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O presente trabalho monográfico teve por escopo a defesa da motivação do ato de dispensa do empregado público, como requisito de validade do ato rescisório, nas empresas públicas e sociedades de economia mista, sejam elas prestadoras de serviços públicos ou exploradoras de atividade econômica.

Para efeitos de melhor compreensão, mostrará os pontos de maior relevância da pesquisa, conforme se depreenderá a seguir.

Inicialmente, procedeu-se a uma análise acerca da Administração Pública, demonstrando que as Empresas Estatais (EP e SEM) são integrantes da administração indireta e que não estão sujeitas, inteiramente, ao regime jurídico de direito privado nem ao de direito público. Podendo-se dizer que elas possuem um regime jurídico de natureza híbrida, haja vista que sofrem o influxo de normas de direito privado e de direito público em alguns setores de sua atuação.

Assim, quando a Constituição Federal, em seu art. 173, § 1º, instituiu como regramento dos integrantes das empresas públicas e das sociedades de economia mista, a sujeição ao próprio das empresas privadas, não quebrantou a aplicação do art. 37 da CF, pois atraíram para si normas próprias da administração direta, ao impingir-lhes obediência aos princípios da Administração Pública (art. 37, caput e art. 2º da Lei 9.784/99), a exigência de concurso público para ingresso em seus quadros (art. 37, II), a proibição de acumulação remunerada de cargos (art. 37, XVI), a irredutibilidade de salários (art. 7º, VI, da CF) e o controle financeiro e orçamentário (art. 70 da CF).

Viu-se, ainda, que o art. 173, § 1º, inciso II, da CF deve ser interpretado com certos temperamentos, e não de maneira literal e isolada como pretendem alguns, pois deve a nossa Cátedra Federal ser vista de forma unificada, conjunta, já que em vários dos seus artigos assegura a proteção ao trabalho, a dignidade da pessoa humana e a promoção da justiça social.

Verifica-se que, dentre os preceitos contidos no art. 37 da CF, exige-se, para a admissão de pessoal das empresas públicas e sociedades de economia mista, a prévia aprovação em concurso público. Demonstrando, posteriormente, que isto decorre do princípio da supremacia do interesse público sobre o privado, que derroga certas disposições de ordem privada em prol do interesse/bem comum.

Preliminarmente, demonstrou-se que, de acordo com o entendimento da melhor doutrina, o ato de despedida destes empregados configura-se como ato administrativo e, como tal, tem o dever legal de ser motivado, ou seja, deve conter a indicação por escrito dos fundamentos de fato e de direito que determinaram a sua prática.

Mostrou-se que, prevalecem na doutrina e na jurisprudência, a desnecessidade de motivação do ato de dispensa dos empregados das empresas públicas e sociedades de economia mista, de modo que ao administrador público é permitido, por seu livre arbítrio, a tomada da decisão de afastar ou não o empregado público de suas funções.

Ressaltou-se que, se não é livre a sua contratação do empregado público, já que é feita mediante uma seleção bastante criteriosa, a sua dispensa também deveria ser feita de maneira vinculada, sendo imprescindível a fundamentação de todos os motivos de fato e de direito que lhe deram causa.

Ademais, o fato de não terem sido beneficiados com a garantia da estabilidade prevista no art. 41 da Lei Maior (Súm. 390 do TST), não isentavam, os dirigentes estatais, da obrigação de justificar as dispensas dos empregados públicos das empresas estatais.

Dessa forma, desde que admitidos por meio de concurso, somente poderiam ser despedidos em face do interesse público, exigindo-se, como requisito de validade do ato administrativo, uma motivação suficiente e adequada.

Contudo, mesmo em se tratando de atos discricionários, o administrador está obrigado não só a fundamentar as razões da prática do ato, mas também a explicitar a adequação de tal prática em face do interesse público, além do mais deve demonstrar com precisão que o ato praticado atende, ou não, ao fim social alvitrado.

Até porque como os dirigentes dessas Empresas Governamentais atuam em nome do Estado, não detém o poder potestativo próprio das empresas privadas, e por essa razão, não podem dispensar os empregados públicos de livre e espontânea vontade, mas sim, apontando as razões de fato e de direito que possam justificar esse ato rescisório.

Sendo assim, a ausência de motivação dos atos de despedida dos empregados públicos das empresas estatais fere incontestavelmente os princípios fundamentais do Direito Administrativo, pois abre a possibilidade para as práticas

imorais, abusivas, com cunhos de perseguição e discriminação por parte dos seus dirigentes, causando uma enorme insegurança jurídica ao empregado público e a coletividade.

Apesar de ser este o atual entendimento de parte da doutrina e da jurisprudência de alguns Tribunais Regionais do Trabalho, o Tribunal Superior do Trabalho não vem acompanhando tais avanços, tendo em vista que sempre vem embasando suas decisões na OJ 247 SDI-1, que foi alterada pela Res. nº 143 do TST, segundo a qual defende que a dispensa do empregado público das EP e SEM não depende de motivação, o que, para nós representa uma grande falta de bom senso e de razoabilidade, abrindo espaço apenas para uma exceção a dos empregados públicos da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT).

Logo, entendem que esta motivação também deveria ter sido estendida aos demais empregados públicos, porque desrespeita os princípios da isonomia, moralidade, finalidade e impessoalidade, sendo, portanto, por consequência um ato nulo.

Percebeu-se também que com a falta de justificação, não há possibilidade de controle do ato tanto pela Administração como pelo Poder Judiciário. Passando- se o ato de discricionário a arbitrário, beirando o abuso de finalidade.

Conclui, ainda, que a falta de motivação do ato gera a criação de um ato completamente viciado, ocasionando o desrespeito a inúmeros preceitos constitucionais e infraconstitucionais, fazendo desaparecer o propósito almejado pelo concurso público e do interesse comum.

Enfim, diante de tudo que foi exposto neste estudo, defende-se a imprescindibilidade da motivação dos atos de dispensa dos empregados públicos das EP e SEM, como requisito de validade do ato rescisório, de forma a proteger o trabalhador contra despedidas arbitrárias e lhe conferir maior segurança jurídica.

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