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O objetivo deste estudo foi investigar a possibilidade dos alunos militares de nível básico de inglês de um quartel de estudos se beneficiarem do diálogo colaborativo em pares, tanto na forma como no significado, a ponto de aprimorarem sua produção escrita em inglês. A motivação para a pesquisa adveio do meu interesse em descobrir formas de estimular a produção de textos escritos em inglês pelos alunos e de aprimorá-la, tendo em vista também o desenvolvimento de uma maior autonomia por parte dos aprendizes.

As discussões conduzidas ao longo deste trabalho foram alicerçadas principalmente pela hipótese da produção compreensível, proposta por Swain (1995), segundo a qual o output desempenha papéis potencialmente importantes no desenvolvimento da língua, na medida em que ele pode promover a percepção (noticing), a partir da qual os aprendizes podem notar a forma da língua-alvo, além de promover a aprendizagem da L2 por meio de testagem de hipóteses e de possuir uma função metalinguística, permitindo que os aprendizes controlem e internalizem o conhecimento. Ademais, o output pode levar os aprendizes do tipo de processamento predominantemente semântico, necessário na compreensão, para uma forma de processamento mais sintática, necessária para a produção.

Os dados analisados pela presente pesquisa foram: os textos confeccionados individualmente (etapa 1) e pelos pares (etapa 2); os diálogos colaborativos estabelecidos pelos participantes (gravados em áudios e transcritos - protocolos verbais) durante a realização da etapa 2 na forma de LREs; a comparação entre os dois textos corrigidos feita pelos alunos participantes e observada por mim (etapa 3); as respostas dos alunos ao questionário (etapa 4).

As etapas 1 e 2 da tarefa tiveram como estímulo para a produção da narrativa uma figura que retrata a cena final do filme “O Resgate do Soldado Ryan”, a partir da qual os aprendizes tiveram que criar uma narrativa em inglês. A única ferramenta utilizada pelos participantes, nas etapas 1 e 2 da tarefa, foi o dicionário bilíngue.

Os protocolos verbais gerados durante a realização das tarefas foram transcritos e analisados em termos de LREs (Language-Related Episodes) ou Episódios Relacionados à Língua. As evidências obtidas por meio da análise dos dados me remeteram às proposições feitas por Swain (1995) com relação às três funções do output resumidas anteriormente. Portanto, a partir dos resultados obtidos, notei que os aprendizes foram capazes de, ao trabalharem conjuntamente na solução de problemas relacionados à língua, perceberem algumas lacunas existentes entre a sua interlíngua e a língua-alvo e formularem hipóteses acerca da LE, especialmente ao realizarem a etapa 2 da tarefa, quando os aprendizes elaboraram as narrativas em pares.

Contudo, observei também que durante a realização da etapa 3, a qual se refere à comparação entre os dois textos corrigidos, os aprendizes abordaram as suas narrativas percebendo as mudanças realizadas, porém sem questionar o motivo das correções feitas por mim. Na verdade, a pesquisa conduzida por Qi & Lapkin (2001) já havia sugerido que os aprendizes de nível mais básico de conhecimento da L2 podem ter mais dificuldades em identificar a natureza da lacuna existente entre a sua interlíngua e a língua-alvo, ainda que um modelo da língua-alvo seja oferecido para eles. Assim, a qualidade da percepção parece estar relacionada ao nível de conhecimento da L2. Os resultados desta pesquisa parecem ir ao encontro dessas proposições, na medida em que o nível de proficiência dos participantes parece ter afetado a qualidade da percepção e, consequentemente, a qualidade da narrativa produzida pelos aprendizes.

Outro ponto importante observado a partir dos resultados foi o fato de os alunos tenderem a focar mais no significado que pretendiam transmitir do que nas formas utilizadas durante a realização das tarefas. Assim sendo, este estudo parece corroborar a proposição defendida por Williams (1999) de que, nos estágios mais básicos, os aprendizes se concentram quase que completamente em decodificar e expressar significado. O foco na transmissão de significado, em detrimento da forma, pode se justificar também devido ao déficit apresentado por todos os aprendizes com relação ao léxico da LE.

Com relação às perguntas de pesquisa, pode-se concluir que, por meio do diálogo colaborativo, os alunos puderam elucidar algumas questões referentes à L2 o que, em determinados momentos, acionou mudanças positivas em suas produções. Muitas vezes, o simples feedback fornecido pelo colega se mostrou eficaz para solucionar os problemas encontrados pelos pares, especialmente com relação ao léxico, mas também com relação a alguns itens gramaticais.

É necessário relembrar que não se teve a intenção de generalizar as evidências encontradas aqui para outras situações ou sujeitos, uma vez que o diálogo colaborativo investigado na presente pesquisa foi gerado por um pequeno número de participantes dentro de um contexto específico. Outras pesquisas conduzidas em outros tipos de instituição possivelmente evidenciariam outros resultados.

Segundo Swain (2001), é necessário que haja mais estudos que requeiram que os alunos façam tarefas de produção escrita em pares na sala de aula de LE, e que professores documentem o aprendizado contínuo dos seus alunos enquanto os mesmos trabalham de forma colaborativa, e foi exatamente isso que este estudo pretendeu realizar.

Esta pesquisa termina enfatizando a importância das tarefas colaborativas no processo de ensino-aprendizagem de LE, principalmente no que tange à produção escrita em inglês através do diálogo colaborativo em sala de aula, uma vez que, como se verificou, os trabalhos em pares geram situações com potencial de aprendizagem que devem ser valorizados pelo educador.

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