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Ao longo do nosso trabalho, apresentamos a Proposta como o

empreendimento político-pedagógico do Movimento que reflete

pedagogicamente seus princípios e objetivos gerais. Nosso trabalho se deteve no papel de mediação político-pedagógica representado pela Proposta para a construção do projeto educativo do Movimento.

Mais especificamente, se deteve no aspecto de mediação político-

pedagógica representado pela Proposta para aquelas professoras

comprometidas com a construção de um modelo de ensino que contemplasse, além das exigências de resultados do sistema oficial, os princípios e objetivos gerais do projeto social e político do Movimento.

A influência do poder público no resultado educacional dos Assentamentos é inquestionável. Entretanto, o sistema de ensino oficial (poder público) é um sistema de influência político-pedagógica gerado a partir de fora dos Assentamentos. A despeito de se encontrar dentro do Assentamento, sua influência é exercida de fora para dentro, é externa ao Assentamento.

A influência da Proposta de Educação do Movimento no resultado educacional dos Assentamentos é também inquestionável. A Proposta como mediação é um sistema de influência político-pedagógica gerado a partir de dentro dos Assentamentos. Seu papel de mediação é exercido de dentro para fora, é interna ao Assentamento.

Não estamos querendo dizer com isso que a influência, por ser externa ou interna, tem esta ou aquela qualidade definida de antemão, mas apenas que é exercida desde lugares distintos.

Nossa análise se deteve sobre quem' já tinha feito e continuava fazendo a escolha pelo Movimento e queria trabalhar para “romper as

cercas da ignorância”. O objetivo de nossa discussão é mostrar como e em

que medida a Proposta, como empreendimento educacional do Movimento, tem-se traduzido em uma determinada mediação política e pedagógica

Dentro dos limites do nosso trabalho, procuramos mostrar que a trajetória de implantação e desenvolvimento da Proposta no complexo escolar dos Assentamentos de Abelardo Luz se constituiu ao mesmo tempo como possibilidade pedagógica e como limite político para seu próprio desenvolvimento no universo escolar.

Esse limite político, como situação concreta, encontra um dos pontos de sua sustentação em um dilema político interno à Proposta. Os pólos desse dilema político são representados por dois valores internos da Proposta no universo do ensino oficial: a) o valor de ser portador do projeto político e pedagógico da Proposta e do Movimento, adquirindo legitimidade como professora; b) o valor de ser portador do diploma legal de habilitação docente.

Chamamos de impasse político vivido como dilema pelo corpo docente da Proposta à situação que se estabelece entre a demanda pela construção de seu modelo de educação e a demanda por completar uma carreira escolar que garanta sua posição de docente no sistema de ensino oficial na rede do Assentamento. Lembramos que entre as professoras, uma minoria faz parte do grupo que reúne os dois aspectos citados.

Todos no Movimento (militantes, simpatizantes, educadores, dirigentes e assessores) têm uma posição compartilhada a respeito da necessidade de aumentar o nível geral de habilitação do corpo docente da Proposta.

Todavia, entre investir em cursos de habilitação legal, que pode não garantir, mas com certeza aumenta muito as chances de permanência no sistema de ensino oficial, e investir em cursos de formação especializada do Movimento, abonadores da qualificação de sua Proposta, as escolhas dos coletivos dos Assentamentos implicados com educação foram sendo feitas pelos segundos.

A escolha por uma trajetória de formação que privilegiasse a especialização político-pedagógica da Proposta não nos parece o resultado de uma espécie de cegueira dogmática provocada por algum sectarismo político possivelmente incentivado pelo Movimento. Parece-nos mais que a questão da habilitação legal do corpo docente da Proposta sempre

representou um plano secundário de investimentos entre os coletivos pedagógicos do Movimento. “Fazer Magistério” é um projeto que todo mundo reconhece que “um dia terá que ser feito”, mas que vai sendo adiado na medida em que ele representa um obstáculo entre a professora do Movimento e sua Proposta. Parece-nos mais uma escolha lúcida e deliberada do Movimento e de suas professoras que estabeleceram uma hierarquia de valores entre as possibilidades que se lhes apresentavam no que diz respeito à construção de sua Proposta.

Por outro lado, para melhor ou para pior, mas sobretudo para além das possibilidades atuais e gerais do Movimento, o nível de implantação de sua Proposta depende hoje do nível de habilitação do seu corpo de professoras, em média e como um todo.

O Movimento tomou as providências ao seu alcance para dar uma

resposta ao problema de falta de habilitação de seus professores, já que desde 1989 vem implantando um sistema de formação de professores com a proposta de incluir habilitação legal para lecionar.

Isso resolve o problema do Movimento em parte. Mas ainda assim, a

maioria dos educadores de Assentamento se formou em atividades

educativas que não gozam de reconhecimento para efeitos de habilitação docente. Por outro lado, há a questão política: toda a rede escolar tem direção, essa direção tem projetos que podem ou não contemplar o projeto de ensino para os Assentamentos desenvolvido pelo Movimento, a depender do agrupamento político no governo a cada momento.

O limite político que apontamos é um limite potencial, que depende da

conjuntura política em torno das questões associadas à educação, em primeiro lugar, mas relacionadas também à conjuntura política em torno das questões associadas à Reforma Agrária como um todo. Ou seja, a depender da conjuntura, a falta de habilitação pode ou não pode vir a ser um limite à implantação da Proposta na rede escolar dos Assentamentos.

Para concluir, esta pesquisa não tinha como objetivo a análise da

proposta produtiva do Movimento; entretanto, esse dado surge

espontaneamente tanto nos discursos das pessoas entrevistadas como nos diálogos não registrados com assentados, dirigentes e técnicos, sugerindo um importante espectro de análise da Proposta de Educação do Movimento, a saber, a relação concreta que existe entre o modelo educacional, o modelo econômico e o modelo político do Movimento.