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O Supremo Tribunal Federal vem desenvolvendo uma jurisprudência relevante no controle de normas de reprodução obrigatória e suas correlatas; entretanto, do escorço feito, verifi- camos que, embora existam precedentes emblemáticos, ainda não se confere o espaço necessário aos entes da federação para que exerçam sua autonomia de forma plena. O amplo rol de dis- positivos que constituem normas de reprodução obrigatória im- possibilita qualquer avanço efetivo de Estados e Municípios. To- davia, é nas normas de imitação que estes entes possuem alguma margem de criatividade para mudar sua realidade local.

Embora não seja exaustiva, ou mesmo efetivamente sa- tisfatória em termos de densidade normativa, a rica classificação das normas e os diversos precedentes da Corte Suprema possi- bilitam a fixação de Standards de identificação, contribuindo para um aperfeiçoamento jurisdicional, garantindo mais 66 BONAVIDES, Paulo. Do Estado Liberal ao Estado Social. 8ª Ed, Malheiros, 2007, p. 200.

segurança jurídica e uma maior deferência às decisões políticas e organizativas de Estados e Municípios em casos onde há pos- sibilidade de atuação.

Acerca da adoção de medidas provisórias pelos Municí- pios, - acompanhando, ou não, a tese de que a Lei orgânica ex- pressa manifestação do Poder Constituinte Decorrente -, é pos- sível extrair da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do texto constitucional a possibilidade jurídica dessa espécie nor- mativa em âmbito municipal, sendo classificada como norma de observância obrigatória por Estados e Municípios.

Foi demonstrado que a viabilidade da adoção de medidas provisórias decorre da autonomia do Município. A importância erigida a este como ente federativo no mesmo patamar da União e dos Estados faz com que a realidade brasileira deva ser vista sob outro olhar, não sendo possível aplicar a ultrapassada inter- pretação que o coloca em posição de inferioridade em face dos demais entes.

As limitações pelo Estado ao poder de auto-organização do Município, núcleo essencial de sua autonomia, são fixadas pela própria Constituição Federal de forma expressa. Sendo as- sim, não havendo determinação na Constituição Federal no sen- tido de que os Municípios somente poderão editar Medidas Pro- visórias no caso de previsão autorizadora na Constituição Esta- dual, não há como existir tal requisito para a sua adoção.

Nessa linha: i) o núcleo essencial da autonomia munici- pal expresso pelo autogoverno e pela autoadministração; ii) a decisão da Corte referente à necessidade de observância das li- nhas mestras do processo legislativo federal por Estados e Mu- nicípios; e iii) o precedente que estabelece os limites de ingerên- cia dos Estados no poder de auto-organização municipal, dão conta de rechaçar a ideia de que os Municípios somente podem adotas medidas provisórias caso haja autorização da Constitui- ção Estadual.

forma crítica, foi possível constatar que existem diversos argu- mentos pragmáticos acerca da (in)conveniência da adoção de medidas provisórias pelos Municípios. Havendo abusos, estes devem ser combatidos pelas vias próprias de fiscalização e con- trole, notadamente através do Ministério Público, Câmara Mu- nicipal, Tribunal de Contas e sociedade Civil, sem prejuízo de eventual responsabilidade do Chefe do Poder Executivo.

A Constituição da República completará 30 anos em 2018. O tempo de travessia já passou. É chegada a hora de alçar o Município à condição de ente federativo de fato. Como ex- posto na epígrafe desse trabalho, nada é permanente, exceto a mudança. A mudança é a lei da vida. E aqueles que apenas

olham para o passado ou para o presente irão com certeza per- der o futuro67.

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