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2 PARA COMPREENDER OS FUNDAMENTOS HISTÓRICO-ONTOLÓGICOS DA ORDEM DA REPRODUÇÃO SOCIOMETABÓLICA DO CAPITAL

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A crise estrutural do capital, ao que tudo indica, é um fenômeno inédito na história da humanidade, com o potencial de afetar todo o sistema do capital e não apenas alguns dos seus aspectos isolados como já aconteceu antes. Nesse sentido, qualquer solução viável a sua existência deve estar para além do limites estruturais do sistema do capital. A superação da crise estrutural do capital pressupõe a superação do próprio sistema do capital. Os seres humanos coletivamente organizados devem retomar o controle sobre o processo de produção e apropriação da riqueza, deixando para trás o período da história no qual o produto domina o produtor e o acaso, através da manifestação de crises periódicas, dita a “racionalidade” do sistema de controle social. O trabalho tem papel predominante nessa tarefa histórica por se configurar como o sujeito real da reprodução social.

O mundo em que vivemos está sendo dinamitado por todos os lados. A crise estrutural é como o pesadelo que atormenta a humanidade por ter criado um monstro chamado capital.

A crise estrutural é um fenômeno histórico que possui suas bases na intensificação estrutural das contradições internas do sistema do capital no modo de produção capitalista. A sua manifestação histórica afeta a totalidade do complexo social do capital em todas as relações com suas partes constituintes ou subcomplexos. Justamente por isso, tal crise, se configura como um fenômeno novo na história humana. Ela não se restringe a um ou outro setor da produção capitalista, ela afeta a sua totalidade, ao passo que também é uma crise política, uma crise das relações sociais efetivadas sob o imperativo alienante do capital. Por isso, se pode afirmar que ela possui um caráter universal. Por ser uma crise de caráter realmente mundial, graças ao processo de acumulação e autoexpansão intrínsecos ao desenvolvimento do sistema do capital. Por ser permanente e possuir um padrão de desdobramento que permite o seu escamoteamento sob a aparente normalidade do sistema.

Por efetivar-se de tal modo, a crise estrutural do capital impede a eficiente interação das dimensões fundamentais do sistema do capital, impedindo com isso o seu normal desenvolvimento, ou seja, impedindo a realização do seu padrão normal de acumulação de riqueza privada.

As principais consequências sociais da crise estrutural do capital se verificam na ativação dos limites absolutos do capital. Tais limites constituem problemas sociais que não encontram resolutividade sob a dominância histórica do sistema do capital, porque, solucioná-los implicaria a eliminação histórica do próprio sistema do capital.

A ativação desses limites impõe a humanidade o desafio histórico de ou engendrar uma forma de organização social qualitativamente oposta ao sistema do capital, ou ser submetida a condições de vida cada vez mais insustentáveis que apresentam a possibilidade da autodestruição da vida humana. Logo, faz-se imperativo pensarmos no viável desenvolvimento das forças produtivas com vistas a restabelecer a conexão orgânica entre o produtor, os meios e o produto do seu trabalho. Pois, é possível constar que já houve formas de organizações sociais nas quais predominavam a produção coletiva e orientada da vida material. Restabelecida essa conexão, o alto nível das forças produtivas alcançado pela produção capitalista poderia, finalmente, ser colocado a serviço das reais necessidades humanas.

Qualquer alternativa viável a crise estrutural do capital parece apontar nessa direção, já que, hoje, em face do processo de descenso histórico do sistema do capital, que limita sua margem de manobra, o Estado moderno, que faz parte da base material desse sistema de controle sociometabólico, não se encontra mais aberto mesmo a concessões, e também não pode mais realizar a coesão econômica das estruturas reprodutivas desse sistema de acordo com seu impulso totalizador, ávido por acumulação, expansão e extração de trabalho excedente.

O sistema do capital configura-se como o primeiro sistema de controle sociometabólico sem sujeito da história. Nele os próprios controladores são controlados. O trabalho, assim, que é o sujeito real da produção, encontra-se submetido a um pseudo-sujeito, corporificado nas várias personificações existentes

do capital. E só o trabalho como tal, pode oferecer uma alternativa viável a esse sistema sociometabólico de controle sem sujeito, não o Estado, esta não é sua função desde sua origem.

REFERÊNCIAS

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MÉSZÁROS, István. Capítulo 2 – A ordem da reprodução sociometabólica do capital; Capítulo 5 – A ativação dos limites absolutos do capital; Capítulo 14 – A produção de riqueza e a riqueza da produção; Capítulo 18 – A atualidade histórica da ofensiva socialista. In: Para Além do Capital: rumo a uma teoria da transição. Trad. Paulo César Castanheira e Sérgio Lessa. São Paulo: Editora da

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Sites:

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The origins of the financial crisis: crash course

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Para compreender a crise financeira

Disponível em: < http://www.diplomatique.org.br/acervo.php?id=2410> Acesso em: 25/03/2014