• Nenhum resultado encontrado

No cenário brasileiro dois documentos orientam o campo educacional: a Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDB), Lei 9394/96. O Título II da LDB é composto por dois artigos (2º e 3º) que expressam os princípios e fins da educação nacional.

Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1996, p. 1).

No artigo mencionado acima podemos notar que existe uma transferência de responsabilidade do Estado para a sociedade civil. Outro ponto se refere ao papel da educação em formar o indivíduo para conviver em sociedade e para trabalhar. Tendo em vista o dever e a finalidade da educação explicitada nesta lei, nota-se que este documento legitima a concepção de educação concebida no pensamento pós-moderno, e também presente nas orientações dos organismos internacionais, principalmente da UNESCO e do Banco Mundial,

36

que visam à educação como elemento fundamental do crescimento econômico e do desenvolvimento social, ou seja, concebem a educação, como forma de redução da pobreza e possibilidade de empregabilidade imediata. Assim, a tese da empregabilidade recupera a concepção individualista da Teoria do Capital Humano, que visa à educação como um investimento. Desse modo, a lógica empresarial concebe a empregabilidade como resultante do esforço individual e fundada na flexibilidade enquanto capacidade para adequar-se a mudanças. Portanto, alcançar a condição de empregável significa se capacitar para se apresentar ao mercado com melhores condições de competição para sobreviver na luta pelos poucos empregos disponíveis. Em suma, o discurso da empregabilidade não passa de uma falácia, mesmo para aqueles com elevada qualificação.

Como efeito dos projetos econômicos na política educacional brasileira, temos como exemplo a Reforma do Ensino Médio aprovada no ano de 2016, tal reforma reforçar a ideia posta na TCH, visando uma educação básica como condição de continuidade de formação profissional. No entanto, a elevação da escolaridade presente na TCH, caracteriza o que Kuenzer nomeia de polarização das competências, onde a educação se apresenta em dois polos: para maioria (a classe trabalhadora) importa adquirir uma formação simplificada, com curta duração e baixo custo. Para os poucos (a classe detentora dos meios de produção) implica uma formação complexa, com alto custo e longa duração.

Conclui-se que os organismos internacionais visam uma escola de resultados centrada em conhecimentos práticos, em habilidades e maneiras de fazer, objetivando a empregabilidade imediata. Todavia, essa escola secundariza aquele que deveria ser o seu papel principal, que é a transmissão-assimilação do conhecimento científico produzido historicamente pela humanidade.

REFERÊNCIAS

ANTUNES, Ricardo; ALVES, Giovanni. As mutações no mundo do trabalho na era da mundialização do capital. Educ. Soc., Campinas, v. 25, n. 87, p. 335-351, ago. 2004. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-

73302004000200003&lng=pt&nrm=iso>. Acessos em 17 maio 2017. http://dx.doi.org/10.1590/S0101-73302004000200003

BOMFIM, Alexandre Maia do. Há 21 anos “Educação e Trabalho” transformou-se em “Trabalho e Educação”: da construção da identidade marxista aos desafios da década de 90 pelo GTTE da ANPED. In: Anped: 30 anos de pesquisa e compromisso social, 2007, Caxambu. Rio de Janeiro: Anped, 2007. p. 1-17.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O Que é Educação? 26.ed. São Paulo: Brasiliense, 1991.

BRASIL.Lei de Diretrizes e Bases. Lei nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996.

CAVAZOTTI, Maria Auxiliadora. Educação e conhecimento científico: inflexões pós- modernas. 1. ed. Campinas, São Paulo: Autores Associados, 2010.

CHAUÍ, Marilena de Souza. O que é ideologia. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1981.

CIAVATTA, Maria; FRIGOTTO, Gaudêncio. As faces históricas do trabalho: como se constroem as categorias. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v.74, n.178, p. 529-554, set./dez. 1993. Disponível

em:<http://rbep.inep.gov.br/index.php/RBEP/article/viewFile/308/309>. Acesso em: 01 fev. 2017.

ENGUITA, Mariano Fernandez. O discurso da qualidade e a qualidade do discurso. In: GENTILI, Pablo; SILVA, Tomaz Tadeu (orgs.). Neoliberalismo, Qualidade Total e Educação: visões críticas. 7. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999. 204p. cap. 3, p. 93-110.

FRIGOTTO, Gaudêncio. A produtividade da escola “improdutiva”: um (re) exame das relações entre educação e estrutura econômico-social e capitalista. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2001.

FRIGOTTO, Gaudêncio. Educação profissional e capitalismo dependente: o enigma da falta e sobra de profissionais qualificados. Trab. educ. saúde, Rio de Janeiro, v. 5, n. 3, p. 521- 536, nov. 2007. Disponível em:

38

77462007000300011&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 13 mar. 2016. http://dx.doi.org/10.1590/S1981-77462007000300011.

GENTILI, Pablo. O discurso da “qualidade” como nova retórica conservadora no campo educacional. In: GENTILI, Pablo; SILVA, Tomaz Tadeu (orgs.). Neoliberalismo, Qualidade Total e Educação: visões críticas. 7. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999. 204p. cap. 4, p. 111- 177.

KUENZER, Acácia Zeneida. Exclusão Includente e Inclusão Excludente: a nova forma de dualidade estrutural que objetiva as novas relações entre educação e trabalho.

In:LOMBARDI,José C.; SAVIANI,Dermeval; SANFELICE, José Luís (orgs). Capitalismo Trabalho e Educação. São Paulo: Autores Associados; HISTEDBR, 2002.

LIBÂNEO, José Carlos. Políticas educacionais no Brasil: desfiguramento da escola e do conhecimento escolar. Cadernos de Pesquisa, v.46 n.159 p.38-62 jan./mar. 2016.

MARCELINO, Paula Regina. Crise do capital, reestruturação produtiva e “Toyotismo”. In: Marcelino, Paula R.M. A Logística da Precarização: terceirização do trabalho na Honda do Brasil. 1. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2004. 240p. cap. 2, p. 47-115.

SAVIANI, Demerval. O Trabalho como Princípio Educativo Frente às Novas Tecnologias. In: FERRETTI, C.J. [et. all]. Novas Tecnologias, Trabalho e Educação. Um debate

interdisciplinar. Petrópolis, Vozes, 1994.

SAVIANI, Dermeval. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 11.ed. Ver. Campinas: Autores Associados, 2013.

SELL, Carlos Eduardo. Sociologia clássica: Marx, Durkheim e Weber. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 2010.

TREIN, Eunice; CIAVATTA, Maria. O Percurso teórico e empírico do GT Trabalho e Educação: uma análise para debate. Revista Brasileira de Educação, Anped, n. 24, p. 140- 164. set/out/nov/dez; 2003.

Documentos relacionados