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Antônio I. de Loyola Filho 1,2 ; Elizabeth Uchoa 1,2 ; Maria Fernanda Furtado Lima-Costa

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho apresenta três artigos resultantes da análise dos dados produzidos em estudos epidemiológicos desenvolvidos junto a duas populações idosas urbanas, sendo uma residente numa cidade de pequeno porte (Bambuí) e outra residente na terceira maior região metropolitana do Brasil (Região Metropolitana de Belo Horizonte).

Os trabalhos guardam semelhança entre eles em termos do delineamento do estudo (transversal), método de coleta de dados (aplicação de questionários domiciliares) e foco das investigações (uso de medicamentos em idosos), que facilitam a comparação de seus resultados. Existem, no entanto, algumas diferenças, particularmente ligadas à caracterização da variável-resultado (número de medicamentos e condição de prescrição), que conferem um caráter de complementaridade aos seus distintos resultados, fornecendo uma visão mais completa desse fenômeno. No contexto brasileiro marcado pela escassez de estudos farmacoepidemiológicos junto a populações idosas e pelo envelhecimento populacional, os resultados desses estudos contribuem para dar uma maior visibilidade a uma questão que tenderá a constituir uma crescente fonte de preocupação para o planejamento da atenção à saúde no país.

Os trabalhos mostraram que o uso de medicamentos é comum nas duas populações estudadas, embora a prevalência do consumo de medicamentos prescritos em Bambuí e o número de medicamentos consumidos em Belo Horizonte tenham ficado em patamares abaixo daqueles verificados em países desenvolvidos. No tocante à quantidade de medicamentos consumida, foi possível perceber um menor consumo em Belo Horizonte, mas isso pode ser parcialmente explicado pelas diferenças janelas de tempo utilizadas, respectivamente 90 dias em Bambuí e 15 dias em Belo Horizonte.

Com relação às classes medicamentosas e ao padrão de associações observados, a semelhança dos resultados deste trabalho com os observados em países desenvolvidos sugere

a existência de certa uniformidade do consumo de medicamento e seus determinantes em populações distintas. A magnitude e a independência das associações verificadas entre piores condições de saúde (subjetiva ou objetivamente mensuradas) e utilização de serviços de saúde com o uso de medicamentos prescritos e com o consumo de uma maior quantidade de medicamentos, atestam o importante papel desempenhado pelo medicamento no processo de atenção à saúde da população idosa. Além disso, as associações entre automedicação e consulta médica (negativa) e consulta farmacêutica (positiva), observadas em Bambuí, permitem-nos conjecturar se a automedicação, nessa população, não constituiria um substituto para a atenção formal à saúde. Esta associação reforça ainda a noção de que a farmácia desempenha um importante papel no cenário da atenção informal à saúde.

Observa-se uma convergência dos resultados dos estudos de Bambuí no sentido de que o uso de medicamentos pela população idosa é influenciado pela renda, e isso é preocupante. As associações positivas entre renda e uso de medicamentos (global e prescritos) podem ser um indicativo de que o consumo de medicamento por idosos residentes naquela cidade é desigual. Reforçam essa suspeita os achados relativos às associações negativas entre uso de medicamentos e disfunção cognitiva no estrato de renda mais baixo. É razoável pensar que as necessidades medicamentosas dos idosos com disfunção cognitiva são maiores que aquelas dos idosos nos quais a função cognitiva esteja preservada. Isso pode ser um indício de que essa parcela da população não esteja consumindo os medicamentos necessários ao adequado tratamento de seus problemas de saúde.

Enfim, o presente trabalho contribui para dar uma maior visibilidade á questão do uso medicamento pela população idosa brasileira. Além disso, ao nosso conhecimento, trata-se do primeiro estudo epidemiológico de base populacional, no Brasil, que investigou a associação

para que os planejadores e os executores das políticas de saúde no Brasil tenham informações de qualidade sobre o uso de medicamentos pela população idosa, e consigam assim, viabilizar uma assistência farmacêutica de qualidade e compatível com o padrão de morbidade e as necessidades dessa população.

SUMMARY

The present study aims to determine the prevalence and associated factors to the use of medication among community dwelling elderly (60+ years of age) in the Metropolitan Region of Belo Horizonte (MRBH) and in the town of Bambuí, as well as investigate the association between number of used medicines and cognitive impairment in the last. 1<606 elderly residents in Bambuí (90.6% of the total number of residents) and 1,777 elderly randomly selected in MRBH participated in the study. The prevalence of medication use was 79.7% in Bambuí and 72.1% in MRBH. In Bambuí, the use of prescribed medication was associated to female sex, age (70+ years), higher household income, worse health condition and more visits to the doctor. Self-medication showed a negative association to visits to the doctor and a positive association to sex (female) and to visit to the pharmacist. In MRBH, associated factors to any number of medicines used were female sex, age (80+ years), visit to a physician e suffering from any chronic condition. In Bambuí, the number of medicines was found to be significantly associated with cognitive impairment (OR=0.72; 95%CI 0.55, 0.95). The stratified analysis by household income (<2 MW versus ≥ 2MW) presented a negative association between medication use and cognitive impairment among elderly with low personal income (OR=0.64; 95%CI 0.48, 0.64), but not among those with a higher personal income (OR=1.74 95%CI 0.81, 3.74). The results of this study still showed that in Bambuí, in a general way, the associated factors to medication use were similar to those observed in studies developed in other countries. The results showed too a negative association between number of medicines used and cognitive impairment among elderly of Bambuí and that the income has an important role in this association, because the less medicines consumption by elderly with cognitive impairment in the low income strata has not a correspondence in higher

ANEXO II

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