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Buscamos ao longo do presente trabalho analisar as políticas de avaliação da educação superior nos seus diferentes aspectos, incluindo os processos de formulação das políticas avaliativas nos governos de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, até a materialização das mesmas.

Identificamos e analisamos concepções de educação e avaliação, que nos levam a concluir que uma forte pressão existiu no sentido de romper-se com avaliações quantitativistas vivenciadas no governo FHC, priorizando-se os interesses públicos e não mercadológicos na condução de uma política de avaliação.

Apontamos para a transição de modelos, e junto com ela a perspectiva de mudança iniciada a partir da instituição do SINAES, com a construção de discursos contrários às avaliações impostas, e defensores da construção de uma outra proposta de educação e de avaliação para a educação superior.

Certamente a construção dos discursos que culminam nessa visão emancipatória de avaliação foram gestados a partir das experiências e vivências adotadas nas políticas de avaliação de governos anteriores. Apresentamos na análise realizada algumas evidências que exemplificam a construção da política avaliativa da era Lula, a partir de discursos resgatados em governos passados, comprovando-se que um discurso pode ser produzido a partir de outros.

Nessa conjuntura, a perspectiva sistêmica de avaliação ganha força, como também a possibilidade do Estado se responsabilizar pela condução das avaliações das instituições, não sendo conivente nem delegando a agentes externos a possibilidade de disseminar a ideologia mercadológica nas práticas avaliativas das instituições.

O SINAES demonstra que avaliar não se resume a punir ou premiar, mas tem por finalidade conhecer os problemas e encontrar formas para superá-los em conjunto, e não através do alto grau de imposição existente em inúmeras práticas institucionais e políticas.

Assim, o SINAES tenta romper com as práticas vivenciadas no governo anterior na medida em que reorienta a concepção e os propósitos da avaliação, visando o crescimento coletivo das instituições de ensino superior.

Consideramos de extrema importância o questionamento a respeito da responsabilidade social das universidades, por exemplo, e nesse processo a avaliação desempenha um papel fundamental, se considerada sob uma perspectiva crítica, cujo foco seria o conjunto de práticas de uma instituição.

Concordando que a política de avaliação no governo FHC teve suas raízes na reforma neoliberal, observamos no âmbito da política avaliativa do governo Lula uma menor ênfase nesse enfoque, como também no apelo a algumas idéias pertencentes a essa conjuntura, uma vez que na política de avaliação proposta, como vimos, apresentam-se mais evidentes as contraposições do que os pontos convergentes.

Como fundamento para essa afirmação, citamos a redefinição do discurso, concebido e entendido a partir da união de alguns elementos que ao ganharem uma outra conotação a partir das forças políticas e sociais em confronto, elaboraram propostas e consolidaram uma nova fase no âmbito das políticas de avaliação para a educação superior.

Desse modo, percebemos que princípios mencionados acima fazem parte da política avaliativa do governo Lula, como a participação, a solidariedade e o coletivismo, como também a tentativa de se imprimir à avaliação uma conotação que não se articule a questões mercadológicas. Contudo, não podemos deixar de negar que seria difícil romper totalmente com o mercado de acordo com a proposta da política educacional nesse governo, uma vez que destacamos inúmeras iniciativas ocorridas, inclusive com a reforma da educação superior, que fortalecem a relação do governo com o mercado e a iniciativa privada.

Assim, concluímos mencionando que consideramos de extrema importância o estímulo à realização de práticas avaliativas baseadas numa visão de educação e avaliação

contrárias à fragmentação, à hierarquização e à simples certificação. Devemos reconhecer a função social desempenhada pela avaliação, e principalmente o valor de práticas que favorecem a utilização dos resultados das avaliações em benefício das próprias instituições.

Por fim, destacamos que a sistematização de nossos resultados e conclusões se propõe a somar-se aos inúmeros estudos existentes no âmbito da educação superior. Entretanto, reconhecemos após a realização do trabalho que algumas questões surgiram, podendo ser aprofundadas por outros pesquisadores em estudos posteriores.

Citamos como uma das sugestões o aprofundamento acerca do contexto de produção dos discursos, especificando forças políticas e discursos que estavam competindo entre si responsáveis pela formulação das políticas avaliativas nos governos FHC e Lula. Além disso, apontamos para a necessidade de haver uma reflexão sobre as convergências e divergências existentes entre as políticas estudadas, que são fruto de processos políticos e de confrontos entre diferentes discursos que vão se recompor numa heterogeneidade a ser analisada mais profundamente.

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