• Nenhum resultado encontrado

Esta pesquisa está voltada à relação entre pronúncia e inteligibilidade. De acordo com os teóricos elencados neste trabalho (FLEGE, 1995; JAMIESON, 1995), a aquisição de pronúncia pode ser um dos aspectos mais complexos da aprendizagem de uma língua estrangeira.

Tive como objetivo investigar se a pronúncia exerce influência na inteligibilidade de língua inglesa e quais características de pronúncia eventualmente dificultaram a inteligibilidade. Essa influência foi pesquisada em relação a dois descritores “UND” e “ACCE”. Dois outros descritores “NAT” e “ACCE” foram considerados para verificar se haveria associação com os dois anteriormente mencionados .

Foram constatadas associações entre julgamentos de “ACCE” e “ACCU” apenas em relação ao grupo dos SN e ao S8. Nos demais sujeitos do grupo SB não foi constatado aproximação entre as médias desses dois descritores.

Ainda que atualmente, com o processo de globalização, muitos teóricos defendam que o inglês não seja mais privilégio dos falantes nativos desse idioma, optei por investigar a percepção desses falantes nativos da fala de brasileiros falantes de inglês. Nessa perspectiva, a motivação para a escolha de juízes nativos de língua inglesa se deu por acreditar que os resultados pudessem auxiliar na desmitificação da pronúncia native-like como ideal de pronúncia.

Os dados encontrados nas análises mostram que somente um sujeito brasileiro (S8) se aproximou da pronúncia dos sujeitos nativos de língua inglesa. Considerando que esse sujeito brasileiro possui um conhecimento profundo de Fonética, infiro que o treinamento fonético é extremamente importante para a aquisição de uma pronúncia aprimorada.

A pronúncia native-like pode ter sofrido algumas intepretações equivocadas durante as últimas décadas. O termo like em inglês é usado para comparações e assimilações. Por exemplo, na frase he looks like Prince Charles, tenciona-se dizer que ele se parece com o Príncipe Charles. Na frase, he talks like Michael Jakcson, tenciona-se dizer que ele soa como Michael Jackson. Neste sentido, o emprego do termo native-like deveria indicar que o falante de um determinado idioma estrangeiro

soa como e não igual a um falante nativo.

Com base nas análises é possível afirmar que o S8 soa como um nativo, pois foi ele o único sujeito brasileiro que obteve resultados próximos aos dos sujeitos nativos. No entanto, como é possível verificar no quadro de clusters (Quadro XX, Cluster 4) que o desempenho desse sujeito não atingiu o mesmo desempenho dos sujeitos nativos, o S8 não foi percebido como sendo nativo de língua inglesa.

O desempenho do S8 mostra que é possível alcançar uma pronúncia native-

like por meio de extenso treinamento fonético, mas isso não garante que o falante

estrangeiro venha a falar exatamente como falam os nativos.

Analisando o desempenho do S5, no Cluster 3 (Quadro 4) que, juntamente com o Cluster 4 constituem os representantes das avaliações mais altas, é possível verificar que esse sujeito obteve um bom desempenho. Vale a pena ressaltar que tal desempenho se dá em relação aos outros SB, inclusive o S8, cujo conhecimento em Fonética é avançado. Levando em consideração que o conhecimento de Fonética do S5 é bem menor que o S8, infiro que o tempo de treinamento fonético não é o único fator de influência a ser considerado.

Os resultados apontaram características de pronúncia que dificultaram a inteligibilidade dos sujeitos brasileiros desta pesquisa. Desta forma é possível inferir que tais características são relevantes de ser consideradas no ensino da língua inglesa e que se consideradas no processo de ensino de pronúncia possam contribuir para um melhor desempenho dos aprendizes.

Se considerarmos que questões de coarticulação, juntura entre palavras, vozeamento e nasalidade influenciaram a percepção, recorro novamente à surdez fonológica de Polivanov (1931) para tecer a conclusão de que com a idade o que se perde é a sensibilidade de percepção de características fonéticas que não fazem parte do inventário fonético de sua língua nativa.

Nesse sentido, considero que tais achados desta pesquisa apontem para a importância de se incluir no currículo de ensino-aprendizagem de uma língua estrangeira a Fonética voltada para o desenvolvimento da percepção a esses sons alheios ao inventário da língua nativa do aprendiz. Mais do que se basear em um método de repetição, tendo o professor como referencia, é preciso confrontar os aprendizes com características de pronúncia que ele não percebe por interferência

da língua materna.

Como ressalta Flege (1995) os mecanismos e processos usados na aprendizagem de uma língua materna permanecem intactos durante toda a vida e podem ser aplicados ao aprendizado de uma outra língua. Portanto, focar o ensino de pronúncia na percepção de novos sons é incentivar que os aprendizes desenvolvam atenção a pistas fonéticas que não são utilizadas na sua língua materna para diferenciar sons (JAMIESON, 1995).

Embora este trabalho não tenha objetivado o desenvolvimento de materiais didáticos para o ensino de pronúncia, espero que possa servir de inspiração para pesquisas futuras que visem este tipo de atividade. Segundo Morin (1999), o desenvolvimento do conhecimento científico é poderoso meio de detecção dos erros e de luta contra as ilusões. Entretanto, os paradigmas que controlam a ciência podem desenvolver ilusões, e nenhuma teoria científica está imune para sempre contra o erro. Além disso, o conhecimento científico não pode tratar sozinho dos problemas epistemológicos e éticos. A educação deve-se dedicar, por conseguinte, à identificação da origem dos erros, ilusões e cegueiras.

Neste sentido acredito que mais que identificar os erros, neste caso erros fonéticos, e chamá-los como tal, ou ter a ilusão de que o aprendiz é incapaz de reproduzir determinados sons pertencentes ao idioma estrangeiro, é necessário investigar a origem da cegueira, ou, melhor adequando o termo ao contexto desta pesquisa, à surdez fonológica, que impede a discriminação de contrastes de sons existentes na língua estrangeira.

Acredito que se substituirmos o enfoque na correção de “erros” baseado em exercícios de repetição pela investigação dos fatores que provocam deslizes de pronúncia motivados por interferências da língua materna, poderemos sugerir que o aprendiz é capaz, mas precisa se atentar para ajustes do trato vocal inerentes à produção de determinados sons que ele ainda não domina e as consequências acústicas desses ajustes.

Focar o ensino de pronúncia nos possíveis deslizes que o aprendiz possa cometer e não no investimento em exercícios que estimulem a percepção de pistas acústicas e inspire a produção de sons em língua pode contribuir para diminuir os preconceitos que esse aprendiz eventualmente venha a sofrer.

Segundo Bagno (2005), o preconceito linguístico no Brasil se exerce em duas direções: de dentro da elite para fora dela, contra os que não pertencem às camadas sociais privilegiadas; e de dentro da elite para ao redor de si mesma, contra os seus próprios membros. Ainda menciona que na mentalidade dos brasileiros, especialmente na dos falantes urbanos escolarizados existe uma convicção muito arraigada de que no Brasil ninguém fala bem o português.

O preconceito a que se refere Bagno (2005) sobre a língua portuguesa, acontece também em relação à língua inglesa. É comum ouvir, no Brasil, que em escolas públicas não se aprende inglês e que para se aprender é necessário viver no exterior ou estudar em institutos de idiomas, nos quais o custo dos cursos estão muito aquém das possibilidades financeiras da grande maioria das classes menos favorecidas.

Nesse sentido, acredito que seja importante difundir o ensino de Fonética de uma maneira mais democrática e de mais fácil acesso aos educadores e aprendizes de classes sociais sem acesso a institutos de idioma voltados para as elites brasileiras. Bem como propagar resultados de pesquisa como esta a educadores e aprendizes visando mostrar que é possível aprender uma língua estrangeira sem que se tenha que participar de programas de intercâmbio, os quais tem seu acesso limitado à parcela da sociedade que pode financiá-los.

Que o treinamento fonético contribui para uma melhoria na pronúncia, a ponto de esta ser percebida, muito próxima a de um nativo, fica evidenciado nesta pesquisa. Que a Fonética Acústica fornece uma inestimável contribuição para inferir dados sobre a produção é incontestável. A Fonética Acústica ensina a ouvir conforme argumenta Albano (2003). Que a interferência da língua materna ocorre é bem conhecida.

Diante dessas colocações defende-se que a formação do professor em Fonética pode auxiliá-lo a transpor a barreira da proposição de exercícios de repetição daquilo que não se ouve, ou melhor daquilo que se ouve influenciado por uma surdez fonológica.

Penso que pesquisas no campo da Fonética que visem buscar uma melhoria na autoestima de aprendizes de uma língua estrangeira possam contribuir para o desenvolvimento do ensino de idiomas.

REFERÊNCIAS

ALBANO, E.C. Conversas com linguistas: virtudes e controvérsias da linguística. São Paulo: Parábola, 2003.

BAGNO, M. Não é errado falar assim! em defesa do português brasileiro. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.

CASTILHO, A.T. Nova gramática do português brasileiro. São Paulo: Contexto, 2010.

DERWING, T.M.; MUNRO, M.J. Second language accent and pronunciation

teaching: a research-based approach. Tesol Quarterly, vol. 39 num.3 september,

2005.

FLEGE, J.E. Age of learning and second language speech. In: Birdsong, D. (Ed)

Second language acquisition and the critical period hypothesis. Hillsdale, NJ:

Lawrence Erlbaum. P: 101-132, 1999.

FLEGE, J.E. Second language speech learning theory, findings, and problems. Chapter 8, p: 231-277 In W. STRANGE (ed), Speech perception and linguistic experience. Issues in Cross-language research. Timonium, MD: York Press, 1995 JAKOBSON, R. Linguística e comunicação. São Paulo: Cultrix, 1972.

JAMIESON, D.G. Techniques for training difficult non-native speech contrasts. ICPhS 95 vol. 4 page 100, session 70.5. Estocolmo, 1995.

JOHNSON, K. Acoustic and auditory phonetics. 2nd edition. Blackwell, 2003. LLISTERI BOIX, J. Introdución a la Fonética: el método experimental. Barcelona: Anthropos, 1991.

LADEFOGED, P. Phonetic data analysis: an introduction to fieldwork and

instrumental techniques. Oxford: Blackwell Publishing, 2003.

LAVER, J. Principals of phonetics. Cambridge, 1994.

MAIA, E.M. No reino da fala: a linguagem e seus sons. São Paulo: Ática, 2003 MATEUS, M.H.M.; FALÉ, I.; FREITAS, M.J. Fonética e Fonologia do português. Lisboa: Universidade Aberta, 2005.

MAUAD, S.A. Questões de prosódia: uma investigação, com apoio de instrumentais de análise fonético-acústica, dos padrões entoacionais de falantes bilíngues brasileiros e norte-americanos. São Paulo: PUC-SP, 2007.

MORIN, E. A religião dos saberes: o desafio do século XXI. São Paulo: Bertrand Brasil, 1999.

MUNRO, M.J.; DERWING, T.M. Foreign accent, comprehensibility, and intelligibility

in the speech of second language learners. Language Learning – a journal of research in language studies – vol. 45, issue 1. p: 285-310. Willy Online Library,

2006.

PICCIN, I.M. O ensino de prosódia do Inglês: uma análise sincrônica de livros didáticos. São Paulo: PUC-SP, 2003

OSGOOD, C.E.; SUCR. G.J.; TANNEBAUM. P.H. The measurement of meaning. Urbana: University of Illenois Press, 1957.

THOMAS, E.R. Sociophonetics: an introduction. Hampshire: Palgrave Macmillan, 2011.

UR, P. A course in English language teaching 2nd Ed. Cambridge: Cambridge University Press, 2012.

JUDGE  NAME:   COUNTRY:  United  States  of  America PHRASE  SELECTION:   DATE  OF  JUDGEMENT:  

1 2 3 4 5

Sound  File:   HARD  UNDERSTANDING EASY  UNDERSTANTING

SOUNDS  ARTIFICIAL SOUNDS  NATURAL

INACCURATE  INTONATION  ACCURATE  INTONATION STRONG  FOREIGN  ACCENT SUBTLE  FOREIGN  ACCENT

1 2 3 4 5

Sound  File:   HARD  UNDERSTANDING EASY  UNDERSTANTING

SOUNDS  ARTIFICIAL SOUNDS  NATURAL

INACCURATE  INTONATION  ACCURATE  INTONATION STRONG  FOREIGN  ACCENT SUBTLE  FOREIGN  ACCENT

1 2 3 4 5

Sound  File:   HARD  UNDERSTANDING EASY  UNDERSTANTING

SOUNDS  ARTIFICIAL SOUNDS  NATURAL

INACCURATE  INTONATION  ACCURATE  INTONATION STRONG  FOREIGN  ACCENT SUBTLE  FOREIGN  ACCENT

1 2 3 4 5

Sound  File:   HARD  UNDERSTANDING EASY  UNDERSTANTING

SOUNDS  ARTIFICIAL SOUNDS  NATURAL

INACCURATE  INTONATION  ACCURATE  INTONATION STRONG  FOREIGN  ACCENT SUBTLE  FOREIGN  ACCENT

1 2 3 4 5

Sound  File:   HARD  UNDERSTANDING EASY  UNDERSTANTING

SOUNDS  ARTIFICIAL SOUNDS  NATURAL

INACCURATE  INTONATION  ACCURATE  INTONATION STRONG  FOREIGN  ACCENT SUBTLE  FOREIGN  ACCENT

1 2 3 4 5

Sound  File:   HARD  UNDERSTANDING EASY  UNDERSTANTING

SOUNDS  ARTIFICIAL SOUNDS  NATURAL

INACCURATE  INTONATION  ACCURATE  INTONATION STRONG  FOREIGN  ACCENT SUBTLE  FOREIGN  ACCENT

1 2 3 4 5

Sound  File:   HARD  UNDERSTANDING EASY  UNDERSTANTING

SOUNDS  ARTIFICIAL SOUNDS  NATURAL

INACCURATE  INTONATION  ACCURATE  INTONATION STRONG  FOREIGN  ACCENT SUBTLE  FOREIGN  ACCENT

1 2 3 4 5

Sound  File:   HARD  UNDERSTANDING EASY  UNDERSTANTING

SOUNDS  ARTIFICIAL SOUNDS  NATURAL

INACCURATE  INTONATION  ACCURATE  INTONATION STRONG  FOREIGN  ACCENT SUBTLE  FOREIGN  ACCENT

1 2 3 4 5

Sound  File:   HARD  UNDERSTANDING EASY  UNDERSTANTING

SOUNDS  ARTIFICIAL SOUNDS  NATURAL

INACCURATE  INTONATION  ACCURATE  INTONATION STRONG  FOREIGN  ACCENT SUBTLE  FOREIGN  ACCENT

1 2 3 4 5

Sound  File:   HARD  UNDERSTANDING EASY  UNDERSTANTING

SOUNDS  ARTIFICIAL SOUNDS  NATURAL

INACCURATE  INTONATION  ACCURATE  INTONATION STRONG  FOREIGN  ACCENT SUBTLE  FOREIGN  ACCENT

THIS  PHONETIC  ACOUSTIC  PERCEPTION  TEST  IS  PART  OF  A  RESEARCH  BEING   PERFORMED  BY  MARCELO  HENRIQUE  BARBOSA  IN  ORDER  TO  AQUIRE    A  

MASTER  DEGREE  IN  APPLIED  LINGUISTICS  AT  THE  PROGRAM  FOR  POST-­‐ GRADUATE  STUDIES  AT  Pontifícia  Universidade  Católica  of  São  Paulo  -­‐  PUC-­‐SP  -­‐

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO- PUC-SP

LAEL – APPLIED LINGUISTICS AND LANGUAGE STUDIES

PROGRAM OF POSTGRADUATION IN APPLIED LINGUISTICS

Marcelo Henrique Barbosa – RA00091384

RESEARCH: PRONUNCIATION AND INTELIGIBILITY ISSUES IN THE CONTEXT OF ENGLISH AS A FOREIGN LANGUAGE

This test is part of the above-mentioned research, which is currently in development by Marcelo Henrique Barbosa in order to conclude his dissertation required for the acquisition of a master’s degree in applied linguistics.

INSTRUCTIONS FOR ACOUSTIC PERCEPTION TEST

The objective of these instructions is to guide the participant, hereafter called judge, through the procedure of this test.

The test includes an Excel Sheet is composed of several information the judged must fill in and a zipped file with all 10 wave sound files to be listened to and rated.

Please, save both the sheet and the sound files in the same map in your hard disk. Once saved, open the Excel sheet and begin the test.

1- Place your headsets or headphones to guarantee the sound quality and to avoid interruption of other surrounding sounds.

2- As you click on the icon the map where you have saved the sound files will pop up. Choose the correspondent file and listen to it. Any kind of software, such as

Media Player, will allow you to listen to wave files.

The judge is allowed to listen to each sound three times. If you are still unsure, please place you rating and skip to the next sound file.

3- Once, you have listened, please place an X in the box of your choice. Here is an example of the sequence:

For each sound you will find an appropriate sequence of four (4) descriptors. Please choose a rating for each category and place an X in the correspondent box of your choice.

As you can see the categories are:

• HARD UNDERSTANDING EASY UNDERSTANDING

• SOUNDS ARTIFICIAL SOUNDS NATURAL

• INNACURATE INTONATION ACCURATE INTONATION

The ratings are marked with: • A scale of 1 to 5

• 1 as being the extreme impediments to your comprehension • 5 as being no impediment to your comprehension

If you consider a sound file to be easy to understand, place an X in the box marked with the numbers 4 or 5. If it sounds to you and neither easy nor hard, place the X in the middle and if it was difficult for you to understand, place the X in the box marked with the numbers 1 or 2.

4- Once you are done with one file skip to the next sound file and follow the same procedure described in item 1, 2 and 3.

5- When you are finished please save the Excel sheet and send it as an attachment

to marcelobarbosa77@gmail.com

Documentos relacionados