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Verificou-se, após ser bem e cuidadosamente tratada a jurisprudência emanada da Suprema Corte, que o princípio da presunção de inocência é um dos princípios basilares do processo penal. Percebeu-se que se encontra previsto em vários documentos internacionais e ganha status, estatura e força na Constituição Federal de 1988, bem como com a promulgação, pelo Brasil, da Convenção Americana dos Direitos Humanos em 1992, apresentando-se como um instrumento conquistado pelo povo contra o arbítrio do poder estatal.

Apresentou-se, além de princípio, inclusive com base na posição em que se encontra no texto constitucional, como um direito/garantia, do qual é beneficiário ativo àquele que responde a um processo criminal, de ser considerado inocente até que sobrevenha o trânsito em julgado de sentença penal condenatória e que seus reflexos no processo penal são claros.

Destacou-se o dever de tratamento a ser outorgado pelo Estado ao acusado, assegurando-lhe todos os direitos que lhe são inerentes durante a persecução criminal, tal como o devido processo legal, a ampla defesa e o acesso ao duplo grau de jurisdição.

Abordou-se a figura das prisões de natureza cautelar, que por não serem fundamentadas na culpa do acusado, mas sim no interesse processual, não se caracterizam como violadoras da presunção de inocência.

Ademais, demonstrou-se que há no sistema recursal as figuras dos recursos especial e extraordinário, destinados que são ao STJ e ao STF respectivamente. Em primeiro lugar, restou demonstrado que não se destinam a reanálise da matéria fática e probatória, uma vez que têm como objeto apenas questões de direito. Em segundo lugar, de acordo com a legislação, não apresentam efeito suspensivo e, portanto, não obstariam o início do cumprimento da pena já imposta.

Ocorre que, frente ao princípio da presunção de inocência, que exige o trânsito em julgado como termo final para afirmação da culpabilidade, surge o questionamento da possibilidade ou não da execução da pena estando ainda pendentes os recursos especial e/ou extraordinário.

Em 17 de fevereiro de 2016, com o julgamento do HC 126.292/SP a Suprema Corte apresentou a resposta. De acordo com seu novo e histórico posicionamento, o

STF passa a entender, ainda que sem efeito vinculante, que a execução provisória de acórdão penal condenatório determinada pelos Tribunais de segunda instância, ainda sujeito a RE ou REsp., não compromete o princípio da presunção de inocência.

Percebeu-se que para fundamentar seu novo precedente, o STF deixou clara a necessidade de aliar o real alcance da presunção de inocência à busca da efetividade da função jurisdicional do Estado. Para tanto, frisou-se a importância da razoável duração do processo, uma vez que está intrinsecamente relacionada com a efetividade deste.

Conclui-se que o entendimento anterior, ao estender o trânsito em julgado até as instâncias supremas, abriu espaço para a interposição de recursos das mais variadas espécies e, em grande parte dos casos, com o único propósito de procrastinar o processo com vistas à configuração da prescrição da pretensão punitiva do Estado.

Visualizou-se, outrossim, que tal prática, além de retardar o processo, dificulta a realização de um julgamento justo - uma vez que as provas apresentam-se corroídas pelo tempo -, trazendo consigo uma grande carga de impunidade e não mais responde aos anseios da vítima, nem da sociedade, nem mesmo do próprio Estado, que acaba por fracassar no seu dever de garantir a pacificação social.

Portanto, o STF, considerando que os recursos especial e extraordinário não configuram desdobramento do duplo grau de jurisdição e que este direito já é exercido e se exaure no momento em que a matéria é devolvida para reanálise por órgão hierarquicamente superior em grau de apelação, ou seja, nas instâncias ordinárias, entendeu que a execução provisória da pena se mostra como uma ferramenta legal e adequada, uma vez que ao tempo em que não viola direitos do acusado, contribui para efetividade da jurisdição penal.

Passou-se, a partir do julgamento do HC 126.292/SP, a Suprema Corte a entender que a presunção de inocência não se estende aos recursos de natureza extraordinária, apresentando como termo final o momento em que não se mostra mais possível a interposição de novo recurso ordinário.

Divisou-se que o posicionamento exposto pelo Supremo no HC 126.292/SP não agradou a todos, inclusive na própria Corte Constitucional. Para alguns juristas, advogados e estudiosos do direito afigurou-se que o Supremo agiu de forma autoritária e pouco democrática, tendo em vista que acabou por reduzir o âmbito de

proteção de um dos princípios norteadores do processo penal, causando impactos importantes no direito de liberdade.

Ressaltou-se aqui a importância das propostas apresentadas pelo Ministério Público Federal - que já contam com mais de dois milhões de assinaturas - através da campanha intitulada “10 medidas de combate a corrupção” que somadas aos argumentos utilizados no julgamento do HC 126.292/SP pelo STF, vieram a contribuir e enriquecer o debate jurídico, demonstrou-se, em última análise, que a busca pela efetividade do processo e pelo fim da impunidade é também desejo da sociedade, destinatária final do direito.

REFERÊNCIAS

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