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Trabalhos de revisão bibliográfica permitem uma amplitude de abordagens, reforçando a sua relevância no desenvolvimento e avanço da etnobotânica. Os resultados aqui apresentados reforçam a necessidade de incentivar ações voltadas para projetos de revisão bibliográfica em busca de se compilar e construir novos bancos de dados em diferentes estados, regiões e biomas, almejando-se no futuro construir um banco de dados em escala ecossistêmica para todo o Brasil, capaz de proporcionar uma melhor compreensão da nossa biodiversidade, além de comparações e estimativas mais robustas entre regiões e ecossistemas distintos.Tais esforços são ainda mais necessários em regiões ainda pouco estudadas, como também sobre determinadas categorias de plantas, como é o caso das plantas alimentícias.

As análises em função das comunidades envolvidas, das regiões, estados e fitofisionomias mais estudadas, se destacam como medidas estratégicas, na medida em que proporcionam aos pesquisadores uma visão mais ampla e concreta da concentração de estudos em determinada área e evidencia as lacunas existentes e as futuras demandas de pesquisa. Desta forma, é possível direcionar aos futuros pesquisadores, áreas específicas com maior potencial para novas descobertas.

Reforça-se a importância na correta identificação das espécies coletadas em pesquisas etnobotânicas, chamando atenção para as etapas fundamentais do processo de herborização e identificação. Devido a não identificação completa de várias plantas, a presente revisão pode ter deixado de compilar muitas espécies.

Em relação às espécies medicinais, percebeu-se que os biomas Mata Atlântica e Caatinga apesar de apresentarem certa semelhança no compartilhamento das famílias mais representativas, não possuem uma grande similaridade florística para espécies utilizadas para tal finalidade. Isso pode estar relacionado com a influência de fatores como a origem das espécies, assim como com o distinto perfil sócio-cultural das comunidades locais. Da mesma forma também houve uma baixa similaridade entre os biomas dentre os três níveis taxonômicos observados para as espécies alimentícias, devido principalmente ao número pouco expressivo de espécies compiladas, em razão do baixo número de artigos selecionados que investigaram essa temática.

A representatividade das famílias, gêneros e espécies mais citadas para ambos os biomas e entre as categorias estudadas não é resultado apenas de um fator pontual, mas de fato é o reflexo de uma

série de fatores que conjuntamente determinam a diversidade e representatividade, tais como: adaptabilidade, o teor de compostos secundários, a diversidade estimada em escala mundial, nacional e ecossistêmica, a proporção de espécies nativas e exóticas e o próprio perfil cultural das comunidades locais.

Em relação a parte usada e a forma de vida das espécies, propõe-se a seguinte hipótese: Tanto as folhas quanto as plantas de pequeno porte (ervas), se destacam como mais conhecidas e utilizadas não só em comunidades localizadas em áreas pertencentes ao território original da Mata Atlântica, como também em comunidades localizadas em áreas pertencentes ao território original da Caatinga, no entanto, partes como a casca e a raiz quanto as plantas de médio e grande porte (arbustos e árvores), assumem maior destaque de uso na Caatinga do que comparado com as áreas de Mata Atlântica. A explicação para essa diferença entre os biomas se fundamenta principalmente no fator ambiental, representado pelo período de estiagem prolongado ocorrente em áreas semi-áridas, responsável por proporcionar às comunidades locais um maior revezamento tanto de partes usadas quanto de formas de vida das plantas, em função da ausência das folhas nas espécies nativas e do estrato herbáceo nessa época. Já para as espécies alimentícias, as plantas de médio e grande porte e o fruto se destacam como possíveis principais recursos predominantes no uso e conhecimento de plantas alimentícias em ambos os biomas.

Apesar do presente estudo não apontar diferenças entre as proporções de espécies nativas e exóticas, foi possível observar várias especifidades e compartilhamentos de famílias, gêneros e de espécies mais citadas entre os biomas, apontando-se vários fatores como a estimativa de diversidade, teor de compostos secundários como o próprio perfil cultural das comunidades na influência dos resultados. O resultado do presente estudo também corrobora com outras pesquisas em relação ao destaque de determinadas famílias, gêneros e espécies, confirmando a relevância desses táxons para os biomas estudados.

É indispensável aos pesquisadores a percepção dos fatores que podem configurar a representatividade de determinada parte usada, forma de vida e a origem das espécies, ficando claro que não só fatores ambientais, como fatores de outras naturezas e a própria metodologia da pesquisa podem colaborar na configuração da representatividade.

É relevante reforçar que devido aos critérios adotados no presente estudo, é possível que alguns artigos não tenham sido selecionados, por não estarem indexados nos portais de busca utilizados e nem disponíveis nas revistas brasileiras pesquisadas. Assim, tanto a

quantidade de espécies medicinais e alimentícias disponíveis nesses ambientes como o número de espécies conhecidas e usadas por comunidades locais desses biomas pode ser muito maior do que foi compilado nesta revisão. Além disso, deve-se considerar que pelo objetivo da compilação de espécies medicinais e alimentícias conhecidas e utilizadas por comunidades locais em regiões distintas dentre os biomas estudados, nem sempre foi possível manter a homogeineidade de artigos compilados, tendo alguns artigos certo tipo de viés (artigos enfocando somente plantas nativas, artigos com listas de espécies parciais, etc.). Apesar disso, além de permitir um maior número de espécies registradas, acredita-se que essa metodologia não tenha afetado os resultados encontrados, tendo em vista as comparações e corroborações evidencias com resultados de outras literaturas. Deste modo, espera-se com o presente estudo ter obtido uma representação o mais próximo da realidade possível, tendo nos dados apresentados um suporte para futuras pesquisas.

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