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"Se você não estiver ardendo, não poderá inflamar ninguém".

Serguei Iessienin (Poeta russo, 1895-1925)

A qualidade fundamental do ator, sobre a qual quis chamar a atenção, é convencer sua plateia da realidade em que ele está inserido. Portanto, o teatro só é teatro se estabelece uma relação com quem assiste, e assim também é com o cinema. O ator e a atriz, que brincam seriamente, nunca perdem o prazer em desempenhar a sua arte, mesmo quando vive em cena os maiores problemas da vida humana. O espectador entra no jogo, e por mais difícil que seja raciocinar

quando está seduzido pela peça ou filme, sente a ação e reage a sua maneira sobre o que está assistindo.

Todos esses estudos, técnicas, teorias e exercícios para o trabalho de atuação, são para encontrar a sensibilidade necessária para criar uma boa cena e através dela contar uma história, que precisa ser partilhada. A linguagem teatral e cinematográfica permitem que as pessoas sejam tocadas de uma forma que transcenda os limites narrativos. Para mim, ser atriz é ser um instrumento dessa expressividade. É comunicar, passar uma mensagem, ser parte de uma arte que transforma todos os que participam dela.

É por todo e qualquer tipo de transformações possíveis que eu escolho pensar, fazer e amar o teatro e o cinema. O teatro é exercício de doação. Não há nada no mundo que se compare com a sensação de subir no palco, inteiro, se conectar com seu público e para ele dar tudo que se tem pra dar. Assim como para o seu colega de cena, para a sua equipe. O corpo vibra, os sentidos se aguçam, os olhos brilham, a respiração acelera e por um tempo, todo mundo fica em suspensão. O audiovisual é exercício de paciência. É um processo longo e detalhado, em que se passa muito tempo, desde a formação da equipe até a exibição do filme. O ator, quando grava, está em um momento de sua vida e quando assiste, está em outro. Enquanto isso, se aprofunda em processos que exigem muito estudo e cuidado. Fazer um bom filme é um trabalho muito profundo que deve conectar todas as partes da maquinaria para funcionarem como um só.

Parando para pensar, é incrível que as pessoas deem seu dinheiro suado para entrar numa sala escura onde sentam e ou olham para um palco iluminado com gente em cima, andando de um lado para o outro, ou para uma tela cristalizada na qual as imagens se movem e falam. A sala escura e silenciosa existe para deixar o espectador mergulhado em sua fantasia. Os atores, ali na frente, podem fazer todas as coisas que você quer fazer, dizer todas as coisas que você quer falar, beijar como você gostaria, ser corajoso de uma maneira que você quer ser. O público simplesmente tem a oportunidade de se entregar.

Eu escolho atuação como campo de trabalho pela intensidade dos processos. Treinar o nosso corpo para responder de maneira verdadeira, no aqui e agora da

cena, aos estímulos imaginários que um roteiro ou uma peça nos propõem; ser outra pessoa por alguns minutos, para comunicar, transmitir algo significativo, transformar, transportar, tocar e arrepiar quem assiste e estimular visões críticas. O teatro e o cinema, de fato, se aprendem na experiência de fazer. Mas nada se aprende nem se realiza sem acompanhar uma reflexão rigorosa e exigente.

Essas reflexões metodológicas que escrevo para os atores ou os que pretendem um dia serem atores, são um exemplo da generosidade da qual o teatro me imbuiu. Eu quis compartilhar o que eu descobri e aprendi, para que outras/outros amantes do teatro e cinema também possam compreender que atuar vai muito além de simplesmente decorar e dizer um texto. Para atuar você precisa ser. Fazer, com coragem e confiança.

Durante todos os anos estudando no curso de Licenciatura em Teatro, nas experiências externas à universidade que tive oportunidade de participar e especificamente no curto tempo que passei no Núcleo de Estudos para o Audiovisual, eu aprendi novos ensinamentos, com diferentes pessoas.

Hoje entendo que, sempre existirão desafios e que por isso, precisarei buscar mais informações, mais estudos e práticas. O importante é estar disponível para o que vier, principalmente em se tratando de arte.

Costuma-se dizer que existem vários métodos de atuação. E, toda essa reflexão me faz pensar que não existe um melhor ou mais correto, e sim aquele que encaixa melhor em um determinado projeto. Independentemente da linguagem, existem técnicas, metodologias que pessoas anteriores a nós se esforçaram muito para descobrir, testar e registrar. Uma vez que temos acesso a isso, que motivo existiria para não se querer conhecer o máximo de maneiras para se chegar a bons momentos de cena?

Com o conhecimento, e só através dele, é que se pode ter certeza de qual metodologia se adapta mais a cada artista. Treinar o seu corpo, se apropriar da técnica escolhida e se doar inteiramente são o grande trunfo da atuação. Este artigo apresenta este lugar do intérprete não apenas como profissão, mas como um lugar de inquietação permanente, que transforma cada personagem numa oportunidade de pesquisar e aprofundar os estudos. E, ainda, de se colocar no processo de saber

o que eu quero dizer. Porque existem tantas coisas para serem ditas por tanta gente.

Nas palavras de Stanislavski, a arte do ator é feita para o homem, pelo homem e sobre o homem. A vida é um ensaio, uma improvisação, um recriar diário.

Eu quis que esse artigo fosse um depoimento significativo da minha paixão pela atuação. Um incentivo a fazer e ver teatro, a produzir e assistir cinema. Um ato de fé na arte, criado por uma atriz que não se contentou em voar sobre o palco e bateu as asas até o set de filmagem. E que espera a partir de agora alçar novos voos.

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