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O presente trabalho teve a finalidade de analisar a possibilidade de se aplicar a Justiça Restaurativa no sistema de Justiça Penal Juvenil, o que nos fez realizar uma investigação a partir da compreensão de alguns doutrinadores que acham pertinente tal tema.

A legislação penal juvenil, ao longo da história, sofreu diversas alterações, tendo em vista a insatisfação de parte da sociedade pela forma como as crianças e adolescentes eram tratadas pelo Direito Penal. Neste diapasão, foi imprescindível a passagem por etapas em busca de um sistema capaz de responsabilizar os infratores pelos atos, mas que, antes da retribuição da ”pena”, atuasse de forma responsável, não se esquecendo dos princípios fundamentais inerentes à pessoa humana, vigentes no ordenamento jurídico, deixando de lado a visão daqueles menores como “objetos”. Além disso, inicialmente, pudemos observar que as penas impostas eram as mesmas aplicáveis aos adultos, a partir do critério do discernimento, que foi superado ao longo do tempo.

Através da busca por uma legislação adequada, em 1927, foi implementado o Código de Menores, dando início ao modelo tutelar, transformando a justiça juvenil em um sistema independente e específico. Em 1979, foi instituído o “novo” Código de Menores, onde se deu ênfase à “Doutrina da Situação Irregular”, havendo reforço sobre o aspecto da criminalização da pobreza como intervenção estatal; a “irregularidade” englobava aspectos desde as condutas pessoais até as condutas sociais, como abandono. Havia, nesse momento da justiça juvenil, uma marca bastante evidente, ou seja, a criminalização da pobreza, daqueles que viviam em “situação irregular”, e que, provavelmente em algum momento iria cometer algum ato infracional.

Diante da forma como os menores infratores eram vistos, parte da sociedade buscava um tratamento mais digno. E foi, nesse contexto, que houve a promulgação da Constituição Federal de 1988, em paralelo aos movimentos internacionais que também lutavam pela defesa dos direitos das “minorias”, e nessa seara incluíam-se

as crianças e adolescentes, que clamavam pela igualdade e garantia de direitos. Sendo assim, em 1989, o Estatuto da Criança e do Adolescente foi implementado, substituindo o Código de Menores, e se pautando pela Doutrina da Proteção Integral, possuindo um papel assistencialista e garantidor de direitos, mais do que isso, aqueles menores antes vistos como objetos, assumiram o papel de “sujeitos de direito”, iniciando, assim, uma nova etapa do Direito Penal Juvenil, pautada pela aplicação de medidas socioeducativas, específicas. Distanciando do modelo punitivista que se baseava na teoria do “discernimento”.

O ECA é um importante instrumento normativo que buscou dar uma nova visão à delinquência juvenil, a partir da aplicação das medidas socioeducativas. Porém, foi necessário haver uma reformulação de tais medidas, principalmente no tocante à sua execução. Foi, nesse sentido, que a Lei 12.594/2012 implementou o SINASE, afim de reafirmar as medidas previstas no ECA, porém, buscando executá-las, de forma mais preocupada, com a efetivação dos direitos fundamentais, o que pode ser verificado na leitura dos seus artigos.

Nesse sentido, a partir das disposições previstas no SINASE, pudemos verificar a possibilidade de aplicação das práticas restaurativas no âmbito do direito penal juvenil, diante da busca pela concretização de direitos e garantias. Frise-se que disposição normativa já existe, o que realmente é necessário é aplicação. Uma vez que a Justiça Restaurativa, com o seu caráter alternativo, pode ser um sistema com fator transformativo importante para a construção de uma justiça mais digna.

Assim, conclui-se que a Justiça Restaurativa possui grande importância na busca pela construção de um novo modelo de justiça juvenil que, através das suas práticas que envolvem desde a vítima e o ofensor, até os familiares e a sociedade, seguindo em prol de uma responsabilização, através da educação e conscientização sobre os atos praticados, e, buscar evitar, assim, a reincidência. Por isso, a partir de uma aplicação eficaz, poderemos dizer que é possível inserir o modelo restaurativo, no Sistema de Justiça Juvenil Brasileiro.

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