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O mundo perceptivo é uma condição para qualquer conceituação e articulação científica. De acordo com os filósofos Husserl (1913/2006) e Merleau-Ponty (1945/1999), há uma relação mais original entre o sujeito e o mundo do que a manifestada na racionalidade científica. O nosso conhecimento do mundo, incluindo o nosso conhecimento científico, surge a partir de uma perspectiva de primeira pessoa, e a ciência não teria sentido sem esta dimensão experiencial. No entanto, a padronização de procedimentos e o desenvolvimento de instrumentos que fornecem medições precisas facilitaram a acumulação e a generalização de dados de terceira pessoa, bem como o estabelecimento de um consenso intersubjetivo. Dessa forma, a tentativa de uma aproximação entre fenomenologia e cognição se torna não apenas viável, mas desejável, visto que diferentes perspectivas se somam e auxiliam na investigação da relação mente-mundo, da relação entre o eu e o outro e da relação mente-corpo.

Com o intuito de aproximar o estudo de fenomenologia quase-experimental a uma perspectiva de terceira pessoa, lançou-se mão de medidas objetivas para avaliar as variáveis em questão. Nesse sentido, a revisão sistemática teve o objetivo de auxiliar na escolha de instrumento robusto para posterior mensuração da imagem do corpo no estudo empírico. Embora os resultados tenham revelado ausência de padronização no uso de instrumentos para medir a variável, optou-se por utilizar a Escala de Figuras de Silhuetas, uma vez que é um dos poucos instrumentos que investiga tanto a dimensão atitudinal quanto a dimensão perceptiva da imagem corporal. Cabe-se destacar que o método de revisão sistemática, apesar de ser o mais usual dentre os estudos de revisão atualmente e o mais aceito nas revistas científicas, especialmente na área da saúde, possui uma série de problemas que devem ser levados em consideração na avaliação crítica dos dados.

Loureiro (2012) apontou uma lista de vantagens em relação às revisões sistemáticas. Dentre elas, o autor citou o poder de síntese, a objetividade, a possibilidade de replicação e de ser verificável. Em função dessas vantagens, as revisões sistemáticas se tornaram mais frequentes em estudos de intervenção na saúde e consequentemente sua taxa de aceitação em periódicos dessa área também, destacando nossa submissão às políticas editoriais das revistas (Madigan, Johnson, & Linton, 1995). Em contrapartida, deve-se levar em consideração que as revisões sistemáticas têm se tornado um procedimento ingênuo e bancário de produção científica, onde o óbvio procedimento de buscas é exaustivamente descrito e os resultados pifiamente apresentados. Infelizmente, a popularização desta forma de revisão apenas confirma o que se convencionou chamar de academicismo. O que importa na revisão é sim a localização

das pesquisas relevantes e a discussão analítica e fundamentada. Tratar artigos como dados e os descrevê-los como procedimentos estatísticos agrega pouco valor real ao produto final. Neste trabalho, seguiu-se a forma atualmente aceita pelos periódicos científicos, mas se procurou ser analítico e crítico no espaço restante para discussão.

O estudo empírico da dissertação buscou compreender a relação entre os processos de percepção e ação, especificamente a percepção de imagem corporal e o senso de agência. Buscou-se também investigar a interação com a variável IMC. Os resultados indicaram que indivíduos com maiores distorções na percepção de imagem do próprio corpo não apresentaram pior desempenho na tarefa com ilusão perceptiva, porém revelaram menor nível de confiança nas respostas de agência, indicando que a imagem corporal pode possuir um papel importante no desempenho em tarefa de conflito sensoriomotor.

Por sua vez, o estudo de revisão identificou que não está claro na literatura de obesidade se funções perceptivas são comprometidas pelo acúmulo de peso. Esse dado vai ao encontro dos resultados do estudo empírico, os quais indicam que o excesso de peso não tem relação com a distorção perceptiva de imagem corporal, mas sim com a insatisfação quanto ao próprio corpo. Nesse sentido, percebe-se que a imagem corporal desempenha um papel na dimensão atitudinal em indivíduos que estão acima do peso, mas não na dimensão perceptiva. No entanto, devido ao pequeno número de participantes na amostra e por se tratar de uma pesquisa quase- experimental sem objetivo de generalização, é importante que mais estudos sejam realizados com o intuito de investigar a relação entre imagem corporal e obesidade. Destaca-se a falta de padronização de instrumentos de avaliação da imagem corporal, apontada pela revisão, revelando divergências psicométricas em relação ao construto. Esse dado revela que, embora esse conceito venha sendo bastante discutido na literatura, sua mensuração permanece inconclusiva. E quando a avaliação de construtos da área da psicologia apresenta incongruências, dificulta seu avanço científico. É necessário que mais pesquisas sejam realizadas a fim de refinar a área da psicologia que faz ponte com as ciências exatas e que também auxilia na melhor compreensão da relação entre o sujeito e o mundo.

REFERÊNCIAS

Atallah, A. N. (1997). Revisões sistemáticas da literatura e metanálise. Diagnóstico & Tratamento, 2(2):12-5.

Gallagher, S. & Zahavi, D. (2006). Phenomelogical approaches to self-conciousness. Stanford Encyclopedia of Philosophy.

Loureiro, S. A. (2012). Revisão Sistemática da Literatura [Online]. Available: http://vision.ime.usp.br/~acmt/revisao-sistematica-literatura.pdf.

Madigan, R., Johnson, S., & Linton, P. (1995). The Language of Psychology - APA Style as Epistemology. American Psychologist, 50(6), 428-436.

Shwed, U. & Bearman, P. S. (2010). The Temporal Structure of Scientific Consensus Formation. American Sociological Review, 75(6), 817-840.

ANEXO A – Parecer de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa

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ANEXO B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Título da pesquisa: Lócus de controle e senso de agência em mulheres com compulsão alimentar periódica e obesidade na tarefa da mão alienígena

Nome do pesquisador: Marcelle Matiazo Pinhatti

Nome da instituição: Universidade Federal do Rio Grande do Sul/Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

Ao assinar este documento estou consentindo participar do estudo realizado pela pesquisadora Marcelle Matiazo Pinhatti sobre os temas impulsividade, ação motora e obesidade.

O objetivo da pesquisa é investigar se pessoas com obesidade e impulsividade sofrem algum prejuízo na ação motora.

A análise será conduzida por meio de alguns instrumentos para avaliar impulsividade, obesidade e imagem corporal. Além disso, será realizado um experimento.

O experimento consiste em uma tarefa na qual os participantes traçam com caneta uma linha dentro de uma caixa. Realizada a tarefa, o pesquisador perguntará se foram eles que executaram a ação observada. O trabalho é orientado pelo Prof. Dr. William B. Gomes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e co-orientado pelo Prof. Dr. Thiago Gomes de Castro da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. A pesquisa tem parceria com a PUCRS e o Grupo de Pesquisa Fenomenologia: Ação e Percepção.

Declaro ter recebido uma explicação clara e completa sobre as tarefas que participarei, a que me submeto de livre e espontânea vontade, reconhecendo que:

1º Foi explicada a justificativa e o objetivo da presente pesquisa, que consiste na elaboração de Dissertação de Mestrado.

2º Foi explicado o procedimento que será utilizado, bem como os instrumentos que serão aplicados. 3º Estou ciente de que poderei interromper a realização das tarefas quando desejar, assim como não sou obrigado a responder todas as questões propostas.

4º Participarei desta pesquisa sem qualquer ônus financeiro para mim.

5º A minha assinatura neste documento dará autorização ao pesquisador para utilizar os dados obtidos quando se fizer necessário, incluindo a divulgação dos mesmos dentro das prerrogativas de sigilo e preservação de identidade inerentes à pesquisa científica.

6º Assino o presente documento em duas vias de igual teor, ficando uma em minha posse.

Em caso de qualquer desconforto gerado no momento da aplicação do instrumento, o participante poderá recorrer ao Comitê de Ética do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CEP- PSICO). O telefone de contato do CEP-PSICO é (51) 3308-5066 e o e-mail: ceppsico@ufrgs.br.

O pesquisador responsável por este projeto é o Prof. Dr. William B. Gomes, tendo esse documento sido revisado e aprovado pelo CEP-PSICO. Para quaisquer esclarecimentos, a pesquisadora Marcelle Matiazo Pinhatti coloca-se à disposição através do telefone (51) 9627-1481 ou pelo e-mail: cellematiazo@gmail.com.

____________ ________________________ ______________________ ____________________ Data Nome Assinatura/Participante Assinatura/Pesquisador

ANEXO C – Questionário Sociodemográfico Questionário Sociodemográfico Iniciais do nome: Sexo: Idade: Lateralidade manual:

Nível socioeconômico (renda familiar):

Até 2 SM De 2 a 4 SM De 4 a 10 SM De 10 a 20 SM Acima de 20 SM *SM = Salários Mínimos Visão: Peso: Altura: IMC (kg/m2): Abaixo do Peso (<18,5) Peso Normal (entre 18,5 e 24,99) Acima do Peso (entre 25 e 29,99) Obesidade Grau I (entre 30 e 34,99) Obesidade Grau II (entre 35 e 39,99) Obesidade Mórbida (>40)

Você se considera uma pessoa obesa?

Há quanto tempo você tem o peso aproximado atual?

Nos últimos 5 anos, você notou variações intensas no seu peso? Faz atividades físicas regulares?

Qual a frequência?

Faz uso de alguma medicação?

Qual(is)? Qual dosagem?

Você já foi ou é fumante?

F M

Destro Canhoto Ambidestro

Normal Corrigida SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO 61

Qual a frequência? Quantos cigarros por dia?

Fez ou faz uso de bebida alcoólica?

Quantas vezes por semana? Qual a quantidade por uso?

Fez ou faz uso de drogas ilícitas? Qual(is)? Qual a frequência? Grupo do participante: 1) 2) 3) 4) 5) 6) SIM NÃO SIM NÃO 62

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