINS, C. R. G.; ZÚNIGA, M. Administração de recursos humanos: teoria geral e prática em empresas mineiras. In: Encontro da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração. Rio de Janeiro: ANPAD, 1998.

LUDKE, M.; ANDRÉ, M. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.

MACHADO, Maria Helena. Trabalhadores da Saúde e sua trajetória na Reforma Sanitária. In: LIMA, Nísia Trindade (org.) Saúde e democracia: história e perspectivas do SUS, Rio de Janeiro,Editora Fiocruz, 2005. p. 257-284.

MACHADO, M. H. et al. O Mercado de trabalho em saúde no Brasil. Rio de Janeiro: Ensp,1992.

MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno, 2ª ed. Revista dos Tribunais. São Paulo, 2003.

MEIRELLES, Hely. Direito administrativo brasileiro. São Paulo, Malheiros, 1994. MEIRELES, Hely Lopes. Direito administrativo. São Paulo: Malheiros, 2012. MELLO, Celso. Curso de direito administrativo. São Paulo, Malheiros, 2005. MILITÃO, J.B. et al. Aspectos regulatórios e legais da gestão pública do trabalho no sus.Manuel de Consulta, 2009.

MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org.). Pesquisa social. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1994.

______. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 19ª ed. Petrópolis: Vozes, 2009.

MODESTO, Paulo. As fundações estatais de direito privado e o debate sobre a nova estrutura orgânica da administração pública. Revista Eletrônica sobre a Reforma do Estado (Rere), Salvador, Instituto Brasileiro de Direito Público, nº 14,

junho/julho/agosto, 2008. Disponível em:

NOGUEIRA, R. Alternativas de vinculação institucional para os trabalhadores do SUS. In: MINISTÉRIO DA SAÚDE. Observatório de recursos humanos em saúde no Brasil: estudos e análises. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003.

Novo Código Civil (Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002). Trefácio do Prof. Miguel Reale, 3ª Edição revista e ampliada, Revista dos Tribunais, São Paulo, 2002

PALMA, Juliana. Fundações estatais de direito privado: viabilidade jurídica do PLP N. 92/2007. Rev. de Direito Sanitário, São Paulo. v. 10, n. 1 p. 136-169, Mar/Jul. 2009

PIETRO, Maria, Direito administrativo, 20 ed. São Paulo: Atlas, 2007.

PIMENTA, Edmilson da Silva, Sentença Processo Judicial nº 2008.85.00.004610- 6, 2010.

PONTES, Benedito R. Planejamento, recrutamento e seleção de pessoal, 4 ed.. São Paulo: LTR, 2004.

Portaria do Ministro do Estado da Saúde nº 626/GM, de 08 de abril de 2004. Comissão Especial para Elaborar as Diretrizes do Plano de Carreiras, Cargos e Salários no Âmbito do SUS – PCCS-SUS.

PORTARIA Nº 3.627, de 19 de novembro de 2010. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Disponível em: <www.fenasps.org.br/noticias/291110portaria.pdf> Acesso em: 15 maio 2011.

Reforma Sanitária - Secretaria de Estado da Saúde - SES. Disponível em: <http://www.ses.se.gov.br/index.php/act=interna&secao=152-online/>. Acesso em: 15 set 2011

Revista Científica Eletrônica de Ciências Contábeis da Faculdade de Ciências Jurídicas e Gerenciais de Garça FAEG/FAEF, FAEF, www.revista.inf.br www.editorafaef.com.br – www.faef.br, Ano VI – Número 11 – Maio de 2008 – Periódicos Semestral. Acesso em 06/11/2011

SAAD. Eduardo Gabriel et al. CLT Comentada, LTR, 2011.

SABATOVSKI, Emílio. et. al .Constituição Federal, Curitiba: Afiliada, 2002.

SANTOS, Rogério Carvalho. Saúde todo dia: uma construção coletiva, São Paulo, Hucitec, 2006.

SILVA, C.O.P. A Reforma Administrativa e a Emenda nº 19/98: uma análise panorâmica. Revista Jurídica Virtual, Brasília, vol. 1, n. 1, maio, 1999. htpp://www.planalto.gov.br/ccivil.../Reforma%20Administrativa.htm. Acesso em: 16 set. 2011.

SILVA, Christine Oliveira Peter da. A reforma administrativa e a Emenda nº 19/98: uma análise panorâmica. Revista Jurídica Virtual. Brasília, vol. 1, n. 1, maio 1999. SÍNTESE TRABALHISTA. Administrativa e previdência. Porto Alegre. Síntese, nº 189, 2005.

YOSHIKAWA, Daniella Parra Pedroso. Regras de acumulação de cargo, emprego

ou função pública. 2008. Disponível em:

<http://www.lfg.com.br/public_html/article.php?story=20080912164031437&mode=pri nt> Acesso em 12 de dez/2012.

APÊNDICE 1 – ROTEIRO DE ENTREVISTA