A partir de um painel de 160 municípios cearenses para o período entre 2003 e 2007, avalia-se o cumprimento da LRF e o possível trade-off entre o atendimento às necessidades de investimentos das administrações públicas locais e o cumprimento do dispositivo cuja meta principal é disciplinar os gastos públicos com funcionalismo. A pesquisa buscou desta forma contribuir com subsídios para atestar a eficácia da LRF enquanto instrumento disciplinador de gastos sem deixar de lado as possíveis ineficiências geradas pelo rigor previsto em suas diretrizes.
Dados da Secretaria do Tesouro Nacional (STN) deram suporte à criação de variáveis sócio-econômicas para estimação de modelos econométricos em diferentes especificações e cuja variável dependente comum foi o índice da Lei de Responsabilidade Fiscal (ILRF) que corresponde ao limite de gastos com pessoal previsto na LRF.
Foram estimados modelos a efeitos fixos e a efeitos aleatórios, por não dispor de todos os dados de corte transversal para os municípios. Tomando como critério o teste de Hausman cuja hipótese nula é a estimação a efeitos aleatórios, o processo de inferência foi realizado a partir de uma estimação a efeitos fixos.
Constata-se a existência do trade-off entre responsabilidade fiscal e social, haja vista que maiores investimentos em áreas sociais implicam em maiores índices de gastos com pessoal relativo à receita corrente líquida em períodos subseqüentes e assim corrobora-se a intuição de que atender aos interesses relacionados a investimentos em áreas sociais pode comprometer o atendimento à LRF. Gastos em áreas como habitação e urbanismo, por outro lado, não contribuem com o aumento do índice de gastos com pessoal, por outro lado, até influenciam a redução do índice.
Com relação a variável arrecadação (rtrib) seu impacto é positivo no modelo, indicando que os municípios que arrecadam mais têm maior índice de gastos com pessoal relativo à receita corrente líquida, fato que, longe de ser um mau, pode refletir displicência do administrador público em relação a contratações, face à maior receita tributária.
Por fim, ressalta-se o papel disciplinador da LRF em termos de evitar o uso da máquina pública com fins eleitorais, haja vista que nos períodos de eleição constata-se uma redução no índice de gastos com pessoal previsto neste dispositivo.
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