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Natal Parnamrim Nísia

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diversos trabalhos empíricos procuram investigar os fatores determinantes do desempenho escolar e este trabalho teve como objetivo fazer uma avaliação da qualidade do gasto público em educação para os dez municípios que compõem a Região Metropolitana de Natal (RMN). Neste estudo, o fator determinante utilizado para justificar o desempenho escolar foram os recursos públicos, ou seja, os gastos públicos realizados na função educação.

O ponto de partida para este estudo foi a compreensão da Teoria do Bem-Estar Social (Welfare State) e da Teoria da Escolha Pública. A primeira foi importante para entender como e por que o Governo intervém na economia, e a segunda, nos mostra que complicações econômicas e políticas afetam o desenvolvimento do bem-estar social. Entendemos que essas duas teorias tornam-se complementares, pois a intervenção do Governo na economia é necessária na provisão de bens e serviços, os quais precisam ser fiscalizados para evitar a ineficiência e a ineficácia das políticas públicas.

As mudanças ocorridas na política educacional a partir da Constituição de 1988, quando a educação passou a ser um direito social, foram diversas. No período de 1988 até 2010, destacamos as principais mudanças a respeito da educação: a criação da LDB, mudanças na forma de financiamento da educação e os diversos programas e ações criados para diminuir o analfabetismo e melhorar a qualidade do ensino. O estado do Rio Grande do Norte, devido à alta taxa de analfabetismo e ao baixo desempenho dos sistemas educacionais públicos, passou a ser atendido por programas de “caráter emergencial”, sendo beneficiado com o Programa Brasil Alfabetizado e a Política de Correção de Fluxo Escolar. Para o estudo do gasto, é essencial entendermos a forma de financiamento, e, neste trabalho, destacamos a atual, O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização do Magistério (FUNDEB). Além disso, verificamos, de acordo com os dados do SIOPE, que, em 2009, os dez municípios da RMN cumpriram a legislação do FUNDEB destinando, no mínimo, 60% dos recursos para a valorização do magistério.

Investigamos, também, alguns indicadores econômicos, sociais e educacionais de cada município da RMN e, com esses dados, identificamos problemas educacionais que influenciam na qualidade do ensino, resultando no desempenho, como é o caso da distorção

idade/série que está diretamente relacionada à taxa de reprovação e de abandono. Concluímos que a alta taxa de distorção idade/série é maior nas séries finais devido a essas séries apresentarem maiores taxas de reprovação e de abandono. E que resultados de desempenho considerados satisfatórios estão relacionados a municípios que apresentaram menores taxas de reprovação, abandono e, consequentemente, distorção idade/série. Concluímos, também, que são necessárias políticas públicas educacionais eficazes para solucionar problemas ainda persistentes e melhorar o desempenho do sistema de ensino.

Entendemos como qualidade do gasto o uso adequado dos recursos, isto é, se a atual política de financiamento da educação básica tem por objetivo a redistribuição de recursos para melhorar a qualidade do ensino, então esperamos que gastos realizados na função educação consigam retornar em desempenho escolar. A qualidade do gasto público em educação foi analisada, principalmente, pelo critério da eficácia, que avalia os objetivos propostos e os objetivos alcançados.

Para investigar a qualidade do gasto público em educação, utilizamos um modelo desenvolvido por Bertê, Brunet e Borges (2008), que através de indicadores de despesa e de desempenho torna possível desenvolver um indicador para a qualidade do gasto na função educação. As variáveis utilizadas são as matrículas na rede municipal, as despesas pagas na função educação e as médias de desempenho educacional municipal. Foram utilizados os dados do Censo Escolar 2009 – disponibilizado pela INEP – e da SIOPE. Os indicadores nos permitem avaliar e comparar o desempenho escolar, as despesas realizadas na função educação e a qualidade da despesa em educação realizada por cada município.

Os principais resultados encontrados mostram que elevadas despesas não significam melhor desempenho educacional, como é o caso de São Gonçalo do Amarante, Natal e Macaíba, os quais apresentaram indicador de despesa mais elevado, obtendo as piores classificações, entre os municípios, em termos de qualidade do gasto público. Para esses três municípios, as elevadas despesas não refletiram proporcionalmente em termos de desempenho dos estudantes, e o resultado foi uma redução da qualidade do gasto, nesse caso considerado ineficaz pelo fato de a despesa não conseguir retornar em desempenho.

O município de Parnamirim apresentou um indicador de despesa menor que São Gonçalo do Amarante e Natal, confirmando que é possível com uma despesa menor apresentar melhores resultados de desempenho e, consequentemente, melhor qualidade do gasto público em educação. De acordo com os indicadores educacionais, aquele município

também apresenta alta taxa de aprovação e menores taxas de reprovação, abandono e distorção idade/série em comparação aos demais municípios da RMN.

A elaboração do gráfico de dispersão foi essencial para relacionar os indicadores de desempenho e de despesa. Os parâmetros utilizados para o indicador de qualidade do gasto na função educação foram os seguintes: IQ =1 ou IQ > 1 indicam eficácia, e IQ < 1 indica ineficácia. Seguindo esse parâmetro, os municípios que apresentaram IQ < 1, ou seja, indicador de qualidade do gasto ineficaz, foram Natal, São Gonçalo do Amarante e Macaíba. Os demais apresentaram IQ > 1. O que se esperava era que a elevação das despesas resultasse em melhor desempenho dos estudantes, mas as evidências não mostraram isso.

Enfim, elevação da despesa só vai resultar em melhor desempenho dos estudantes se essa for realizada de forma eficiente e eficaz. A solução para melhorar a qualidade da educação – medida pelo desempenho – não está em apenas aumentar a quantidade de recursos, mas em estas despesas serem acompanhadas de mais critério de qualidade. O problema não está na quantidade de recursos, mas em como estes são alocados.

Infelizmente, como os dados da Prova Brasil são muito recentes, não foi possível fazer uma comparação entre a qualidade do gasto entre dois períodos de tempo, pois as mudanças relacionadas à educação requerem um prazo mais longo. Os resultados aqui alcançados desencadeiam uma série de perguntas que podem ser utilizadas em estudos futuros. Diante das desigualdades educacionais entre os municípios da RMN, podemos perguntar quais os mecanismos que, desde o território, impactam na escola produzindo desigualdades? Também já existem estudos, tais como o de Ferraz 2009, que mostram uma forte relação entre corrupção municipal na área educacional e o desempenho dos alunos da rede municipal na Prova Brasil. O baixo desempenho escolar nos municípios da RMN estaria ligado às “falhas do governo”, ou seja, a casos de corrupção na área educacional?

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