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Escolhemos, no início dessa dissertação, priorizar a Fonologia Gerativa, por sua descrição dos traços ser a mais adequada na comparação das vogais do português brasileiro com as vogais /e / da língua inglesa. Afirmamos que, apesar da inexistência do traço [+tenso] na fonologia do português brasileiro, a duração de nossas vogais em posição tônica tem propriedades fonéticas semelhantes às da língua inglesa. Isto é, o tempo de produção das vogais tônicas do português brasileiro é maior que o tempo de duração das vogias átonas. Ao passo que, na língua inglesa, a oposição de duração é dada entre pares mínimos em vogais tônicas. Afirmamos que a vogal // seria a mais difícil de ser adquirida de acordo com os preceitos de semelhança da Análise Contrastiva, pois contém três traços distintivos que diferem das vogais do português. As vogais // e // seriam as menos complexas, pois diferem somente na tensão. E as vogais //e // seriam intermediárias no grau de dificuldade, uma vez que diferem em dois traços. A vogal // difere // em dois traços e a vogal // difere de //e // em dois traços.

No cap. 2 relatamos alguns processos que ocorrem durante a aquisição de língua inglesa como segunda língua. Destacamos a substituição de fonemas, mudança de tonicidade e inconstância de formas fonéticas como características comuns a estudantes de inglês. E citamos a descrição de Shepard (2002), que coloca as vogais tensas da língua inglesa como as mais fáceis de serem adquiridas por falantes da língua portuguesa de acordo com os princípios da Análise Contrastiva.

A partir dos dados coletados e analisados com a informante nativa pudemos perceber que a duração das vogais longas na língua inlgesa é variável. Dependendo do contexto apresentado, ela pode se estender de 0.050 segundos a mais de 0.200 segundos de duração, por exemplo. As justificativas encontradas para tal afirmação vão desde o tipo de teste realizado durante a entrevista, se leitura de palavras isoladas, sentenças, ou respostas livres; o conxteto fonético adjacente; e a tonicidade das vogais aliada ao número de sílabas da palavra. As descrições individuais de cada vogal mostraram quais fatores específicos afetaram cada uma. Julgamos ser necessária uma análise mais detalhada das posições preenchidas em onset e codas silábicas de modo a entender melhor a variação de tempo de produção das vogais estudadas. A média dos tempos e propriedades dadas na tab. 25 mostraram valores médios de vogais entre 0.111

e 125 segundos. Tais estimativas foram abaixo das encontradas em Peterson & Lehiste (1960) que nos serviram de parâmetro.

De modo geral, pela análise dos dados dos estudantes de língua inglesa, pode-se afirmar que a interferência do contexto fonético é maior que a influência da língua materna, pois os resultados espelharam processos vistos na entrevista com a falante nativa. O tipo de teste também foi um fator decisivo quando classificando os tempos de duração das vogais. A vogal que teve o maior tempo de produção foi //, que não é a vogal a que possui mais traços distintivos semelhantes à da língua portuguesa. De acordo com os preceitos da Análise Contrastiva, as vogais // e // deveriam ter mostrado os melhores tempos, pois possuem mais traços distintivos semelhantes ao do português, com exceção de [+tenso]. Portanto a hipótese forte da Análise Contrastiva foi refutada diante de tais resultados. Contudo, a Hipótese do Período Crítico foi revalidada neste estudo, devido às produções de vogais tensas com maior tempo de duração figurar entre o grupo que começou a estudar inglês quando crianças. Além disso, houve menos amostras com mudança na qualidade das vogais dentre o grupo de adolescentes do que entre o grupo de adultos.

É possível afirmar que os estudantes recifenses do preparatório para o exame FCE conseguiram adquirir, com sucesso, o traço [+tenso] na produção das vogais longas da língua inglesa. Não podemos afirmar, entretanto, que sabem distinguir corretamente entre os pares mínimos longos e curtos. A distinção da produção entre vogais longas e breves da língua inglesa, todavia, não era nosso objetivo inicial, podendo ser alvo de uma pesquisa futura.

Análises detalhadas dos dados a fim de obter resultados mais precisos incluiriam verificar os tempos de produção das vogais em um contínuo, sem a cisão feita em 0,100 segundos. Poderíamos também analisar o contexto fonológico adjacente e sua influência na variação de tempo: consoantes surdas, sonoras e principalmente líquidas. Por fim, avaliar as restrições estruturais de tipo de sílaba e coda. Acreditamos também ser de grande interesse, averiguar quando se dá a aquisição de tal traço entre os diferentes níveis de proficiência e a percepção dos alunos com relação à distinção entre as vogais curtas e longas. Contando com um mapa mais detalhado da realização fonológica do inglês falado por estudantes brasileiros, será possível desenvolver materiais mais específicos tanto para que conheçam melhor suas dificuldades, quanto para que se tornem mais inteligíveis.

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