• Nenhum resultado encontrado

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No documento Influência da tectónica sobre o clima (páginas 132-136)

PENÍNSULA IBÉRICA DURANTE O MESOZÓICO

DO IDADE PRÉ-BÉTICO SUB-BÉTICO CORDILHEIRA BÉTICA C C GIBRALTAR ZONAS INTERNAS C

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como se verificou ao longo desta dissertação, o paleoclima ibérico parece ser pontuado por algumas peculiaridades climáticas que poderão divergir um pouco do padrão herdado pelas grandes faixas bioclimáticas. As hipóteses interpretativas do paleoclima ibérico referidas no capítulo anterior resultam da consideração comparativa e alargada ao âmbito regional dos indicadores paleoclimáticos apresentados em lugar da mais usual consideração dos mesmos a nível meramente local. Desta forma, a evolução paleoclimática da Península Ibérica ao longo da Era Mesozóica que resulta desta análise poderá resumir-se da seguinte forma:

- Clima monsónico de marcada sazonalidade pluviométrica durante o Triásico inferior a médio devido quer a um forte efeito de Fohen originado em resposta à presença de relevos elevados da antiga cadeia varisca, quer devido à posição da Península Ibérica relativamente próxima da faixa bioclimática tropical húmida;

- Clima possivelmente quente mas muito provavelmente bastante árido durante o Triásico superior, essencialmente devido à movimentação da microplaca ibérica em direcção ao cinturão bioclimático árido e ao estabelecimento de um forte efeito de Fohen em consequência da existência de vales de rifte;

- Clima provavelmente quente e relativamente húmido devido à existência de extensas áreas de mar epicontinental. É também provável que se tenham criado condições favoráveis ao estabelecimento mais ou menos frequente de depressões térmicas sobre a Península Ibérica, com a consequente ocorrência de tempestades durante o período Jurássico, ficando os episódios mais intensos/energéticos registados nas sequências sedimentares das Cordilheiras Bética, Ibérica e Cantábrica;

- Clima quente e provavelmente árido durante o período Cretácico devido à localização da Península Ibérica no cinturão bioclimático árido, à inexistência de grandes elevações orográficas e à proliferação de mares epicontinentais, em especial no Cretácico superior. Não se encontram, no registo sedimentar, eventos tempestíticos tão frequentes ao longo deste período como o foram ao longo do Jurássico.

O estudo apresentado nesta dissertação consiste, como se disse, na apresentação de hipóteses interpretativas dos dados recolhidos através de revisão bibliográfica. Muito trabalho prático é requerido para validar ou refutar as hipóteses aqui apresentadas, o qual poderia ser levado a cabo por equipas conjuntas do INETI de Portugal e do IGM de Espanha, no sentido da produção conjunta de cartografia actualizada da Península Ibérica, bem como de trabalhos científicos referentes à estratigrafia e sedimentologia ibéricas referentes às diversas eras geológicas.

Por outro lado, visto que o paleoclima ibérico não se resume unicamente à Era Mesozóica, seria bastante interessante a realização de trabalhos de reconstrução do paleoclima paleozóico e cenozóico ante-Quaternário da Península Ibérica. A reconstrução do paleoclima paleozóico deverá ser bastante interessante em virtude da enorme movimentação latitudinal da Península Ibérica e da existência de glaciações paleozóicas, ainda que as reconstruções paleogeográficas possam assumir um carácter mais especulativo em virtude do grande lapso temporal desde os nossos dias até esta era geológica. Quanto à reconstrução do paleoclima cenozóico, apesar da limitada deriva latitudinal da Península Ibérica, o estabelecimento de uma fase orogénica – a Orogenia Alpina – provocou diversas mudanças paleogeográficas e orográficas na área peninsular que deverão ter influenciado o clima na região ibérica mas também podem ter tido influência quer no estabelecimento de correntes oceânicas, como a Corrente do Golfo,

quer de fenómenos atmosféricos como a Oscilação do Atlântico Norte (NAO), hipóteses que se considera serem meritórias de exploração futura.

Os fenómenos que derivam directa ou indirectamente da Tectónica Global actuam a uma escala temporal e espacial tão vasta que as mudanças climáticas por eles provocadas não podem ser evitadas. A deriva continental continua a actuar hoje em dia, fazendo com que a placa eurasiática se desloque progressivamente para Norte. A menos que uma inversão no sentido da deriva continental se verifique no futuro, é provável que, dentro de alguns milhões de anos, a Península Ibérica entre em faixas bioclimáticas de latitudes mais elevadas, caracterizadas por um clima mais frio e húmido. Esta mudança climática não pode ser evitada, apenas mitigada, ao contrário das alterações climáticas mais ou menos bruscas que podem não só ser acauteladas e mitigadas como inclusivamente evitadas.

Existem muitos factores que controlam o clima, os quais actuam a escalas temporais muito diferentes. Aqueles factores que foram discutidos nesta dissertação têm ciclicidades da ordem das centenas a milhares de milhões de anos e, por conseguinte, não são passíveis de controlo pelo engenho humano. Contudo, outros factores há que actuam a escalas muito menores, da ordem das centenas a dezenas de anos, de ordem anual ou, mesmo, diária. Aparentemente, a actividade humana é um destes factores. Contudo, este factor em particular é dos poucos que são passíveis de ser controlados pelo engenho humano. A Humanidade, em geral, e cada um de nós, em particular, deve tentar compreender em que medida o “factor humano” pode ser controlado de forma a evitar alterações climáticas de origem antrópica, envidar esforços no sentido de minorar o impacte que a actividade antrópica tem sobre o clima e adoptar comportamentos e modelos de desenvolvimento sustentável para assegurar o futuro.

6

No documento Influência da tectónica sobre o clima (páginas 132-136)

Documentos relacionados