• Nenhum resultado encontrado

LINHA CLASSIFICAÇÃO QTD MODELOS PRINCIPAL CARACTERÍSTICA

2.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos compreender, pelo estudo da linha do tempo da deficiência, que o instinto primitivo do ser humano, em cuidar das pessoas com necessidades específicas, sempre foi natural. Porém, com a instauração das instituições (religiosas, públicas e privadas) esse instinto sofre transformações e ocorre a segregação dos deficientes, por serem considerados "personae non gratae" na sociedade.

Desde os períodos mais remotos da História, as pessoas deficientes foram perseguidas, humilhadas e excluídas da sociedade. Por conta da deficiência adquirida em combates de guerra, nos castigos recebidos, por ter cometido alguma infração, ou por ter sofrido algum acidente traumático no trabalho, eram consideradas inúteis, improdutivas e incapazes.

Avançando um pouco mais, na Idade Média, embora acolhidas pelas instituições de caridade, ainda sofriam punições, torturas, maus tratos e eram submetidas às sessões de exorcismo. No caso dos amputados, para não serem perseguidos, o uso de prótese era essencial para mascarar essa deficiência.

Embora algumas ações tenham sido realizadas, pode-se considerar que foi no século XIX que os valores morais e humanos diante da deficiência foram retomados. Novos centros médicos e de pesquisas na área da reabilitação, foram implantados; inicia-se o processo de equiparação dos direitos dos deficientes, e de conscientização social diante da condição da pessoa deficiente.

As conceituações da CID e da CIF contribuem para elucidar, no âmbito desta pesquisa, uma definição formal da deficiência. Entendemos que a deficiência pode ser conseqüências de aspectos pessoais (doenças), sociais e ambientais. A deficiência (impairment) gera uma incapacidade (disability) e, conseqüentemente,

CARRIEL, Ivan Ricardo Rodrigues

uma desvantagem (handicap), a qual deverá ser analisada pelo grau de funcionalidade da pessoa deficiente e não pela sua incapacidade.

Entre as tipologias de deficiências, a ênfase foi dada para a deficiência física ou motora, que consiste basicamente na perda total ou parcial dos movimentos biomecânicos. Essa deficiência provoca uma demanda de uso de cadeiras de rodas, produto que visa a promover a locomoção e a mobilidade da pessoa.

O design é uma atividade projetual que se desenvolve por etapas ordenadas. Sempre parte do conhecimento de um problema e busca alcançar a solução com eventos que estão interligados entre si, a partir de um método pré-determinado.

Para Bürdek (1994), os dez princípios do bom design proposto por Dieters Rams devem estar associado à sistematização da tarefa projetual, e garantir que cada etapa seja minuciosamente desenvolvida por um método que proporcione ao design uma maior fluência, sentido e conhecimento.

A atividade projetual no design é uma tarefa de alta complexidade, pois demanda conhecimentos multidisciplinares advindos de diferentes campos, como da humanidade, da arte e criatividade, da engenharia e tecnologia e da economia e gestão. O resultado desse mix proporciona ao design significado, forma, função e seu valor.

Equipamentos como as cadeiras de rodas e tantos outros recursos de Tecnologia Assistiva, em sua maioria, são objetos que possuem essas qualidades deturpadas e/ou mal resolvidas. Certamente, por estarem associados ao estigma da deficiência, o que torna sua representação social comprometida e, por conta disso, a reinserção da pessoa com deficiência na sociedade, muitas vezes, acaba não acontecendo.

As premissas para o design responsável, segundo a visão de Papanek, Bonsiepe, Norman, Whiteley, Iida e Lelé, contribuíram para uma contextualização da prática de um design mais ético, verdadeiro e social.

As reflexões críticas, teóricas e o levantamento de alguns produtos de Tecnologia Assistiva, apresentados neste capitulo, foram essenciais para fundamentar a prática projetual das cadeiras de rodas e entender que esse objeto carece de estudos para proporcionar ao cadeirante maior mobilidade.

Neste capitulo, também foi discutido a definição da terminologia "Tecnologia Assistiva", seus sinônimos e os respectivos conceitos adotados por diferentes normas, leis, pesquisadores e órgãos que trabalham com essa temática.

CARRIEL, Ivan Ricardo Rodrigues

Esse tópico proporcionou o entendimento preciso de que o objeto cadeira de rodas é classificado como recurso de tecnologia assistiva, para auxílio da mobilidade, e que apresenta diferentes tipologias morfológicas, diante das aplicabilidades clínicas e sociais.

A classificação das cadeiras de rodas está atrelada a sua forma construtiva, material empregado, ou pela sua aplicabilidade de uso. Para organização dos dados, uma classificação didática foi proposta, sendo cadeiras de rodas de propulsão manual, motorizada, especializada, esportiva ou recreacional.

Uma coletânea iconográfica foi elaborada para apresentar as diferentes tipologias de cadeiras de rodas utilizadas desde o século XVIII até os dias de hoje. Esse compêndio de imagens contribuiu para uma reflexão crítica projetual, no que tange o design morfológico desse equipamento.

Após esse apanhado histórico e tipológico, verificou-se o nível do desenvolvimento tecnológico das cadeiras de rodas produzidas e comercializadas no Brasil. Foram estudados cinco fabricantes e uma amostragem de 250 modelos de cadeiras de rodas.

O resultado dessa análise mostrou que as cadeiras de rodas apresentam morfologias similares. O material utilizado nas estruturas são o aço, o alumínio e a fibra de carbono, enquanto que nas pegas utilizam-se diferentes tipos de polímeros.

Percebeu-se que há preocupação ergonômica por parte dos fabricantes, embora nos catálogos as limitações dimensionais estejam presentes. Também não há um consenso de padronização na catalogação das cadeiras de rodas entre os fabricantes e o custo do produto é um fator distante da realidade da população.

A cadeira de rodas, segundo Costa (2009), possui cinco diferentes representações sociais: (a) A cadeira de rodas é um equipamento indispensável para realização das Atividades da Vida Diárias (AVDs); (b) Representação simbólica da deficiência (simbologia universal); (c) Meio de transporte e locomoção; (d) Extensão dos membros inferiores e (e) Expressão da autonomia.

Essas representações podem ser otimizadas pelo avanço tecnológico e pela atuação criativa do design de produto. Portanto, se essa atuação for planejada e executada com base em recomendações projetuais consolidadas por estudos científicos, as cadeiras de rodas podem ser equipamentos mais eficientes na sua usabilidade e mobilidade e se transformar em produtos facilitadores da integração da pessoa com deficiência motora na sociedade.

CARRIEL, Ivan Ricardo Rodrigues

3 RECOMENDAÇÕES DE PROJETO PARA O DESIGN DE CADEIRA

DE RODAS DE PROPULSÃO MANUAL

3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Este capítulo de revisão da literatura, abrange os cinco sistemas que compõem uma cadeira de rodas convencional. Compreendem esses cinco sistemas: (1) a propulsão manual, (2) o deslocamento, (3) os dispositivos de suporte para o corpo, (4) o estrutural e o (5) morfológico. Cada um desses foram previamente definido no delineamento desta tese, no capítulo 1.

O objetivo deste capítulo foi agrupar as orientações de projeto validadas pela literatura científica disponível, para posteriormente serem empregadas como parâmetros norteadores no desenvolvimento do design de cadeiras de rodas de propulsão manual, visando à ampliação da mobilidade dos seus pacientes.

As informações aqui agrupadas também podem ser úteis para educadores físicos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, e demais profissionais da área da saúde, responsáveis pela orientação de uso e prescrição de uma cadeira de rodas, especialmente, se essa seleção for para buscar entre os produtos já produzidos e disponíveis no mercado, soluções mais adequadas às necessidades de mobilidade dos usuários.

Pesquisas apontam que as cadeiras de rodas de propulsão manual são equipamentos com sérios problemas de projeto e que acarretam danos à integridade física e ao estado de saúde do usuário. A seguir, serão apresentados alguns estudos que comprovam a ineficiência das cadeiras de rodas.

Nos estudos realizados pelas autoras Jorge e Alexandre (2005) com trabalhadores e pacientes de um hospital universitário (n=32), avaliaram a ergonomia de um modelo de cadeira de rodas e encontraram alguns problemas. Entre os resultados obtidos (QUADRO 3.1), as principais queixas foram a falta de manutenção do equipamento, como os rasgos nos tecidos do assento e encosto, a falta de apoio de braços e pés, rodas e rodízios tortos, que dificultam o deslocamento e a falta de suporte para bolsa de soro.

CARRIEL, Ivan Ricardo Rodrigues

QUADRO 3.1 – Problemas da Cadeira de Rodas e Recomendações de Projeto

ITENS PROBLEMAS CITADOS RECOMENDAÇÕES

Encosto Falta de segurança Deve oferecer apoio para toda região dorsal: ser ajustável e de material resistente e confortável. Tecido pouco resistente

Desconfortável

Assento Desconfortável Deve ser de material confortável, resistente e passível de higienização constante.

Tecido pouco resistente Descanso para

os braços Descanso de tamanho e forma impróprios Deve ser removível, ter formato anatômico e oferecer um apoio confortável e seguro. Descanso inadequado por falta de manutenção

Apoio para os

pés Apoio com falta de partes e sem manutenção Deve ser removível, composto por dois descansos de pés anatômicos, passível de escamotear e girar.

Apoio fixo

Dimensões Largura estreita Atender às dimensões antropometricas dos usuários.

Altura baixa

Estrutura (Peso) Pesada Deve ter uma estrutura leve e de diversos tamanhos para atender a diferentes biótipos. Boa se manutenção constante

Depende da condição de manutenção Rodas e

rodízios Não gira bem e às vezes ficam tortos tornando o manejo mais difícil. Deve possuir travas, ser resistente e de fácil manejo. Não possui trava nos rodízios.

Suporte para

soro Não possui suporte Possuir suporte para soro com altura ajustável.

Fonte: JORGE E ALEXANDRE (2005, p.184 e 185)

Segundo Bergen18 (1993), citado por Jorge e Alexandre (2005, p.185) alguns elementos da cadeira de rodas possuem funções importantes. Os apoiadores de braços, por exemplo, além de serem uma superfície de sustentação para os braços e alívio de pressão, propiciam ajuda para a impulsão em busca da posição em pé. Portanto, o projetista de cadeiras de rodas deve se ater ao nível da altura, comprimento e tamanho do suporte para apoiar confortavelmente os braços dos usuários.

Outros pontos, discutidos pelas autoras, estão relacionados com os apoios de pés, os quais devem propiciar a posição de flexão dos quadris a 90 graus, com uma estabilização da pélvis e a manutenção da posição. Esses dispositivos devem ser removíveis e/ou articulados para ampliar a segurança e a facilidade de locomoção e transferência dos usuários.

18 BERGEN, A. F. A cadeira de rodas prescrita: um dispositivo

ó c I O’SULLIVAN; S. B.; SCHMITZ; T. J. (Organizadores). Fisioterapia: avaliação e tratamento. São Paulo: Manole,1993. p.701–17.

CARRIEL, Ivan Ricardo Rodrigues

Abreu (2010) também traz contribuições para o projeto de cadeira de rodas. Essas contribuições foram levantadas a partir dos anseios dos usuários desse equipamento. A pesquisa possui duas abordagens, na primeira a autora questiona 14 usuários de cadeira de rodas. Os questionamentos foram agrupados em quatro categorias: estética, segurança, autonomia e conforto, como podem ser observados pelo QUADRO 3.2, a seguir:

QUADRO 3.2 – Orientações para o Projeto de Cadeira de Rodas