• Nenhum resultado encontrado

Ao longo do nosso trabalho, foi possível perceber o diálogo existente entre a tragédia e a épica no Agamêmnon de Sêneca. Um diálogo que foi estudado desde seus primórdios, quando a noção de gênero ainda não havia sido estabelecida.

Desde Platão até Quintiliano, tivemos uma perspectiva do quanto a tragédia e a epopeia andaram de mãos de dadas, dividindo características e significações. Vimos que tanto a tragédia quanto a epopeia possuem momentos narrativos e vimos as práticas sugeridas pelos autores em torno da narração dentro da tragédia. Ao catalogarmos os mensageiros das tragédias gregas e latinas, tivemos a certeza de que Sêneca, como um poeta brilhante, soube explorar plenamente a união entre tragédia e epopeia na escrita de seu Agamêmnon, mostrando que os limites para o jogo literário são bastante variáveis.

Utilizando-se de uma tragédia, o autor latino construiu em seu interior uma pequena obra “épica” que deu continuidade à tradição de escrever sobre o retorno dos heróis da guerra de Troia, tendo, assim, dado prosseguimento a duas tradições ao mesmo tempo: a trágica e a épica. Ao adotar poemas como a Eneida e os Nostoi como modelo, Sêneca assegura a nós, leitores, a importância que a tradição épica teve em sua escrita e nos direciona à forma de ler e interpretar seu poema.

Durante nossos estudos, constatamos que, ao trazer para uma tragédia uma narrativa épica de tão longas proporções, o autor latino, longe de ferir as convenções previstas para o gênero trágico, utilizou um direito que era seu de ousar e aplicar novas técnicas criativas, elevando, com isso, a relação entre os dois e abrindo um leque de possibilidades de leitura para sua peça.

Sêneca revisita tema e técnicas já bastante conhecidos na Antiguidade e dá a eles uma nova roupagem, mostrando que a literatura é um jogo eterno de reconstrução.

REFERÊNCIAS

ARISTOTLE. Poetics. Editio maior of the Greek text with historical introductions and philological commentaries by Leonard Tarán (Greek and Latin, and edition of the Greek texto) and Dimitri Gutas (Arabic and Syriac). London: Brill, 2012.

BARRET, James. Staged narrative: poetics and the messenger in Greek tragedy. Berkeley: University of California Press, 2002.

BEACHAM, Richard C. The Roman Theatre and Its Audience. Cambridge: Harvard University Press, 1991.

BELFIORE, Elizabeth. A Theory of Imitation in Plato’s Republic. In: LAIRD, Andrew.

Ancient Literary Criticism. New York: Oxford University Press, 2006.

BOURSCHEID, Marcelo. Ifigênia entre os Tauros, de Eurípides. Introdução, tradução e notas. Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2012.

BOYLE, A.J. Tragic Seneca: An essay in the theatrical tradition. New York: Rutledge, 2009.

BREMER, J.M. Why Messenger-speeches?. In: RADT, S.L., BREMER, J.M., RUIJGH, C.J.

Miscellanea Tragica in Honorem J.C. Kamerbeek. Amsterdam: Hakkert, 1976.

BRUNA J. A Poética Clássica: Aristóteles, Horácio e Longino. São Paulo: Cultrix, 2005. BUSHNELL, R. (ed.) A companion to tragedy. Malden (USA): Blackwell, 2005.

CREPALDI, Clara Lacerda. Helena de Eurípides: estudo e tradução. São Paulo: USP, 2013. Dissertação de Mestrado.

DAIN, A., MAZON, P. (ed.) Sofocle vol.1. Paris: Les Belles Letres, 1955 (reprod. 1967). ______.Sofocle vol.2. Paris: Les Belles Letres, 1958 (reprod. 1968). p. 138-194.

______. Sofocle vol.3. Paris: Les Belles Letres, 1960 (reprod. 1967). p. 78-152.

DANGEL, Jacqueline (ed.). Le poète architecte: ars métrique et art poètique latin. Textes rassemblés et edités par Jacqueline Dangel. Louvain: Éditions Peeters, 2001.

DAVIS, G. (Ed.). A Companion to Horace. Blackwell: Willey-Blackwell, 2010.

DORSCH, T. S. Classical Literary Criticism: Aristotle, Horace, Longinus. New York: Penguin, 1981.

DUPONT, Florence. L'acteur-roi: le théatre dans la Rome antique. Paris: Les Belles Letres, 2003.

EASTERLING, P. E.; KNOX, B. M.W. The Cambridge History of Classical Literature. Vol. I: Greek Literature. Cambridge: Cambridge University Press, 2003.

ÉSQUILO. Agamêmnon. Trad. Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras, 2004.

________. Tragédias – Os persas, Os sete contra Tebas, As suplicantes, Prometeu

cadeeiro. Trad. Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras, 2009.

EURÍPIDES. Duas tragédias gregas: Hécuba e Troianas. Trad. Christian Werner. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

FITCH, J. G. Sense-Pauses and Relative Dating in Seneca, Sophocles and Shakespeare. The

American Journal of Philology, vol. 102, n. 3, p. 289-307, 1981.

FONTES, Joaquim Brasil. Bella gerunt uenti: o sítio de Troia em Metamorfoses, XI, 410-748.

Phaos. Campinas: n. 10, p. 5-43, 2010.

GAFFIOT, Félix. Le Gaffiot de poche Dictionnaire Latin-Français. 5. ed. Paris: Hachette Livre, 2001.

GAZONI, Fernando Maciel. A Poética de Aristóteles: tradução e comentários. 2006. Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo: São Paulo. Dissertação de Mestrado.

GOLDBERG. S. M. The fall and rise of roman tragedy. Transactions of the America

Philological Association (Talpha), vol. 126, p. 265-286, 1996.

GOWARD, Barbara. Telling tragedy: narrative technique in Aeschylus, Sophocles and

Euripides. London: Duckworth, 2004.

GRIMAL, Pierre. Dicionário da Mitologia Grega e Romana. Trad. Victor Jabouille. 19. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.

_________. Essai sur L’Art Poétique d'Horace. Paris: Sedes, 1968.

_________. Sénèque ou la consciensce de l’Empire. Paris: Librairie Arthème Fayard, 1991. HORÁCIO. A arte poética de Horácio. Tradução de Dante Tringali. São Paulo: Musa Editora, 1993.

HORÁCIO. Arte Poética. Tradução, Introdução e Comentário de R.M. Rosado Fernandes. Lisboa: Clássicos Inquérito, 1984.

JONG, Irene J.F. de. Narrative in drama: the art of the Euripedean messenger-speech. Leiden: E. J. Brill, 1991.

LOHNER, José Eduardo dos Santos. O Agamêmnon de Sêneca: tratamento temático e estrutura. In: SANTOS, Marcos Martinho dos (org.). 1º Simpósio de Estudos Clássicos da

________, Variedade de gêneros e teatralidade em Sêneca. Clássica, n. 24, p. 86-102, 2011. MANUWALD, Gesine. Roman Republican Theatre. New York: Cambridge University Press, 2011.

MONRO, D.B. The poems of the Epic Cycle. The Journal of Hellenic Studies, vol. 5, p. 1- 41, 1884.

MOURA, A. R., A Poesia em Platão: A República e As Leis. Letras Clássicas, n 2, p. 201- 217, 1998.

MURRAY, G. (ed.). Euripidis fabulae, vol.2. Oxford: Clarendon Press, 1902 (repr. 1966). ________. Euripidis fabulae, vol.3. Oxford: Clarendon Press, 1902 (repr. 1966).

ORAZIO. Arte Poetica. Introduzione e commento di Augusto Rostagni. Torino: Loescher Editore, 1986.

PEREIRA, Isidro. Dicionário Grego-Português e Português-Grego. Braga: Livraria A.I., 1998.

PLATÃO. A República. Introdução, tradução e notas de Maria Helena da Rocha Pereira. Porto: Fundação Calouste Gulbenkian, 1990.

PLATÃO. Górgias ou A Oratória. Tradução, apresentação e notas do Prof. Jaime Bruna. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1970.

PLATO. On Poetry: Ion, Republic 376e-379b, Republic 595-608b. (Cambridge Greek and Latin Classics). Edited by Penelope MURRAY. Cambridge: Cambridge University Press, 2008.

RESENDE, Maria Luísa de Oliveira. Sófocles. Ájax. Tradução, introdução e notas. Lisboa: Universidade de Lisboa, 2013. Dissertação de Mestrado.

REZENDE, A.M. Rompendo o silêncio: a construção do discurso oratório em

Quintiliano. Belo Horizonte: Crisálida, 2010.

SAIS, Lilian Amadei. Reso, de Eurípides: tradução e estudo comparativo do tema da

astúcia. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2010. Dissertação de Mestrado.

SALVADOR, Evandro Luis. Tradução da tragédia As Fenícias, de Eurípides, e ensaio

sobre o prólogo (vv. 1-201) e primeiro episódio (vv. 261-637). Campinas: Universidade

Estadual de Campinas, 2010. Dissertação de Mestrado.

SARAIVA, F. R. dos Santos. Novíssimo dicionário latino-português. 12. ed. Rio de Janeiro: Garnier, 2006.

SÊNECA. Agamêmnon. Tradução, introdução, posfácio e notas de José Eduardo Lohner. São Paulo: Globo, 2009.

SÊNECA. Medeia. Tradução, introdução e notas de Ricardo Duarte. Lisboa: Sá Costa Editora, 2010.

SÉNÈQUE. Tragédies. Texte établi par François-Régis Chaumartin et émendé, presenté et traduit par Olivier Sers. Paris: Les Belles Letres, 2013.

SILVA, Fernando Crespim Zorrer da. Os caminhos da paixão em Hipólito de Eurípides. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2007. Dissertação de Mestrado.

SOFOCLES. Antígona. Tradução de Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Edição Fundação Calouste Gulbenkian, 2010.

_________. Rei Édipo. Trad. Ordep Serra. São Paulo: Peixoto Neto, 2004.

SÓFOCLES; EURÍPIDES. Electra(s). Trad. Trajano Vieira. São Paulo: Ateliê Editorial, 2009.

TARRANT, R.J. Seneca. Agamemnon. Cambridge Classical Texts and Commentaries, 18. Cambridge: Cambridge University Press, 2004.

VASCONCELOS, Helena. Procedimentos estilísticos no discurso do Mensageiro na Fedra de Séneca. Ágora: Estudos Clássicos em Debate, n. 10, p. 45-61, 2008.

VÁZQUEZ, Carmen Gonzalez. La figura del mensajero en la tragedia del Seneca. In: RODRÍGUEZ-PANTOJA, Miguel (Org.). Séneca, dos mil años después: actas del

Congresso Internacional Comemorativo del Bimilenario de su nascimiento. Córdoba:

Universidad de Cordoba y Obra Social y Cultural CajaSur, p. 231-235, 1997. VERGÍLIO. Eneida. Trad. Tassilo Orpheu Spalding. São Paulo: Cultrix, 2007.

VERGILIUS. Aeneis. Recensuit atque apparatu critico instruxit Gian Biagio Conte. Berlin: Walter de Gruyter, 2011.

WEST, Martin L. Greek epic fragments. London: Harvard University Press, 2003. _________. Studies in Greek Elegy and Iambus. Berlin: Walter de Gruyter, 1974.

ZARANITO, Cristiane Patrícia. Édipo em Colono de Sófocles. Tradução, comentário e notas. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2003. Dissertação de Mestrado.

Documentos relacionados