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Em decorrência do fenômeno globalizador, encontramo-nos em meio a uma nova configuração mundial, cada vez mais isenta de barreiras geográficas. Com o multiculturalismo somos então convocados à tolerância frente ao “diferente”. A globalização também contribui para a inauguração diária de novas relações, mostrando-nos que os

diferentes também somos nós. A Europa, por sua vez, deixa transparecer com maior clareza

suas várias faces e cores. Basta caminhar em Londres, apanhar o metrô em Paris ou visitar qualquer cidade da Alemanha para se perceber comunidades vindas de outros continentes. Como brasileira residente na Alemanha, a autora deste trabalho constitui, semelhantemente, um exemplo.

Não tenhamos ilusões, pois, ainda que movimentos islamofóbicos como o Pegida (acrônimo em alemão de “Europeus Patriotas contra a Islamização do Ocidente”) cheguem perto do poder, os mesmos não conseguirão evitar as migrações. Na verdade, o momento atual distingue-se pela pluralidade de identidades onde o domínio ou exclusão de algumas realidades em relação a outras demarcam limites hierárquicos e contextos de poder. Daí a urgência em se voltar para o conhecimento da alteridade, ultrapassando os limites meramente pacíficos e passivos dos ideais multiculturais.

Mais especificamente quanto à sociedade alemã, na medida em que os idosos alcançam idades muito avançadas, por outro lado, nascem bem menos crianças. Paralelamente, nas últimas décadas, a Alemanha tornou-se um país de imigrantes: quase 10% da população não tem passaporte alemão e cerca de 7 milhões de alemães têm histórico de migração. Embora o número de portugueses e brasileiros seja pequeno quando comparado a outros grupos de imigrantes no país, tomamos o ensino de português língua estrangeira como um referencial na discussão de algo primordial no cenário contemporâneo: a interculturalidade.

Ademais, tentamos realçar a feição ética da relação língua/cultura, ambiente favorável não só ao contato com a diversidade, mas, principalmente, ao desenvolvimento de habilidades alusivas ao Outro. Da sua articulação com estratégias mediadoras surge o professor-mediador, interventor capaz de cruzar todas as fronteiras culturais, étnicas e econômicas, desobscurecendo conflitos e preconceitos em pequena e grande escala. Em consequência, o papel da mediação intercultural no ensino de línguas estrangeiras, bem como

sua influência na integração social é exatamente servir de ponto de encontro daqueles que são diferentes sem cair na tentação de os homogeneizar.

As teorias de Hall, Trompenaars e Hofstede, embora tenham se fundamentado no domínio corporativo, podem ser validadas no ensino de línguas estrangeiras, uma vez que implicam parâmetros observados e observáveis em todos os tipos de interações sociais. Se o aluno é um falante de alto contexto e a língua a ser aprendida integra uma cultura oposta, o professor-mediador precisa atuar entre ambos os lados, decodificando mensagens implícitas. Em baixo contexto focam-se os fatos, ao passo que pessoas de alto contexto interagem de maneira mais indireta, pressupondo que a outra parte entenda as nuances de comunicação tal qual elas fazem. Em contrapartida, o falante de baixo contexto pode ficar confuso e não entender o que o outro deseja, o porquê e quais são seus interesses, podendo, aliás, ser muito direto e assertivo, no que o lado em alto contexto pode interpretar como agressividade ou arrogância.

Com diligência e planejamento o professor-mediador pode ativar as potencialidades das pessoas no tocante à comunicação efetiva de pensamentos e sentimentos, conferindo aos participantes um espaço para a conscientização cultural. Portanto, ao marcar presença no âmbito educativo, a mediação intercultural irá promover o consenso, atuando a favor da integração e da mudança social. O ensino de língua e cultura estrangeiras, nos moldes da mediação e interculturalidade, proporciona a diminuição das hostilidades, a melhoria da comunicação, a renovação das relações interpessoais, o fomento do pensamento criativo, assim como o aumento da compreensão do conflito, da xenofobia, do racismo, do Eu e do Outro. O processo é lento, gradual, custoso, mas exequível e, como se não bastasse, vital.

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