• Nenhum resultado encontrado

Iniciamos nosso estudo buscando contextualizar os processos constituintes do campo de conhecimento da Educação Física desde sua formação histórica sistemática com o reconhecimento como atividade obrigatória em 1937 e os primeiros cursos de formação profissional, até a reformulação das diretrizes curriculares que permitiu a criação do bacharelado com a Resolução do Conselho Federal de Educação nº 03/1987. Fizemos esse movimento por entender que a história traz importantes elementos para compreensão das relações políticas e sociais na contemporaneidade.

O processo de formação profissional dos bacharéis perpassa pelas discussões em torno do currículo por este ser uma importante ferramenta na difusão do conhecimento. Ele é advindo do direcionamento da forma com que os conteúdos são selecionados e desenvolvidos e por meio deste chegamos ao nosso objeto central de estudo, a cultura popular.

O objeto de nosso estudo se constituiu, primeiramente, a partir do meu envolvimento com o mesmo, sendo pelo meu repertorio familiar com as brincadeiras no Maranhão, as migrações que eu e minha família fizemos até a experienciação como educadora social em uma equipe de arte da cidade de Goiânia. A essa última vivencia citada devo atribuir o meu despertar e posteriormente interesse e amadurecimento no que tange as questões que envolvem a cultura popular em suas mais variadas manifestações. Foi por meio desta que consegui fazer uma ressignificação da minha identidade e criar vínculos com a cidade na qual eu e meus familiares agora residimos.

A cultura popular norteia toda minha vida e por causa dela e na intenção de conhecer e me apropriar de referenciais teóricos que a legitimem que essa pesquisa foi realizada. Fui direcionada para Educação Física que sim, confesso não foi minha primeira opção, mas provou ser um campo de conhecimento de grandes proporções e acolhimento, onde é possível o estudo e vinculação com várias áreas, incluindo os estudos relacionados aos saberes populares.

O conceito de cultura popular é complexo e abrangente, mas diferencia-se principalmente pelo potencial emancipatório do sujeito. Pode não ser de fácil conceituação, porém, faz parte dos processos identitários de maneira direta e indireta. Apesar disso, não é considerada com a devida dimensão nos espaços formadores

sendo secundarizada e diluída em meio aos esforços de uma padronização dos corpos, hábitos e costumes, como indicou a análise dos documentos das instituições. Chamamos atenção para o fato de não termos desenvolvido a análise dos livros e autores que fundamentam o currículo das instituições analisadas, pela falta de tempo e especificidade, ainda que considerando que é um trabalho monográfico e mesmo com isso não abarcaríamos todo o conteúdo advindo de uma pesquisa tão extensa. Outro fato que queremos chamar atenção é a não analise de todos os documentos das 17 instituições formadoras, o que nos possibilitaria uma análise mais completa e aprofundada.

Concluímos então, apenas analisar os documentos das instituições formadoras e através dos dados que foram extraídos dos mesmos, que é possível encontrar a presença da cultura popular na formação dos bacharéis em Educação Física em Goiás. Apesar disso, os conhecimentos são tratados, em sua maioria de forma hierarquizada, dissolvida e subjugada pelos saberes científicos (GRANDO, 2003), por tal componente não se enquadrar na lógica do mercado que visa o lucro e resultados. Tal reflexão nos suscita a percepção de que as diferenças e saberes populares não estão sendo abordadas como deveriam, e aparecem principalmente como datas comemorativas ou festas. Não parecem considerar o que diz respeito à Educação Física e todo o potencial existente em suas mais variadas manifestações tanto no que diz respeito ao seu conhecimento, quanto de aplicação nas práticas corporais.

Ao refletirmos por essa ótica, desejo com este trabalho ter contribuído de alguma forma, trazendo para o campo das discussões a importância do saber popular na constituição corpórea do sujeito e a intersecção deste com o saber cientifico, vislumbrando que um dia haja a troca e o diálogo entre os mesmos e não sua hierarquização.

Finalizo expressando minha gratidão e felicidade por ter tido a oportunidade de nesta etapa de minha vida academia trabalhar com satisfação a temática que motivou todas as minhas escolhas pessoais e de formação profissional, motivando-me a aprofundar mais nesses estudos e produzir academicamente sobre a cultura popular.

REFERÊNCIAS

ABIB, Pedro Rodolpho Jungers. Capoeira angola: cultura popular e o jogo dos saberes na roda. Resgate: Revista Interdisciplinar de Cultura, Campinas, v. 12, n. 1, p. 171-176, 2004.

BAPTISTA, Tadeu João Ribeiro et al. Educação do corpo: produção e reprodução. 2007.

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa, Portugal: Edições 70, 2009. BEAUCHAMP, Jeanete; PAGEL, Sandra Denise; NASCIMENTO, Aricélia Ribeiro (Org.). Indagações sobre currículo: currículo, conhecimento e cultura. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica: Brasília, 2008. Disponível em:

<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/indag3.pdf>. Acesso em: 20 jul. 2016.

BENITES, Larissa Cerignoni; SOUZA NETO, Samuel; HUNGER, Dagmar. O processo de constituição histórica das diretrizes curriculares na formação de professores de Educação Física. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 34, n. 2, p. 343-360, maio/ago. 2008. Disponível em:

<http://www.scielo.br/pdf/ep/v34n2/09.pdf>. Acesso em: 20 jul. 2016.

BETTI, Mauro; BETTI, Irene C. Rangel. Novas perspectivas na formação profissional em Educação Física. Revista Motriz, Rio Claro, v. 2, n. 1, p.10-15, jun. 1996.

Disponível em: <http://www.rc.unesp.br/ib/efisica/motriz/2n1.htm>. Acesso em: 28 jun. 2016.

BOSI, Alfredo. Cultura brasileira e culturas brasileiras. Companhia das Letras: São Paulo, 1992. p. 308-345.

BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução nº 7/2004, 31 mar. 2004. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Educação Física, em nível superior de graduação plena. Diário Oficial da União, Brasília, 5 de abril de 2004, Seção 1, p. 18. Disponível em

<http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/ces0704edfisica.pdf>. Acesso em: 9 jan. 2017.

BRASIL. Ministério da Educação. Instituições de educação superior e cursos

cadastrados. 2017. Disponível em: <http://emec.mec.gov.br/>. Acesso em: 12 jan.

2017.

CARVALHO, José Jorge de. Espetacularização e canibalização das culturas populares. In: Seminário Nacional de Políticas Públicas para as Culturas

Populares. São Paulo: Instituto Pólis; Brasília: Ministério da Cultura, 2005. v. 1.

2005.

CATENACCI, Vivian. Cultura popular: entre a tradição e a transformação. São Paulo

CHARTIER, Roger. Cultura popular: revisitando um conceito historiográfico. Revista

Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 8, n. 16, p. 179-192, 1995.

FELÍCIO, Breno Francesconi. Em busca dos fundamentos da proposta de bacharelado em educação física: das justificativas teóricas do curso à atividade profissional na área. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 15. Recife. Anais eletrônicos... Recife: CBCE, 2007. p. 1-10. Disponível em:

<http://www.cbce.org.br/docs/cd/resumos/184.pdf>. Acesso em: 20 jul. 2016.

GHILARDI, Reginaldo. Formação profissional em educação física: a relação teoria e prática. Motriz, Rio Claro, v. 4, n. 1, p. 1-11, 1998.

GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2008.

GRANDO, Beleni Salete. Corpo educação: relações interculturais nas práticas corporais Bororo em Meruri-MT. Revista Motrivivência, Florianópolis, v. 15, n. 20- 21, p. 201-209, mar./dez. 2003. Disponível em:

<https://periodicos.ufsc.br/index.php/motrivivencia/article/view/918/4150>. Acesso em: 21 jun. 2016.

LAZZAROTTI FILHO, Ari; SILVA, Ana Márcia; MASCARENHAS, Fernando. Transformações contemporâneas do campo acadêmico-científico da Educação Física no Brasil: novos habitus, modus operandi e objetos de disputa. Revista

Movimento, Porto Alegre, v. 20, n. esp., p. 67-80, 2014. Disponível

em:<http://www.seer.ufrgs.br/Movimento/article/viewFile/48280/32814>. Acesso em: 23 jun. 2016.

MARCELINO, Nelson Carvalho. Lazer e sociedade: múltiplas relações. Campinas, SP: Alínea, 1998.

MOREIRA, Antônio Flávio Barbosa; CANDAU, Vera Maria. Currículo, conhecimento e cultura. In: BEAUCHAMP, Jeanete; PAGEL, Sandra Denise; NASCIMENTO, Aricélia Ribeiro (Org.). Indagações sobre currículo: currículo, conhecimento e cultura. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica: Brasília, 2008. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/indag3.pdf>. Acesso em: 20 jul. 2016.

MORGADO, José Carlos. Globalização e (re) organização do ensino superior: perplexidades e desafios. Perspectiva, Florianópolis, v. 24, n. 1, p. 205-228, 2006. NEIRA, Marcos Garcia. A cultura corporal popular como conteúdo do currículo multicultural da Educação Física. Pensar a Prática, Goiânia, v. 11, n. 1, p. 81-89, 2008.

NEIRA, Marcos Garcia; NUNES, Marcio Luiz Ferrari. Contribuições dos estudos culturais para o currículo da educação física. Revista Brasileira de Ciências do

em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101328920110003000 10>. Acesso em: 21 jul. 2016.

ORTIZ, Renato. As ciências sociais e a cultura. Tempo social, v. 14, n. 1, p. 19-32, 2002.

SADI, Renato Sampaio. Educação física e mercado de trabalho: crítica ao sistema CONFEF/CREF. 2002. Disponível em: <http://www.mncr.rg3.net>. Acesso em: 23 jul. de 2016.

SANTOMÉ, Jurjo Torres. As culturas negadas e silenciadas no currículo. In: SILVA, Tomaz Tadeu da. (Org.). Alienígenas na sala de aula: uma introdução aos estudos culturais em educação. Trad. Tomaz Tadeu da Silva. Petrópolis: Vozes, 1995.

SANTOS, Milton. Por uma outra globalização. Rio de Janeiro: Record, 2000. v. 174. p. 19.

SBORQUIA, Silvia Paves; NEIRA, Marcos Garcia. As danças folclóricas e populares no currículo da Educação Física: possibilidades e desafios. Revista Motrivivência, Florianópolis, ano 20, n. 31, p. 79-98, dez. 2008. Disponível em:

<https://periodicos.ufsc.br/index.php/motrivivencia/article/viewFile/2175- 8042.2008n31p79/12957>. Acesso em: 23 jun. 2016.

SILVA, Ana Márcia et al. Análise comparativa do perfil da formação do professor

em educação física: a América Latina em foco. Projeto de Pesquisa da

Universidade Federal de Goiás, 2013.

SILVA, Ana Márcia. Corpo, ciência e mercado: reflexões acerca da gestação de um novo arquétipo da felicidade. Campinas/Florianópolis: Autores

Associados/EDUFSC, 2001.

SILVA, Renata de Lima; FALCÃO, José Luiz Cirqueira; DIAS, Cleber Gonçalves. Discursos sobre a tradicionalidade da capoeira angola: a influência e o papel dos capoeiristas, 2012.

SILVA, Tomaz Tadeu da. Identidades terminais: as transformações na política da pedagogia e na pedagogia da política. Petrópolis: Vozes, 1996.

SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.

SOARES, Carmem Lúcia. Imagens da educação no corpo: estudo a partir da ginástica francesa no século XIX. Campinas, SP: Autores Associados, 2005. SOARES, Carmen Lúcia. Educação física: raízes europeias e Brasil. 3. ed. Campinas, SP: Autores Associados, p.18, 2004.

SOUZA NETO, Samuel de et al. A formação do profissional de Educação Física no Brasil: uma história sob a perspectiva da legislação federal no século XX. Revista

Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 25, n. 2, p. 113-128, 2004.

VENTURA, Paulo Roberto Veloso. A Educação Física e sua constituição

histórica: desvelando ocultamentos. 2010. 208f. Tese (Doutorado em Ciências

Humanas)-Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, 2010.

TERMO DE CIÊNCIA E DE AUTORIZAÇÃO PARA DISPONIBILIZAR AS MONOGRAFIAS

Documentos relacionados