O grau em que as actividades recreativas realizadas ao ar-livre, e as áreas ecologicamente protegidas, se tornaram “comercializáveis” pode ser constatado pelo uso frequente de imagens representativas desses momentos de lazer, e dessas paisagens, para propagandear uma série de bens e entidades, públicas ou privadas (Shultis, 2001). Essa crescente procura de bens ambientais, verificada nos últimos anos, teve igualmente o seu reflexo na pesca de carácter recreativo, com o número de indivíduos que procuram na actividade piscatória momentos de lazer e de contacto com a natureza a aumentar significativamente (Santos et al, 2001), existindo, actualmente, perto de 219 mil pescadores recreativos.
Assim, pode considerar-se que a pesca de carácter recreativo constitui uma área importante da utilização de recursos biológicos naturais e da gestão de recursos hídricos. Como utilizadores esclarecidos destes recursos, os pescadores recreativos têm um papel preponderante na sua defesa e conservação, desempenhando uma função importante na sensibilização de toda a comunidade para a necessidade de protecção e utilização racional do património aquícola. Como tal, devem adoptar códigos de conduta consistentes com uma ética de conservação dos recursos, assumindo a educação um papel de grande importância, pois servirá como motor para a mudança de atitudes.
Urge, igualmente, incrementar o papel dos recursos aquícolas no desenvolvimento do meio rural, associado ao incremento do turismo no espaço rural, o qual só poderá ser conseguido através de uma participação activa dos utilizadores na gestão destes recursos (DGF, 2001). Desta forma, para além dos consideráveis benefícios sociais e recreativos associados a esta actividade desportiva e de lazer, o crescente desenvolvimento da pesca lúdica e desportiva poderá beneficiar a economia do país, estimulando várias industrias ligadas à área, e chamando à atenção das autoridades competentes para o controlo da poluição da água, exploração dos recursos, degradação do meio ambiente, etc.
Relativamente ao património aquícola, há a salientar o facto das espécies exóticas poderem provocar impactes nas comunidades nativas, mas é indubitável o valor de algumas delas para a pesca recreativa e consequentemente para o desenvolvimento socio-económico de muitas regiões do país (Oliveira et al, 2007).
Em suma, tal como Arlinghaus e Mehner (2004) referem, para conseguir uma gestão sustentável dos recursos aquícolas é necessário, cada vez mais, para além de estudar as características intrínsecas dos ecossistemas, aprofundar o conhecimento das dimensões humanas inerentes às actividades desenvolvidas nas águas interiores.
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