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Item 3 – Planeamento do movimento/jogo a partir de observações das crianças

5 Considerações finais

No decorrer deste relatório sobre a PES que realizei em Creche e Pré-Escolar, reforcei a importância de diferentes teorias referentes à organização do espaço e tempo pedagógico, às interações adulto-criança, criança-criança e adulto-adulto, com enfoque, na apropriação do espaço exterior, nas brincadeiras, aprendizagens e movimentos como promotores da aprendizagem ativa.

A concretização desta investigação ajudou-me a entender a importância dos espaços exteriores, no processo de desenvolvimento e aprendizagem das crianças, na medida em que possibilitam oportunidades e experiências significativas e abrangentes.

Constatei que os contextos educativos em que as crianças participam têm uma grande influência na qualidade das experiências que vivenciam. Também verifiquei que os espaços exteriores possibilitam um adequado desenvolvimento global, ocasionando benefícios fisiológicos, psicológicos, intelectuais e sociais para as crianças (Miller, Tichota & White, 2009). Os espaços ao ar livre são espaços que possibilitam uma grande riqueza em termos educativos, promovendo a interação social - criança-criança, criança-adulto nas brincadeiras e nos momentos vividos; uma exploração dos materiais existentes neste espaço (p.e. a observação e contacto com diferentes cheiros, sons, texturas e fenómenos naturais). São espaços que possibilitam que as crianças desenvolvam habilidades motoras fundamentais (p.e. correr, saltar, trepar, balançar, etc.), numa área na qual se sentem livres, algo que nos espaços interiores são ações inexequíveis de experienciar (Silva et al., 2016). Por conseguinte, as crianças ao brincarem nos espaços exteriores consolidam, espontaneamente, a sua autonomia e confiança, competências úteis para encararem diferentes desafios no futuro (Thomas & Harding, 2011). Apesar de serem reconhecidos os diferentes benefícios das explorações e aprendizagens ao ar livre, o espaço exterior é ainda insuficientemente privilegiado pelas instituições e educadores/as de infância.

Na PES em Creche, numa etapa inicial, senti distintas inquietações e inseguranças, precisamente, na criação de uma conexão pedagógica com as crianças. Com o objetivo de ultrapassar esta dificuldade, recorri a vários referenciais teóricos sobre práticas pedagógicas em Creche, e conversei informalmente com a educadora cooperante e orientadoras. Inicialmente, procurei estabelecer afinidades com cada uma das crianças, nas quais o afeto e a sensibilidade foram essenciais. Outra particularidade foi o aprofundamento da comunicação não-verbal, no qual aprendi a colocar-me na perspetiva das crianças. Aprendi a observar e a admirar cada exploração, descoberta e conquista. Senti que as crianças confiavam em mim, tendo passado de

uma presença estranha na sala a um membro da equipa. Sobretudo, aprendi como num contexto de aprendizagem ativa posso estimular o desenvolvimento de diferentes aprendizagens, com destaque nas experiências nos espaços exteriores.

No que respeita à PES em Educação Pré-Escolar, depois da assimilação do quotidiano da sala, uma das grandes dificuldades sentidas interligava-se com a organização do grande grupo, nomeadamente, no desenvolvimento de várias atividades em simultâneo, na qual pude contar com o apoio da educadora cooperante, para que experienciasse a melhor maneira de organizar o grupo de crianças, em articulação com a auxiliar de ação educativa. Progressivamente, a minha intervenção foi melhorando, passei a sentir-me mais à vontade nestes momentos, comparativamente às primeiras intervenções. Também nesta PES descobri a pertinência da MTP, pois permitiu-me conhecer melhor o grupo de crianças nas quais desenvolvi a prática pedagógica, e a mim própria, enquanto profissional da educação. A MTP tem uma grande incidência no desenvolvimento da criança, pois promove a sua autonomia, encorajando-a a pensar e a encontrar soluções para transpor os obstáculos encontrados. Ao mesmo tempo, transmite-lhe a liberdade e aptidão de decisão. O meu grande desafio neste projeto foi distinguir interesses reais, que orientaram o grupo à realização da intervenção do espaço exterior do Colégio, admitindo uma imensa envolvência das crianças, no qual foram «vozes» ativas neste processo.

Fazendo uma retrospetiva, posso afirmar, com convicção, que é possível desenvolver uma variedade de aprendizagens e inúmeras temáticas, no espaço exterior, nas quais, o/a educador/a: deve apoiar as aprendizagens da criança; ser um observador e executor das necessidades do grupo/individuais; estimular as capacidades e encorajar as crianças no seu processo de aprendizagem; responder a questões e promover diálogos. Ao longo deste tempo, a necessidade de criar «pontes» foi outro desafio, nomeadamente, cooperar com as famílias. Tentei criar um ambiente e comunicação baseada na confiança, sinceridade e respeito, que foi pertinente para criar e promover o envolvimento e participação das famílias nas diferentes propostas. Considero que poderia ter aprofundado melhor a temática do estudo junto dos encarregados de educação, de modo a conhecer os seus hábitos de contacto com os espaços exteriores, e consequentemente, incluí-los no processo de análise e reflexão desta investigação.

Realço, o/a educador/a de infância que, como gestor/a do currículo, tem um papel fundamental em relação à organização do ambiente educativo. De acordo com o Perfil Específico de Desempenho Profissional do Educador de Infância (Decreto-Lei n.º 241/2001,30 de agosto de 2001), o mesmo deve:

[Organizar] o espaço e os materiais, concebendo-os como recursos para o desenvolvimento curricular, de modo a proporcionar às crianças experiências educativas integradas; [disponibilizar e recorrer a] materiais estimulantes e diversificados, incluindo os selecionados a partir do contexto e das experiências de cada criança; [exercer] a uma organização do tempo de forma flexível e diversificada, proporcionando a apreensão de referências temporais pelas crianças; [estimular e gerir] os recursos educativos, nomeadamente os ligados às tecnologias da informação e da comunicação; [criar e manter] as necessárias condições de segurança, de acompanhamento e de bem-estar das crianças.

Evidentemente, é essencial que o/a educador/a auxilie as crianças quando frequentam os espaços exteriores. Os recreios exteriores devem ser organizados, tal como a sala de atividades, justamente, pelas oportunidades de desenvolvimento e aprendizagem que proporcionam às crianças. O espaço exterior é um local muito rico em experiências e vivências, cheio de oportunidades de exploração para as crianças, e “[…] alarga em muito o reportório das experiências sensório-motoras” (Post & Hohmann, 2011, p.161). Portanto, devem-se criar condições de segurança com o intuito de possibilitar às crianças oportunidade de exploração destes espaços e construção de aprendizagens.

Pessoalmente foi muito positivo, enquanto estagiária, ter vivenciado estes momentos. Destaco a maior aprendizagem, especialmente, valorizar o papel da criança como sujeito ativo da sua própria aprendizagem. As PES representaram, para mim, as melhores experiências de todo o meu percurso académico e, apesar de todos os medos, dificuldades, angústias e obstáculos/desafios, permitiram que me superasse a mim mesma, dia após dia. Motivaram-me a lutar pelo meu sonho, por esta profissão apaixonante que é a de Educadora de Infância, a ser inovadora, crítica e reflexiva. Seguramente, a realização da presente investigação ajudou-me a construir a minha identidade profissional e a minha perspetiva sobre o brincar no exterior, sustentada no processo de observação, planificação, ação e reflexão/avaliação.

Finalizo esta etapa não a saber tudo, sei que tenho ainda um extenso caminho a percorrer, mas com a consciência que devo valorizar as opiniões individuais de cada criança, tornando-as agentes ativas nas suas vivencias, descobertas e aprendizagens.