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I. A OBJETIVIDADE DA PROPOSIÇÃO FUTURA EM ARISTÓTELES

1.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste primeiro capítulo que investiguei a objetividade da proposição futura em Aristóteles, esclareci que o argumento de Aristóteles sobre a proposição futura implica que algumas proposições futuras são avaliáveis necessariamente como verdadeiras ou como

132 Conforme Kneale e Kneale (1962, p. 46-47), Aristóteles sugere que o pensamento que subjaz a proposição é

avaliável como verdadeiro ou como falso, pois um mesmo conjunto de palavras nem sempre expressa a mesma coisa para diferentes pessoas.

falsas; enquanto outras proposições futuras são contingentes, pois este tipo de proposição não é avaliável necessariamente como verdadeira ou como falsa. Também evidenciei a determinação semântica de toda proposição futura de Aristóteles, uma vez que, por definição, toda proposição implica uma unidade sintática e semântica, tanto para a proposição futura que é avaliável necessariamente como verdadeira ou como falsa, quanto para a proposição futura contingente; que há determinação referencial de toda proposição futura que só apresenta referente em ato que subjaz ao significado de cada um dos termos da proposição futura; e que não há determinação referencial de toda proposição futura que apresenta um referente em potência que subjaz ao significado de um dos termos da proposição futura; e, que há determinação lógica de toda proposição futura avaliável necessariamente como verdadeira ou como falsa, conforme a aplicação das teses lógicas, e que há determinação lógica incompleta de toda proposição futura contingente, uma vez que apenas a atribuição de valor-de-verdade a esta proposição encontra-se momentaneamente suspenso. Em função destes dados, posso afirmar que há objetividade de toda proposição futura que é avaliável necessariamente como verdadeira ou como falsa; assim como há objetividade num sentido fraco de toda proposição futura contingente, uma vez que ainda existe a possibilidade de que tal proposição possa ser avaliada como verdadeira ou como falsa.

Eu posso dizer que a interpretação de Aristóteles sobre a proposição futura – seja no caso da proposição futura que apresenta objetividade e no caso da proposição futura contingente que apresenta objetividade num sentido fraco – fundamenta-se em uma estrutura conceitual em que os três eixos teóricos, semântico, ontológico e lógico, se mostram complementares. Por outro lado, a teoria ontológica prepondera sobre a teoria semântica, pois todo processo de significação fundamenta-se em uma base ontológica. A teoria ontológica prepondera sobre a teoria lógica, pois toda atribuição de valor-de-verdade em função da avaliação da proposição futura deve considerar o que existe, a realidade, enquanto parâmetro. A teoria semântica é aplicada de modo equivalente à teoria lógica, pois, conforme a tese da correspondência, há uma equivalência entre o que é significativo e o que é pensado.

A partir da reconstrução da interpretação de Aristóteles sobre a proposição futura, evidencia-se que não se aceita a tese de que há um determinismo universal, embora se aceita a tese de que alguns eventos futuros já estão determinados, enquanto parte dos eventos futuros ainda está indeterminada. Aristóteles admite que existem proposições futuras avaliáveis necessariamente como verdadeiras ou falsas e proposições futuras contingentes. Todo evento expresso em uma proposição futura avaliável necessariamente como verdadeira ou falsa, pré- supõe que a aferição daquilo que é dito em relação àquilo que acontecerá já está determinada.

Esta determinação sobre acontecimentos futuros fundamenta-se na concepção de que o referente exclusivamente em ato expresso neste tipo de proposição não está nem estará sujeito ao devir. Todo evento expresso em uma proposição futura contingente ainda não está em condições de ser aferido, pois, neste caso, ainda não se pode aferir a relação entre aquilo que é dito e aquilo que acontecerá. Esta indeterminação futura fundamenta-se na concepção de que tudo aquilo que não é exclusivamente em ato, de que tudo aquilo que é em potência, encontra- se sujeito ao devir, sujeito a uma atualização que pode ou não ocorrer.

Não é difícil perceber que o modo como Cícero formula a questão da proposição futura – focado na consideração do significado da proposição, no que acontecerá conforme o expresso na proposição e no valor-de-verdade da proposição – é excedido pelas sutilezas conceituais da interpretação de Aristóteles sobre a proposição futura. Para Aristóteles, o significado da proposição futura depende da própria definição de proposição, enquanto uma unidade semântica; depende de termos semânticos, nome ou verbo, que compõem a proposição, mas que são significativos mesmo tomados isoladamente; e depende do modo de se estabelecer a significação considerando a substância enquanto uma referência fundamental, e todos os demais significados como dependentes de tal referência. O que acontecerá ou não acontecerá conforme o expresso na proposição futura depende de referentes que subjazem ao significado da proposição futura, considerando a substância e as demais categorias como seres determinados, sujeitos a modos de existir em ato, já determinado, e em potência, que, por sua vez, tende a ser determinado. O valor-de-verdade da proposição futura está condicionado à teses lógicas, pois depende do modo como através do pensamento se une ou desune conceitos, depende da consideração da correspondência entre o que existe, o que é pensado, e o que é dito com significado, depende da aplicação dos axiomas da não-contradição e do terceiro- excluído, e depende do que existe enquanto parâmetro para a avaliação, conforme uma noção de verdade categórica e imutável. Também fica evidente que a posição de Aristóteles para a aporia expressa no argumento dominador é muito mais complexa do que o modo como Epicteto formula a questão da proposição futura – a questão da proposição futura não se restringe à escolha de duas e recusa de uma terceira tese, sejam teses quais forem, mas requer a consideração de toda uma específica e ampla estrutura conceitual.

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