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IV MAIS DE DADOS E TEORIAS

2 «MÉDIUM», ASSIM, DE MIM MESMO, TODAVIA SUBSISTO”

V- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Qualquer Música Qualquer música, ah, qualquer, Logo que me tire da alma Esta incerteza que quer Qualquer impossível calma! Qualquer música - guitarra, Viola, harmônio, realejo... Um canto que se desgarra... Um sonho em que nada vejo... Qualquer coisa que não vida! Jota, fado, a confusão Da última dança vivida... Que eu não sinta o coração! Não é comum iniciar a conclusão de um trabalho com uma epígrafe, que seja mais um poema pessoano. Mas essa epígrafe, em especial, poderia metaforizar o poeta Fernando Pessoa. Poderíamos nada mais dizer. Ao sublinhar a relação que Fernando Pessoa estabelecia com a música, guardamos mais um fingimento musicado na frase: “É conforme as horas, os locais, e a parte de mim que esteja virada a fingir para os locais e as horas”.

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Tudo que se diga após isto, é apenas para saciar a famosa “à guisa de conclusão” acadêmica”, que, de todo modo, necessária se faz. A cada etapa do trabalho porém, as (não) conclusões são ali expostas. Buscaremos, então, sumarizá-las, à guisa de...

Mãos à obra, comecemos pelo autor Fernando Pessoa! A obra de um autor é influenciada por sua vida, suas leituras, suas convicções religiosas, seu contexto histórico. Sabemos, por exemplo, o quanto o contexto histórico-social da contradição religiosa da Europa do século XV e XVI não tenha influenciado a arte barroca. O fato de Fernando Pessoa ter despertado em si a ideia de ser médium desde cedo e esta tê-lo acompanhado até seus últimos dias teve grande importância na sua obra. Isso ocorre desde a “criação” dos heterônimos, passando pela tendência ocultista, até a obra ortônima, que trata, basicamente, da busca de autenticidade, de ser ele mesmo, de aceitação de uma dolorosa missão dada por Mestres.

É obvio que a obra pessoana não se prende à interpretação de que o poeta se considerava médium. Ele transcendeu esses limites, pois fez arte de seu interior e a arte e a poesia não pertencem a quem a faz, mas a quem precisa dela. Por isso Fernando Pessoa nunca se pertencera, tornara-se do mundo, dos outros em todos os sentidos. E, se para nos encontramos, tenhamos que perder o verdadeiro Fernando Pessoa, façamo-lo, pois ele nunca fez questão se ser encontrado; como todo mistério, deixou rastros para nós, leitores segui-los, também em paradoxos, pois poderíamos ir por outro viés, o psiquiátrico, para, cada vez mais (des) conhecer Pessoa mais de perto.

Vale salientar que não se questionou neste trabalho acerca da genialidade de Pessoa, pelo contrário, esta pesquisa veio acentuar a pluralidade poética de Fernando Pessoa. Alguns defendem que ele é um gênio por ter criado personalidades múltiplas para poder ser no sonho o que não podia na prática, por ser o revolucionário da Língua Portuguesa, por ser Álvaro de Campos, Caeiro, Reis, Soares, por tudo, menos por ser ele mesmo. Menos por sua “Mensagem” em “Mares Portugueses”, da qual muito ainda está no fundo de uma lendária arca; menos por suas “Autopsicografias”, por seus “Passos da Cruz” e por como levou a cruz de sua vida morta para o mundo. Não! Tudo, menos a verdade. Porém, a verdade! Está bem diante de nós! Fernando Pessoa que nos estraçalha quando diz:

“Há coisas em mim que eu queria poder transformar em homens para as enfrenta cara a cara. Dir-lhes-ia, “Não sou vosso escravo!”

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Mas quando estas coisas estão dentro de nós não há recusa nem coragem. Ao obedecer-lhes, obedecemos a nós mesmos; ao obedecermos a nós mesmos obedecemos a elas.”

Ser genial, por fim, é dizer o óbvio que está oculto, é ser incompreendido por tanta obviedade, é deixar sem palavras por ter dito tudo, é ter um fingimento para tantas verdades, ser genial, portanto, é ser Fernando Pessoa. E há, por aí, muitos Fernandos e Pessoas: na vida, no dia a dia, nas mãos de muitos escritores. Diríamos que Pessoa tem os representado bem.

A suposta genialidade – que muitos lêem como loucura – estava para além de sua poesia. Apresentava-se, permitimo-nos dizer, naquele “ponto de basta” tão famoso na psicanálise e que Fernando Pessoa se desvencilhava dele o tempo todo. A cada nova leitura, uma nova assunção, uma nova afirmação. Fernando Pessoa não tinha, como se costuma dizer, “o corpo fechado”, este estava a serviço de sua mente escancarada a qualquer leitura, a qualquer novo seguimento. Astrologia, ordens secretas, alcoolismo, correntes filosófico-religiosas várias.

Buscamos compreender os efeitos do imaginário da mediunidade em Fernando Pessoa. Menino, jovem adolescente, com companheiros mortos, de quem sentia saudades. Homem, maduro, com companhias criadas.

Teria sido Fernando Pessoa MÉDIUM? A quem interessar possa, a contundência e o descabimento, provável, da pergunta.

Não se finaliza Fernando Pessoa, pois ele coloca o homem em seu devido lugar. Um caos interno, transvestido de uma unidade.

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