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Parte Final

6. Considerações finais

parte dos municípios brasileiros, este tra- balho redesenha o país na forma da de- manda habitacional futura desagregada por renda, por carências habitacionais e por tamanho dos domicílios.

O método adotado para projeção da demanda foi o de taxas de chefia de do- micílio (headship ratio), o qual revelou forte feminização das taxas de chefia de domicílio. Se em 1993, 80% dos do- micílios brasileiros eram chefiados por homens, em 2003 essa proporção havia decrescido para 78%. Se nenhuma mu- dança comportamental ou de outra natu- reza interromper a trajetória verificada, confirmando as hipóteses da projeção, espera-se que, em 2023, 61% dos 80,2 milhões de domicílios sejam chefiados por homens e 39% por mulheres.

Outro fenômeno que se destaca é o en- velhecimento populacional, refletido no aumento do total de domicílios chefia- dos por pessoas com mais de 65 anos. Do lado oposto, verificou-se queda do total de domicílios chefiados por jovens, a qual por seu turno, relaciona-se com o prolongamento da adolescência, bem como com a postergação da transição para a formação de família.

A análise do fluxo de formação de do- micílios revela um bônus demográfico na demanda por habitação, revelando que o momento é muito positivo do ponto de vista da implementação das políticas públicas. Até 2015, com a existência de fluxos decrescentes de formação de do- micílios, supõe-se que menos recursos precisarão ser alocados para necessida-

des correntes. Advém justamente desse fenômeno a possibilidade de alocação dessa folga orçamentária momentânea para corrigir o enorme déficit habitacio- nal acumulado.

Em relação às carências habitacionais, projetam-se alguns avanços. Entre 2003 e 2023, projeta-se que aumentará, em 17,2 pontos percentuais, a proporção dos domicílios considerados como não- carentes em relação ao total dos domicí- lios – aumentando de 56,2% do total de domicílios do conjunto país, em 2003, para 73,3% em 2023. O ‘déficit por re-

posição do estoque’ também cairá em 6,6

pontos percentuais entre 2003 e 2023, revelando, inclusive, uma diminuição no número absoluto de domicílios, em 835 mil unidades.

A queda da participação relativa da cate- goria de domicílios categorizados como

inadequados, por sua vez, é de 10,5 pon-

tos percentuais entre 2003 e 2023 – com incremento, em números absolutos, de 1,25 milhões de unidades. Isso poderia ser considerado um retrocesso, pois o que em tese se ganharia com a queda, em termos absolutos, da necessidade de reposição de estoques seria consumido pelo incremento de mais de um milhão de unidades caracterizadas como inade-

quados no total de domicílios. Ademais,

o estoque projetado de domicílios defici- tários (classificados como inadequados e

déficit) soma mais de 20 milhões de domi-

cílios em 2023, ou 27% do estoque total. A projeção da demanda por categorias de renda revelou movimentos de transição

dentro das categorias de renda mais bai- xa. Verificou-se diminuição da demanda entre aqueles que ganham menos de um salário mínimo, que representarão, con- siderando-se um cenário otimista de pro- jeção, apenas 1,9% do total de domicílios projetados para 2023. Por outro lado, espera-se o incremento da proporção de domicílios com renda superior a dois sa- lários mínimos. Esse cenário estima que, do total de 80,1 milhões de domicílios projetados para 2023, apenas 15,4% es- tariam nas categorias de renda abaixo de dois salários mínimos, projetando-se um decréscimo de 22,8 pontos percentuais nas duas categorias de renda mais bai- xas, em contraposição ao aumento nas demais categorias.

Já o tamanho dos domicílios está redu- zindo, sendo que os domicílios unipesso- ais passarão de 11,1% do total em 2008 para 16,2% em 2023. Os domicílios com duas pessoas também aumentarão nesse período e passarão de 20,6% do total em 2008 para 26,5% em 2023. Diminuirão, sobretudo, os domicílios maiores, com três pessoas e mais, que em 2008 repre- sentavam 68,2% dos domicílios e, em 2023, serão 57,3% protagonizando uma queda de 10,9 pontos percentuais na participação no estoque de domicílios projetados.

De modo geral, no período analisado verificam-se mais avanços do que re- trocessos, pois, embora permaneçam as desigualdades regionais históricas, iden- tifica-se certa tendência de arrefecimento das disparidades. Ainda que as regiões Norte e Nordeste sejam historicamente aquelas com piores indicadores, neste

caso, a Região Centro-oeste superou este estigma. Estimou-se que, em 2023, ape- nas 51,4% dos domicílios dessa região serão adequados, sendo que 41,4% cons- tituirão déficit (por reposição de estoque) e 7,1% serão inadequados. A situação da Região Nordeste, embora seja pre- cária, melhorou no período, entretanto existirão, em 2023, 15,6% de domicílios deficitários e 26,9% de domicílios ina- dequados. Na Região Norte, 9,6% dos domicílios em 2023 serão deficitários e 28% serão inadequados. As regiões Sul e Sudeste, por outro lado, lideram com os maiores percentuais de domicílios adequados e os menores percentuais de domicílios deficitários.

Em relação à renda, o cenário regional também apresenta avanços, conside- rando-se apenas o cenário otimista. Na Região Norte, verifica-se uma queda ex- pressiva na participação domicílios com renda inferior a dois salários mínimos e aumento significativo na participação dos domicílios com renda superior a dois salários mínimos no período de proje- ção. Na Região Nordeste, a proporção de domicílios com rendas mais baixas apresenta uma queda importante, mas a proporção dos domicílios com renda superior a três salários também diminui, embora em patamar menos importan- te. O contraponto se verifica com o au- mento da proporção dos domicílios com renda entre um (exclusive) e três salários (inclusive). Em relação à renda, a Região Centro-oeste apresenta comportamento similar ao da Região Norte no período. A disparidade comparativa com as regi- ões Sul e Sudeste se mantêm, sendo que nestas últimas a proporção de domicílios

cresce somente na maior categoria de renda.

Em que pese o tamanho do domicílio estar diminuindo no Brasil, o desenho regional também apresenta suas singu- laridades. É na Região Norte onde de verificará, em 2023, a maior proporção de domicílios com cinco moradores e mais, representando 21% dos domicílios contra 8,9% na Região Sul. Também se destaca, na Região Norte, a menor pro- porção de domicílios unipessoais, sendo 13,1% dos domicílios contra 17,2% na Região Sudeste. Contudo, em todas as regiões se verificam proporções signifi- cativas de domicílios com três e quatro moradores.

Os resultados da projeção têm sido signi- ficativamente úteis na quantificação das demandas por habitação e do volume de recursos necessários e, até o momento, os resultados têm se revelados robustos e confiáveis. Como qualquer outra proje- ção populacional, é desejável que sejam feitas revisões periódicas para se adequar as hipóteses da projeção às informações levantadas continuamente pelos órgãos de estatísticas oficiais, bem como para se incorporar fatos novos de difícil previsão. Sendo assim, é pertinente que observa- ções locais sejam continuamente contra- postas com as projeções aqui apresenta- das, de forma a melhorar continuamente o desenho das políticas habitacionais no país. Ressalta-se o fato da maioria dos municípios brasileiros serem de peque- no porte e, dessa forma, a demanda por novas moradias pode ser estimada com elevado grau de precisão por meio de levantamentos in loco. Assim, não se es-

pera que a projeção aqui elaborada para todos os 5.564 municípios brasileiros te- nha maior precisão que os dados coleta- dos diretamente por gestores municipais comprometidos com política habitacio- nal de suas localidades.

Há também que se ressaltar que a situa- ção não melhora por inércia, e os resul- tados negativos não devem ser tomados como proféticos e sim como subsídios para o planejamento e a gestão da ques- tão habitacional, no sentido de se aten- der à demanda qualificada.

Pretende-se que a demanda quantificada neste trabalho se constitua um indicador para os gestores da política habitacional em nível local, estadual ou federal. Um indicador que oriente o poder público especialmente no atendimento à deman- da por habitação daquela população que não consegue acessar a moradia pela via do mercado formal e, sem ações plane- jadas por parte do poder público, essa população acaba tornando-se estatística de inadequação, de déficit habitacional e de insuficiência de renda. É papel do pla- nejamento habitacional indicar a prio- rização do atendimento aos segmentos de baixa renda e, por essa via, em longo prazo, transformam o déficit e inadequa- ção em moradias adequadas e dignas no futuro.

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