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Considerações finais

No documento O conceito de práxis em Marx (páginas 43-49)

Até aqui examinamos separadamente as características que determinam o método que buscamos entender, o materialismo, a dialética e sua lógica, e uma interpretação de história em Marx que encontram-se intimamente conectados e juntos nos dão a possibilidade de uma

ferramenta metodológica com a qual trabalhar para obter os resultados que buscamos, a saber, um entendimento em relação À filosofia da práxis encontrada em Marx e desenvolvida por Vázquez.

Relembremos que a vertente do materialismo francês o qual Marx se filia já está desde o início imbrincada com fatores de produção e históricos (condições materiais de existência). Acrescentando a este material seu modo de exposição dialético obtemos um panorama do método inspirado por Marx, a saber, o método materialista-histórico-dialético, ou melhor, materialismo-histórico exposto de modo dialético em algumas obras, enquanto em outras temos uma abordagem materialista-histórica analítica (que não é expressa em modo dialético). Quando falamos de método depreendemos concepção de duas formas metodológicas, de um lado o materialismo-histórico, e do outro o modo de exposição segundo uma lógica dialética.

Neste sentido, por exemplo, a dialética, sua lógica, e seu movimento concreto (na história), enquanto conceitos, são pontos centrais em todas as obras de Marx, o que diferencia sua abordagem é somente o modo de exposição ora através de analise material histórica ora dialética propriamente dita.

Do materialismo Marx herda a capacidade prática de pensar o mundo em termos concretos, da história (enquanto história da luta de classes, ou história dos modos de produção) nosso autor retira o conteúdo que nos permite perceber tanto a continuidade histórica quando suas descontinuidades, isto graças à aplicação da lógica da dialética que desde já não é a mesma dialética hegeliana. Como dissemos, esta está comprometida em sua origem tanto com o aspecto materialista quanto com o aspecto histórico e ambos também se comprometem com este modo de explicitação tendo em vista a apreensão do todo em seu devir constante. Em outras palavras, tendo em vista os processos de constituição do homem em sua história, tanto em aspectos postos quanto em aspectos pressupostos, e meta- pressuposições quase totalizadoras.

Também vimos que este modo de exposição não está presente de forma contundente em todas as obras marxianas. Como foi dito, para Fausto o Manifesto Comunista e A Ideologia

Alemã são exemplos dessa não aplicação rigorosa da dialética. Ainda assim, não podemos

deixar de notar a necessidade, nessas obras, de que isto se passe exatamente assim, dado que é imperativo explicitar tanto aspectos de continuidade quanto de quase-totalização do processo histórico, ou seja, expressar um ponto de vista “historicista” em que o discurso posto domina e absorve o discurso pressuposto e também deixar claro que este mesmo discurso (posto),

quando entendido de uma perspectiva totalizante (negativa) se interverte em seu contrário, possibilitando uma visão ampla do todo social.

Além disso, para aqueles que se dedicam ao estudo das obras de Marx, esta informação pode auxiliar inclusive numa aplicação posterior da dialética a textos que originalmente não dispõem de uma tratamento rigorosamente didático e, também, auxiliar na argumentação em defesa da forma como o autor constrói sua teoria em face daqueles que o acusam tão facilmente de reducionista.

Ainda assim, o objetivo central deste capítulo, é o de nos esclarecermos e também aos leitores sobre os alicerces de onde partiremos para explicar o próprio conceito de Práxis que surge no horizonte das propostas marxianas como um princípio de ação que necessita de explicações ulteriores e sem este embasamento prévio da metodologia que seguiremos seria muito difícil mostrar nossos pressupostos ao explicar, por exemplo o porquê das mudanças na história do pensamento em relação ao termo práxis, ou mesmo a forma como extrairemos tal conceito dos textos marxianos fundamentando nosso caminho justamente com o auxílio das exposições aqui descritas, respeitando a corrente materialista de que procede Marx, escolhendo uma apresentação da história sempre adequada à nossa proposta conceitual e por fim respeitando e compreendendo melhor o modo de exposição dialético e sua lógica interna.

Capítulo II: A visão histórica da práxis na perspectiva

de Vázquez.

2.Visão histórica da Práxis na perspectiva de Vázquez.

Como é de se esperar a palavra práxis assume vários significados ao longo do tempo e em diversas línguas diferentes, na tentativa de rastrear sua terminologia específica para fins de entendimento do conceito filosófico de práxis, Vázquez admite a origem grega da palavra, a saber, πρᾶξις (Praksis). Para Aristóteles, por exemplo, a práxis se apresentava como um tipo de ação peculiar cujo fim não produz algo diferente da própria ação, em outras palavras, a ação da práxis para o estagirita deve ter o seu fim em si mesma, tais eram as ações políticas e éticas dos cidadãos na pólis, mais adiante esclarecimentos serão dados sobre esta visão. Em nosso tempo o sentido comum da práxis refere-se àquilo que é prático, não se distanciando do uso corriqueiro da palavra prática e lhe servindo, portanto, como sinônimo. Não obstante, o que procuramos não é a utilização corriqueira desta palavra, mas uma definição filosófica do que seria práxis em momentos históricos cronologicamente especificados e marcados por um modo de produção próprio.

Assim sendo, o termo em questão não pode se prender a acepções usadas no nosso cotidiano, pois neste campo a estreiteza de seu significado não dá conta de tudo o que é a práxis (apesar de compor uma parte do próprio conceito), a forma com que utilizamos este conceito enfrenta a contingência histórica da nossa época e mescla-se a uma consciência comum da práxis, o que buscamos superar com a aplicação da dialética-materialista-histórica marxiana. No nosso dia a dia utilizamos a palavra práxis para designar aquilo que é utilitário num sentido superficial de utilidade e isso não nos basta.

O prático entendido de forma comum está associado com a presteza nas ações, com as soluções da problemática cotidiana, com os benefícios da ação etc., com efeito, é comum designar o vocábulo para pessoas ou mesmo objetos sempre que suas ações ou serventia se mostram eficientes e que seu modo de operar pode ser facilmente reproduzido, ou ainda, para indicar a experiência em alguma habilidade que lhe é específica a qual ele executa de forma eficiente.

Aqui já obtemos um paralelo com os desígnios internos do modo de produção atual, o capital exige eficiência para obter mais valia37. Ser prático é o elogio do capital para aqueles

37A evidência desta afirmação pode ser encontrada em O Capital. Neste livro Marx nos fala dos princípios históricos e teóricos do capitalismo, mas exatamente, o tema da eficiência, entendido como uma das regras fundamentais do capital encontra-se contido na teoria da mais valia, dito de outro modo, para obter mais capital o capitalista deve valorizar a mercadoria somando a força de trabalho humana (adquirida no mercado) ao capital constante (ferramentas, maquinaria, matéria prima, oficina etc.), em busca de ampliar este valor a eficiência tanto por parte dos trabalhadores quando por parte do capital constante se torna um imperativo, geralmente

que demonstram eficiência. Posto que nosso ponto de vista não se prende somente a esta concepção, iniciemos nossa explanação sobre a práxis revisitando a história desde a antiguidade até o renascimento e posterior desenvolvimento do modo de produção capitalista, para termos noção de como mudanças na história material dos homens produziram dialeticamente diferentes visões da práxis.

Este movimento nos permitirá perceber a evolução do conceito em suas transformações e níveis de consciência, sempre ligados às modificações materiais-históricas associadas a um determinado período. A análise que pretendemos fazer aqui tentará respeitar uma apresentação dialética do tema, em que exporemos as contradições internas do próprio pensamento de cada época, a saber: a limitação do conceito de práxis na antiguidade clássica até atingirmos a negação dialética38propriamente dita que se inicia com a manufatura capitalista na renascença e se desenvolve até a grande indústria e permite notar claramente as nuances entre o conceito de práxis burguês e conceito de práxis que buscamos em Marx.

Neste capítulo tentaremos responder a algumas questões importantes, notadamente: nunca houve até Marx uma consciência da práxis? E se houve quais eram seus limites? A estas perguntas responderemos em diversas instâncias pois, como veremos, existem vários níveis de consciência da práxis, desta forma, sendo afirmativa uma parte da resposta da primeira questão, nos resta explanar como e porque existem esses níveis de consciência da práxis.

Nos valendo da interpretação da dialética histórica materialista do pensamento marxiano, exposta no primeiro capítulo, podemos tentar compreender como se dava a consciência da práxis nas diversas épocas históricas, ou melhor, não só como ela se dava, mas também explicar os motivos pelos quais ela aparecia no pensamento filosófico, de uma determinada maneira, numa conjuntura histórica dada.

perseguido com obsessão “todos os métodos de produção do mais valor são, ao mesmo tempo, métodos de acumulação, e toda expansão da acumulação se torna, em contrapartida, um meio para o desenvolvimento desses métodos” (MARX, 2013, p.720), ou seja, um meio para torná-los mais eficientes.

38 Lembremos aqui do sentido de negação a que chegamos no capitulo precedente, não se trata aqui de uma negação vulgar que por sua natureza anula seu contrário, mas sim uma negação dialética, ou seja, uma negação que aceita ambas as partes conflitantes como partes de um todo e nos leva a uma terceira posição que sintetiza o conflito gerado pela negação, gerando um sistema de quase-totalização que nos permite, quando aplicado à materialidade e à história, compreender o mundo social em seu movimento, não somente em instancias analíticas ou psicológicas.

No documento O conceito de práxis em Marx (páginas 43-49)

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