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A conscientização humana da necessidade de se preservar o meio ambiente, ou seja, de que os recursos naturais são escassos e que a sua extração de maneira desregrada causará danos irreversíveis à vida no planeta, teve seu início realmente na segunda metade do século XX. Como reflexo de tal movimento, houve a realização de diversas conferências e declarações internacionais preocupadas com a questão da tutela ambiental. Dentre tais encontros e documentos, pode-se destacar: o Clube de Roma, que publicou Relatório Meadows, chamando a atenção da opinião pública para os limites do crescimento; a Conferência de Estocolmo sobre Meio Ambiente Humano que, apontada como marco do movimento ambientalista mundial, apresentou as primeiras preocupações com a relação desenvolvimento econômico e uso sustentável dos recursos ambientais; o Relatório Brundtland, elaborado pela Comissão Mundial da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que, além de trazer o conceito de desenvolvimento sustentável, apontou algumas medidas a serem adotadas no âmbito interno de cada país e em escala internacional; a Conferência do Rio de Janeiro, a Eco-92, que resultou na elaboração da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e da Agenda 21, documentos que deram mais força e amplitude para o princípio do desenvolvimento sustentável; e, finalmente, a Conferência da Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Sustentável, realizada na África do Sul e apontada como um verdadeiro fracasso.

Paralelamente a essa repercussão internacional, o movimento pela preservação do meio ambiente e pela difusão do desenvolvimento sustentável causou significativas mudanças administrativas e legislativas em diversos países, dentre os quais o Brasil. Aqui, administrativamente, houve, em 1973, a criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente,

órgão antecessor do Sistema Nacional do Meio Ambiente. Contudo, foi no âmbito legislativo que ocorreram os maiores avanços.

Em meio a tais avanços, dois merecem maior destaque: a Lei nº 6.938/81, que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente, e a Constituição Federal de 1988, que, atendendo aos anseios que a época exigia, tratou de maneira precisa e singular a proteção do meio ambiente.

Importante ponto referente à evolução constitucional em matéria ambiental é a adoção, pelo constituinte, de diversos princípios do direito ambiental. Não tendo, entretanto, o texto constitucional definido expressamente quais seriam os princípios ambientais inspiradores da Constituição Federal de 1988, a definição destes é algo eminentemente doutrinário. Porém, pode-se apontar os princípios da precaução, do desenvolvimento sustentável e da celeridade como os princípios constitucionais ambientais mais evidentes e importantes na solução dos desafios ambientais que se apresentam nos tempos atuais, especialmente quando se pensa no instrumento do licenciamento ambiental.

Previsto no artigo 9º, IV, da Lei nº 6.938/81, como um dos instrumentos da PNMA, o licenciamento ambiental é o instrumento através do qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e operação de atividades que se utilizem dos recursos naturais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, ou ainda daquelas que, sob qualquer forma, possam gerar degradação ambiental, tendo em vista as normas jurídicas e técnicas aplicáveis ao caso.

Em se tratando de meio ambiente, a máxima “prevenir (ou precaver) é melhor do que remediar” é perfeitamente aplicável. Este é o objetivo principal do licenciamento ambiental,

isto é, no procedimento licenciatório, através da análise de vários fatores e da previsão de parâmetros para a operação de determinadas atividades, busca-se essencialmente evitar que o dano aconteça, para que não seja necessário recuperar a área atingida posteriormente.

Em relação à competência para licenciar, entende-se que a Resolução n.º 237/97 do CONAMA, a qual é responsável por disciplinar a matéria, é um ato normativo inconstitucional, pois fere o preceito estabelecido no art. 23 da Carta Magna de 1988. Destaca-se, todavia, que os parâmetros previstos naquela Resolução são bastante didáticos e precisos, o que facilita bastante para o empreendedor saber qual o órgão ambiental competente para licenciar sua atividade. Os critérios adotados pela Resolução n.º 237/97 para regulamentar o assunto, em uma última análise, seguem aos princípios constitucionais da predominância do interesse e da subsidiariedade, na medida em que, regra geral, afirma competir à União os licenciamentos de empreendimentos de impactos nacional ou interestadual, aos Estados os de impactos estadual ou intermunicipal e aos Municípios os de impactos local. Assim, mostra-se extremamente necessária a edição de uma Lei complementar para regular a matéria, conforme previsto constitucionalmente. Medida esta, prevista entre as Medidas de Melhoria do Ambiente do Investimento existentes no Programa de Aceleração do Crescimento.

O procedimento licenciatório é outro assunto bastante importante quando se trata daquele instrumento. Regulado pelo artigo 10 da Resolução nº 237/97 do CONAMA, o procedimento licenciatório é apontado, em virtude do tempo gasto para a obtenção da licença ambiental, como um dos maiores entraves ao crescimento econômico do país. Contudo, ressalta-se também que a demora na concessão da licença não é culpa somente do órgão gestor ambiental que, muitas vezes, sem recursos humanos e financeiros, extrapola os prazos previstos para o término do procedimento. Os próprios empreendedores, ao apresentarem projetos e estudos ambientais imprecisos e mal elaborados, contribuem para a lentidão do licenciamento. Fato este que reforça a necessidade de todos os agentes envolvidos conhecerem as etapas do procedimento licenciatório.

Assim, no intuito de evitar que danos ambientais continuem a se propagar e de tornar mais célere o procedimento licenciatório, sem que isso implique em piora da qualidade do meio ambiente, imprescindível se faz o aumento do número de profissionais nos quadros dos órgãos ambientais da Administração Pública. Aliado a isso, tem-se a necessidade da aquisição de equipamentos e da estruturação de laboratórios mais modernos para que aqueles possam desempenhar de maneira eficiente os seus deveres legais, tendo em vista, acima de tudo, a preservação do meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras gerações.

No tocante à responsabilidade civil decorrente da concessão da licença ambiental, pode-se afirmar, de forma sucinta, que quando a indústria petrolífera estiver agindo sem ou extrapolando os limites previstos na licença ambiental, este responderá individualmente pelo dano ambiental que vier a se concretizar. Todavia, se ele estiver atuando dentro dos padrões estabelecidos na licença, há que se verificar se o estudo ambiental que serviu de requisito para a concessão daquela era visivelmente falho ou não. Em caso de resposta afirmativa, entende- se ser possível acionar solidariamente o empreendedor e o Estado. Já se a resposta for negativa e o empreendedor tiver agido de má-fé, acredita-se que esta deve ser acionada nas esferas civil, penal e administrativa. Porém, se aquela tiver agido com boa-fé, ainda persistirá o deve reparar o meio ambiente atingido, mas desta vez não em virtude de ser a responsável pelo dano, mas sim por uma aplicação pura e simples do princípio do poluidor-pagador. Nesta hipótese, o Estado somente poderá ser acionado de maneira subsidiária.

Finalmente, em vista de todo o exposto no decorrer do trabalho, é correto concluir que o licenciamento ambiental é o instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente que tem como objetivo principal harmonizar o crescimento econômico e social com a manutenção da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico, ou seja, de concretizar os princípio do desenvolvimento sustentável. Este, entendido como o desenvolvimento pelo qual as gerações

presentes atendem as suas necessidades sem comprometer os meios das gerações futuras também atenderem as suas próprias, apresenta-se como o único caminho a ser trilhado pela humanidade. Incorporando a dimensão ambiental ao conceito de desenvolvimento, o desenvolvimento sustentável, ao contrário daquele defendido e praticado até meados do século XX, é a única forma possível de continuar a se desenvolver.

“Não sou contra o progresso/ Mas apelo pro bom senso”275, já foi dito e cantado inúmeras vezes. Contudo, chegou o momento que somente apelar para o bom senso não é mais suficiente. “Não dá mais pra sentar e assistir calado/ O avanço e o progresso vão pro lado errado/ O homem detonou a natureza e agora?/ Parem o planeta/ Vamos sair fora?”.276 Não é tão simples assim.

O título do presente estudo “O Licenciamento ambiental como instrumento de um desenvolvimento verdadeiramente sustentável”, pode ser lido, então, como o licenciamento ambiental enquanto instrumento conformador do desenvolvimento econômico e da proteção ambiental, através do qual o meio ambiente ecologicamente equilibrado, essencial a sadia qualidade de vida, seja realmente defendido e preservado para as presentes e futuras gerações.

275 Trecho da música “O progresso” de Roberto Carlos e Erasmo Carlos. 276 Trecho da musica “Fiscal da natureza” da banda potiguar General Junkie.

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