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Concluído este relatório de estágio, é o momento de resumir aquilo que pude aprender e quais as questões que se levantam em torno do tema sobre o qual me debrucei, a gestão da informação num arquivo audiovisual televisivo. Antes de o fazer, devo, mais uma vez, frisar que esta foi a minha primeira experiência profissional num arquivo, de qualquer género. Daqui se depreende que quaisquer conclusões, embora ponderadas, poderiam ser alteradas com outras experiências profissionais, que me permitissem confrontar aquilo que vi no local onde estagiei, o arquivo audiovisual televisivo da RTP, com o que o trabalho realizado noutros locais. Assim o termo de comparação e de confrontação com a minha experiência resume-se à revisão de literatura que realizei, quer antes, quer depois do estágio.

Também no que à revisão de literatura diz respeito o meu conhecimento teórico sobre esta temática, embora muitíssimo superior ao que possuía há um ano, não pode ser nomeado de completo, que pela impossibilidade de ler – e aceder – a tudo o que está escrito sobre o tema, que pela profusão de normas ISO e NP associadas à temática.

Mais a mais um dos objetivos, que esteve por trás da opção de um estágio num arquivo audiovisual, era de o comparar com um arquivo “tradicional”. Também a revisão de leitura efetuada confirmou que este é um dos aspetos teóricos que mais discussão gera em relação aos arquivos audiovisuais, se estes são uma categoria independente e não subordinada aos arquivos “tradicionais”. Mais uma vez a fala de experiência num arquivo tradicional” dificulta as conclusões, mas existem alguns detalhes que me parecem saltar à vista.

A leitura e consulta de várias normas e regras geralmente aplicadas aos arquivos na sua generalidade, permitiram observar que nem sempre as categorias e práticas nelas descritas encontram par na maneira como o trabalho é realizado no arquivo da RTP.

Várias vezes ao longo da revisão de leitura foi afirmado que a fundamentação teórica associada aos arquivos audiovisuais televisivos é recente, tendo começado a surgir com mais intensidade na década de 80 e sobretudo na de 90. Aparenta, contudo, depois de comparar “aquilo que li com aquilo que vi” que ainda existe um caminho relativamente longo a percorrer na criação de bases teóricas mais fortes para os arquivos audiovisuais televisivos, sobretudo em relação à gestão da informação, a área sobre a qual este trabalho incide.

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O grande problema reside sobretudo na aplicação de termos chave, como documento e informação, que ainda não estão definidos convenientemente. Este fato poderá estar ligado a leitura de livros provenientes de Espanha, onde segundo o orientador deste trabalho, é dada uma grande importância ao documento.

No entanto, esta é a maneira errada de olhar para as coisas, pois aquando daquilo a que na RTP se chama de descrição arquivística, e na literatura efetuada se chama de análise documental, aquilo que está a ser analisado é a informação e não o documento. A tarefa engloba, também, mais do que uma análise, pois engloba o visionamento e a elaboração de resumos e de indexação, pelo que tratamento de informação me parece um termo mais correto. Não nego, contudo, totalmente o termo análise, pois poderá intuir-se que a palavra análise contém já todas as tarefas realizadas na descrição arquivística. Parece-me, contudo, que o termo documento não é o mais correto. O termo documento engloba o suporte e a informação, e quando da descrição arquivística não se está a trabalhar o suporte, mas somente a informação nele contida.

O fato de ser necessário continuar a percorrer o caminho da fundamentação teórica não implica, contudo, que devamos olhar para os arquivos audiovisuais televisivos enquanto entidade independente dos arquivos num sentido mais geral. Os objetivos dos primeiros são o tratamento da informação e a conservação e preservação dos documentos. Neste sentido não diferem do trabalho realizado em arquivos de outros géneros. É verdade que muitas das normas elaboradas para arquivos poderão não ser, exatamente, as aplicadas nos arquivos audiovisuais, e que estes poderão pedir normas separadas. No entanto especificidade não é sinónimo de independência.

Olhando para o estágio e para as tarefas nele realizadas, a descrição arquivística e a recuperação da informação, parece ser este o local para declarar o gosto que tive em desempenhá-las. E devo acrescentar que com o avançar do estágio e o aumento da dificuldade das tarefas, estas se foram tornando cada vez mais interessantes. Sendo um dos meus objetivos do estágio sentir o pulso ao trabalho desenvolvido num arquivo audiovisual televisivo, a conclusão atingida é de que se trata de um trabalho dinâmico e variado, devido às várias tarefas que compõem a organização da informação.

Abstendo-me de tecer quaisquer considerações sobre a preservação e recuperação dos documentos, áreas com as quais houve um contato extremamente reduzido, no que à gestão da informação concerne é-me possível retirar algumas conclusões. A primeira é

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que esta se trata de uma roda dentada com peso e importância consideráveis na produção televisiva, nomeadamente no que aos noticiários diz respeito. Infere-se assim que o correto funcionamento do arquivo é crucial para a televisão que chega a casa dos telespetadores.

A não existência deste tornaria a informação de uma cadeia televisiva de muito menor qualidade. Conclui-se também que a implementação de sistemas de gestão de ativos digitais aumenta enormemente essa qualidade, por permitirem uma facilidade e rapidez no trabalho incomparavelmente superiores.

A atualidade do trabalho de arquivo não se manifesta, contudo, única e exclusivamente no trabalho efetuado para a produção de novos programas. A conservação e preservação de programas antigos encontra uma nova vida na RTP Memória.

Ao longo deste trabalho foi também mencionado que durante a realização do meu estágio se estavam a ultimar os detalhes para o lançamento do site RTP Arquivos. Este disponibiliza de forma gratuita milhares de conteúdos, numa política de acesso aberto que tem vindo a sofrer uma cada vez maior implementação na área dos arquivos. Julgo, no entanto, ser importante relevar que os programas disponíveis neste site possuem uma qualidade de imagem reduzida, algo que, por um lado desincentiva a sua descarga eletrónica e por outro leva que continue a haver interessados em adquirir estes materiais como acontecia anteriormente. O reverso da medalha é, naturalmente, a possibilidade de esta menor qualidade dos conteúdos afastar alguns, possíveis, utilizadores.

De tudo isto se conclui que os arquivos audiovisuais televisivos são absolutamente indispensáveis à instituição em que se inserem, pelas vantagens que lhe trazem, e que, de um modo algo impercetível, têm também influência na vida de todos os cidadãos, pela importância que têm na produção da televisão que entra todos os dias em nossa casa e pela preservação da memória, de importância não só para nós, mas para as gerações que nos sucederem.

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