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Os conceitos de Lei, Direito, Justiça e memória, somado aos processos judiciais, relatos orais e recortes de jornais, formaram o pano de fundo desta pesquisa. O norte desta dissertação foi compreender como a atuação de Martins contribuiu para a luta da classe operária de Pelotas (RS) contra o patronato no momento de implantação da Justiça do Trabalho a partir de sua inserção no campo jurídico.

No primeiro capítulo apresentamos a participação ativa da classe operária brasileira na construção e regulamentação das leis trabalhistas. Partimos dos atos da Primeira República, analisando a intervenção do Estado sobre a questão do trabalho com a criação das primeiras leis que regulamentam as relações de emprego no Brasil. Aqui abordamos o contexto histórico do período pesquisado (1941-1945), destacando os processos de mudanças no cenário político, cultural e econômico que o país passou após o golpe liderado por Getúlio Vargas. Mostramos que, a partir da instalação da Justiça do Trabalho (1941), os trabalhadores tinham um novo meio de reivindicar por seus direitos. Apesar da JT ser “mal vista” por tratar de reclamações de operários, ela possuía autonomia do poder normativo, sendo responsável por criar normas que regulamentam as relações de capital e trabalho.

Trouxemos neste capítulo uma discussão que envolve a CLT. Autores como Gomes (2002) e Rodrigues (1979) defendem que o aparato legal era conhecido por grande parte da população. Em contraponto, French (2001) afirma que a legislação trabalhista ainda era desconhecida por grande parte da população. Partindo das reflexões de French, discutimos sobre a consciência jurídica da classe operária brasileira, analisando a intenção e atuação da CLT no âmbito trabalhista. Revelamos que o conjunto normativo outorgado pelo Estado partia do intuito de controlar as atitudes dos trabalhadores, mas serviu para unir a classe operária.

Guiadas pelas correntes thompsonianas, discutimos sobre o conceito de classe e o papel da experiência no processo da formação da classe operária brasileira. Entendemos que, para haver formação da classe, é necessário levar em consideração os aspectos individuais e coletivos que configuram o modo de vida dos indivíduos e mostram como eles enfrentam os patrões e Estado (LONER, 2001).

107 Fechamos este capítulo com a análise do campo jurídico. Objetivamos mostrar como se dá as regras desta arena. Os elementos que caracterizam este campo nos auxiliaram na compreensão das atitudes tomadas pelos atores ali inseridos. Entendemos que neste campo só é habilitado para atuar os operadores do Direito, que devem obedecer uma hierarquia jurídica. Analisamos o papel da língua jurídica, pois este campo traz um linguajar arcaico intencional, objetivando a neutralização e a universalização dos comportamentos da sociedade. Observamos que o indivíduo(s) que opta pelo campo jurídico como local de resolução de seu(s) conflito(s), deve estar ciente das regras e convenções deste campo, isto é, o indivíduo deve conformar-se com a decisão judicial. Destacamos o papel dos advogados como propagadores da lei, que por diferentes motivações (financeiras, políticas e ideológicas), fazem questão que a população conheça a legislação para assim procurarem seus serviços.

O segundo capítulo mostrou algumas facetas de Martins. Trabalhar com o conceito de memória de Candau (2011) neste capítulo foi imprescindível, pois assim conseguimos respeitar a verdade de cada fonte. A discussão acerca da biografia foi relevante para a construção deste capítulo. Fugimos do modelo apologético e utilizamos Martins como via de acesso para um contexto mais amplo, que são as lutas dos operários pelotenses dentro do âmbito jurídico. A narrativa de Aires mostrou como o filho de Martins construiu na figura do pai um personagem heroico, carregado de valores morais e éticos. Caracterizamos também como uma construção de um personagem heroico o relato de Daniel, mas como uma ressalva. O entrevistado criou para Martins um outro perfil, trazendo novas facetas para o advogado, mencionando que a fidelidade à classe operária estava acima de seus valores morais e éticos. A narrativa do próprio advogado mostrou que Martins construiu para si uma identidade de precursor do Direito do Trabalho.

Sobre sua militância comunista, percebemos a penetração quase que exclusiva de Martins junto aos sindicatos dos trabalhadores, pois conforme o relato do advogado, ele era advogado de quase todos os sindicatos da classe operária.

Contrapondo os relatos orais, os recortes de jornais utilizados na pesquisa trouxeram uma visão antagônica de Martins. Ao ter três reportagens ilustradas no jornal conservador Diário Popular, entendemos que Martins foi um homem notável

108 da sociedade pelotense. O processo utilizado neste capítulo trouxe a participação de Martins como parte reclamante. Coincidindo com o período de cassação aos comunistas, esse pleito judicial mostrou que havia atrito entre Martins e alguns dirigentes sindicais. Finalizando este capítulo, mostramos que a Justiça do Trabalho, viu neste processo que Martins era um trabalhador que não havia recebido o que lhe era de direito.

Ao utilizarmos os processos trabalhistas que Martins atuou como advogado em defesa exclusiva dos operários, as reflexões de Direito, Lei e Justiça de Thompson foram imprescindíveis para a análise documental. O capítulo 3 mostrou que a Justiça do Trabalho atuou como uma via de contestação e limitação sobre os trabalhadores. Contestação quando os trabalhadores procuravam a JT para pleitear por seus direitos, como nos dois primeiros processos analisados e limitação quando os empregadores desejavam repreender atitudes da classe operária, referindo ao processo da Cia Fiação e Tecidos Pelotense contra o empregado Ambrósio.

A análise quantitativa comprovou que Martins foi o advogado mais atuante nos pleitos trabalhistas durante o período de 1941 a 1945. Levantamos a hipótese que isto tenha ocorrido devido à atuação do advogado fora dos Tribunais, pois quando visitava os parques fabris propagandeava para os operários seus serviços jurídicos.

Este capítulo também mostrou as estratégias de defesa de Martins. Ao defender a classe operária constatamos que o advogado utilizava de um discurso que vitimava classe operária e enaltecia os valores morais e fraternos. As formas que Martins contribuiu para a luta da classe operária foram através dos processos trabalhistas, enaltecendo a figura do trabalhador. Entendemos que o advogado também colaborou para a construção da classe operária pelotense ao propagar os direitos legais dos trabalhadores dentro das fábricas. Assim, ao atuar exclusivamente para operários, Martins atuou como porta-voz dessa classe dentro do campo jurídico.

A atuação de Martins, na busca da reparação das injustiças laborais por meio da JT, demonstra a importância deste profissional na vida dos trabalhadores, posto que, o número de demandas trabalhistas aumentava significativamente a cada ano, tendo somente este advogado como o maior representante da classe. Acreditamos que o fato de sua militância comunista, influiu na sua inserção nos

109 sindicatos dos operários de Pelotas. Suponhamos que o aumento das reclamatórias trabalhistas estava intimamente ligado à atuação de Martins junto aos sindicatos que representavam o operariado.

Através da tabela 1, vimos o crescente ingresso de reclamações trabalhistas ajuizadas por Martins no ano de 1944. Possivelmente essas expressivas demandas colaboraram para a instalação de uma justiça especializada na resolução dos litígios trabalhistas. Surgindo em 1946, através da lei 8.022/194570, a Justiça do Trabalho de Pelotas.

Esta pesquisa mostrou a importância de analisar o subcampo do Direito (Direito do Trabalho), pois a partir das trajetórias de Operadores do Direto (que mostram suas expectativas, projetos, “paixões políticas” e interesses profissionais) é possível “pessoalizar” este campo que pretende ser impessoal.

Refletimos neste trabalho sobre parte da trajetória de Antônio Ferreira Martins, história essa que se entrelaça a inúmeras histórias de trabalhadores. Sabemos que as fontes judiciais são inesgotáveis, por isso, ressaltamos aqui que há outras possibilidades de análise dessas mesmas fontes. Uma delas seria a atuação do advogado das empresas Bruno de Mendonça Lima, que permitiria mostrar as estratégias utilizadas pelas empresas para sua defesa e a visão do patronato para com a CLT. É possível pensarmos também na análise da trajetória do magistrado Mozart Victor Russomano, considerando que este personagem teve participação ativa na posterior história do Direito do Trabalho, chegando a ser, na década de 1960, ministro e presidente do Tribunal Superior do Trabalho.

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Decreto Lei que cria novas Juntas de Conciliação e Julgamento e das outras providências. Disponível em: www.lexml.gov.br/urnurn:lex:br: federal:decreto.lei:1945-10-01 ;8022. Acessado em mar.2016.

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