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Ao pensarmos em um problema de pesquisa voltado à área de Linguagens, em especial na área de Língua Portuguesa, uma infinidade de possibilidades surgem à nossa frente. Pensando nas carências ainda presentes na Educação Básica, no que diz respeito ao ensino e à aprendizagem, o que nos levou ao seguinte problema de pesquisa: ​Como a Gramática Funcional pode subsidiar o trabalho do professor de Língua Portuguesa em sala de aula, na Educação Básica, no que tange ao ensino de gramática?

Embora muitos desafios tenham sido encontrados no decorrer deste estudo, muitas aprendizagens foram construídas e muitas descobertas contribuíram de forma significativa no seu processo de desenvolvimento, atendendo ao objetivo de investigar como a Gramática Funcional, associada à Gramática Normativa, poderia colaborar com professores de Língua Portuguesa no que diz respeito ao ensino de gramática.

Ao entrarmos em contato com documentos que regem a Educação Básica, sejam eles mais antigos ou mais modernos, lendo-os e compreendendo-os em sua íntegra, percebemos, mesmo que, muitas vezes, apenas na teoria, a preocupação de se ter, atualmente, uma educação de qualidade, voltada às demandas e necessidades do aluno, respeitando suas singularidades e peculiaridades. São pensados novos métodos de ensino e, para isso, o professor de hoje deve estar atento às transformações nos diferentes setores, para que possa, de fato, fazer acontecer em sua prática em sala de aula, atendendo ao que preveem essas legislações, tendo, como prioridade, a aprendizagem do aluno.

A Gramática Normativa, enquanto construto para compreender o funcionamento da língua, busca preservar o que até hoje chamamos de ​língua culta​. Muito trabalhada nas escolas da Educação Básica, corresponde, por vezes, a uma realidade que não pertence aos alunos que encontramos em nossas escolas, o que nos leva a questionar se as práticas e métodos até então aplicados, tanto no Ensino Fundamental, quanto no Ensino Médio, estão tendo, como resultado, o que se espera para o aluno: o desenvolvimento de habilidades de leitura e de produção escrita.

Não estamos aqui para afirmar uma possível ineficiência da Gramática Normativa, uma vez que não há, de forma geral, porque questioná-la, levando em consideração sua relevância e seu pioneirismo. Mas, questiona-se, sim, a forma de aplicação desse material, ou

seja, o método que vem sendo adotado ao utilizá-la em sala de aula, já que sabemos que com

ela podemos aprender muito, mas reconhecemos que, ao estudá-la isoladamente, deixamos de

aprender outras tantas coisas importantes e valiosas e que, se ligada a outros métodos,

renderiam construções significativas. Pensa-se, então, em um trabalho que considere, também, a utilização feita pelos

usuários da língua, considerando-a como variável em constante transformação. Sendo assim, a

Gramática Funcional é abordada neste estudo não só via a ​Gramática de usos, de Maria Helena de Moura Neves, mas também por meio de outros olhares, capazes de darem o suporte

necessário para a transformação dessa teoria em prática em sala de aula. Uma análise nessa perspectiva (associação entre Gramática Normativa e Gramática

Funcionalista), com aplicação em textos de qualquer natureza, pode colaborar no processo de

compreensão dos conteúdos propostos para o ensino de Língua Portuguesa, sendo evitado, ao

máximo, a metalinguagem. Dessa forma, com a proposta apresentada neste trabalho, espera-se

estar proporcionando aos alunos experiências significativas no processo de construção do seu

conhecimento. Uma proposta de ensino, por essa perspectiva, requer o trabalho constante de

produção dos alunos, pois, à medida que produzem, eles aprendem, exploram e se

surpreendem. Além de aprender o conteúdo em si, os verbos transitivos diretos, são

abordados, também, outros conteúdos, igualmente necessários. Foge-se, não por completo, da

análise de frases ou palavras isoladas de seu contexto e parte-se para o texto como um todo,

ou seja, apresentam-se outras possibilidades de investigação e de criação. Ensinar assim é

pensar em um método que vá além do que prescrevem os manuais, respeitando a natureza da

linguagem. Não há porque privar o aluno do conhecimento das mais diferentes teorias existentes

hoje e, fazendo isso, tentar impor-lhe uma determinada forma de estudo e conhecimento,

previamente planejada e que, há anos, vem mostrando não ser suficiente por si só. Cabe a nós,

professores, propor novas formas de ensino e aprendizagem, buscando novas teorias, aliadas à

Gramática Normativa, que venham ao encontro dos objetivos estabelecidos. A língua é muito

mais ampla e complexa, sendo ela um mar de possibilidades a serem exploradas, cabendo, ao professor, mediar essa incrível navegação.

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