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CONSIDERAÇÕES FINAIS As políticas públicas para aleitamento materno no Brasil trazem como principal

No documento Tatiane Vieira (páginas 60-67)

objetivo a diminuição da morbimortalidade infantil, levando em conta os aspectos biológicos e orgânicos do leite humano para o desenvolvimento da criança e deixando de enfatizar questões culturais, históricas e sociais que envolvem o ato de amamentar. A maternidade é socioconstruída e supervalorizada e o corpo da mulher acaba sendo visto apenas como reprodutor e lugar de alimento para o bebê, tornando a mulher que não tem o desejo ou vontade de amamentar, uma pessoa excluída por não estar exercendo o seu papel social.

Pudemos perceber que na UTIN fica mais evidente a força social exercida pelo aleitamento materno, visto que mesmo num contexto de cuidados excessivos, resultante da delicadeza da situação dos bebês, as mães sentem-se ansiosas por amamentar e quando por algum motivo orgânico ou não, não há sucesso no aleitamento materno, elas frustram-se. Para lidar com a frustração, há necessidade de uma escuta dos profissionais que os auxiliam durante esse processo.

Nesse contexto em especial pudemos notar que as mães acabam por ter dependência desses profissionais que podem estar imbuídos de regras e normatizações, disciplinando as ações e tirando, por vezes, a espontaneidade do ato de amamentar. Mesmo num contexto de UTIN, em que os cuidados são maiores e seus bebês mais frágeis, podem existir cuidados exacerbados como os que notamos: higienização com álcool 70% sem necessidade, medo de carregar a criança e quebrar a perna do bebê entre outros.

Observando todas as práticas profissionais e de que forma as mães se veem nesse contexto de aleitamento materno em UTIN pudemos notar que os discursos e as ações dos profissionais são transpassados pela medicalização de forma (in)consciente e se dão pelas ações que por vezes se tornam ações automáticas e relativas aos discursos sociais exercidos em torno daquele objeto, como por exemplo, para receber alta o bebê precisa mamar. Atrelado a essa fala está o fato de amamentar é o que fará o bebê ganhar peso e ter alta, ou seja, o ganho de peso é o definitivo para a alta hospitalar. Além disso, o peso que se torna para a mãe nesse processo ser responsável pela amamentação do bebê. E quando a amamentação não é bem-sucedida? Ou quando a mãe faz a opção por não amamentar?

A UTIN é um espaço de medicalização pela necessidade do espaço, porém não necessariamente necessita ser um espaço de ações medicalizantes exacerbadas, já que o contexto traz consigo necessidades de ações especiais. Porém, não é pelo fato da UTIN necessitar de ações especiais que os profissionais podem justificar suas ações, construídas por

discursos de saúde antigos, não se tratando apenas de discursos médicos, mas sociais e políticos.

A medicalização em aleitamento materno é um assunto novo e deve ser olhada em diversos contextos, já que pode ser vivenciada por ações justificadas por pesquisas científicas. Fica a necessidade de novas pesquisas não apenas em UTIN, mas também em todos os contextos atrelados ao aleitamento materno na tentativa de entender de que forma a medicalização ocorre nos diferenciados contextos.

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