• Nenhum resultado encontrado

5.1. Um mesmo conteúdo pode ser trabalhado com diferentes abordagens

A prática escolar, muitas vezes, acha-se engessada pelo tradicional, representado pelo uso extensivo do livro didático, muitas vezes o único recurso do professor como fonte de conteúdo e de atividades de fixação. Além disso, o uso de provas dissertativas ou objetivas como instrumentos únicos de avaliação também acaba por contribuir para essa abordagem do ensino, especialmente quando não se leva em conta que nem sempre o aluno está bem na hora da prova. Um momento ruim significa uma prova ruim e resultados ruins.

O uso do novo assusta. Na sala de aula, também! O novo requer mais preparo e, principalmente, soltar a prancha de salvação do livro didático e abraçar novas estratégias. Uma situação nova requer mais pesquisa, mais empenho por parte do professor e mais esforço para envolver os alunos.

É claro que o desafio se torna ainda maior ao levar-se em conta o turno no qual a atividade será desenvolvida. Fato comum na escola onde o trabalho foi desenvolvido é que os alunos do turno da manhã, em sua maioria, não trabalham durante o restante do dia ou quando trabalham, é só por meio período, ficando com a noite livre para estudos e atividades de lazer. Situação inversa é a dos alunos do noturno, que foram envolvidos na pesquisa. Eles trabalham durante o dia, a maioria em atividades de turno integral e à noite, ainda vão para a escola.

A soma de todos esses fatores tornou a tarefa de trabalhar o conteúdo, utilizando estratégias diferenciadas como a elaboração de jogos, um tanto quanto desafiadora mas a mesma acabou sendo executada de maneira satisfatória. Este trabalho mostrou que é possível trabalhar o conteúdo de maneira diferente.

O uso de estratégias diferenciadas de ensino implica em sair da segurança e se expor ao julgamento dos alunos, muitas vezes não favorável. A incerteza de atingir os resultados esperados também é desafiadora, mas o envolvimento dos estudantes constituiu uma experiência gratificante.

90

Um indicativo do grau de envolvimento foi o fato de os jogos terem sido montados ao ritmo de uma nova tarefa por semana e os alunos cumpriram à risca os prazos, apesar da maioria deles trabalhar durante o dia.

Isto serviu para ilustrar que o aluno do noturno pode executar as tarefas. Há uma tradição, quase folclórica até, de que aluno do noturno é descomprometido e avesso às tarefas extraclasse. Não é o que se observou na turma experimental. Os alunos se organizaram, dividiram as tarefas e ainda corrigiram o que era pedido após o jogo ser avaliado.

5.2. Objetivos atingidos

O desenvolvimento de jogos didáticos como um recurso para trabalhar orientação sexual mostrou-se uma eficiente estratégia de aprendizagem ativa, uma vez que os alunos do grupo experimental se mostraram muito envolvidos na execução das tarefas. A produção de jogos foi uma tarefa desafiadora, mas fora da rotina e isto acabou favorecendo este interesse por parte dos estudantes. Eles montaram estratégias em grupo para cumprir cada etapa, cada jogo proposto e seus resultados nos testes melhoraram entre o pré-teste e o pós-teste evidenciando a ocorrência de aprendizagem.

Entre os objetivos específicos, visou-se criar condições para a ocorrência da aprendizagem ativa. Em grande medida estratégia de aprendizagem por problemas foi levada a cabo durante a pesquisa uma vez que nesta proposta os alunos foram desafiados a definir o tipo de jogo, montá-lo e testá-lo. A produção do jogo implicava em pesquisar e aprender sobre o conteúdo exigido para solucionar o problema de confeccionar um jogo jogável.

Desenvolver este trabalho requereu um planejamento mais detalhado e um acompanhamento maior, pois os alunos estavam trilhando um novo caminho. O uso do livro didático foi abandonado, pelo menos em sala de aula, em detrimento da pesquisa para a produção dos jogos, outro objetivo específico do trabalho.

Os alunos demonstraram realizar as pesquisas sobre o conteúdo uma vez que coletaram informações para incluir nos jogos. Um indício desta pesquisa residiu no fato de haver muita informação nos trabalhos, algo apontado até como um aspecto negativo quando da reaplicação dos jogos no ano seguinte.

91

Os jogos foram avaliados em aula e os estudantes precisaram realizar alterações quando solicitadas. Esta foi uma forma de avaliar o aluno, por meio das habilidades desenvolvidas e não só a medindo sua capacidade de reter informações, como costuma ocorrer nas “provas” escritas. As alterações solicitadas foram todas em âmbito de conteúdo e não somente em nível de estética. Os educandos tiveram a oportunidade assim de desenvolver também o senso crítico por meio destas alterações.

Outra forma de estimulá-los quanto ao senso crítico foi desafiá-los a emitirem pareceres sobre os jogos. Dessa forma foi possível avaliar esta importante competência da crítica construtiva, uma vez que os pareceres apontavam pontos negativos e sugestões de melhorias dos jogos.

Por meio de testes aplicados, passado um bom tempo após o trabalho verificou- se que os alunos do grupo experimental retiveram uma boa parte do conhecimento. Retenção de conhecimento representada pelo aumento nas médias de acerto nas questões do pós-teste, sugerindo que estes alunos aprenderam enquanto elaboravam os jogos.

Os jogos foram reaplicados em uma nova turma de terceiranistas neste ano de 2015. Esta turma não teve envolvimento nenhum no ano anterior com a construção de jogos. A maioria destes estudantes afirmou que os jogos poderiam ser utilizados como atividade de fixação para conteúdos prévios, Visão diferente dos alunos do ano anterior, na turma experimental. Para eles ficou clara a relação entre construir jogos e aprender, indicando que estes alunos tiveram as condições para aprendizagem ativa.

A produção de jogos pode ser classificada como aprendizagem por problemas ou projetos, pois o desafio de elaboração dos jogos resultou na aprendizagem dos conteúdos desejados. Afirmação, mais uma vez, corroborada pelos resultados na reaplicação no teste.

5.3. Prática docente

Ensinar é mais que passar conteúdos e depois cobrá-los em prova. Ensinar consiste em um esforço constante e consciente por parte do educador. Esse esforço pode ser descrito como avaliar o conhecimento prévio do aluno e levá-lo em conta. Há uma tendência de o docente considerar o aluno como uma tabula rasa e querer preenchê-lo

92

com informações nem sempre com significados para o educando. Reconhecer o que o aluno já sabe pode ser um bom ponto de partida.

A identificação dos conhecimentos prévios dos alunos pode ser obtida por meio da aplicação de um questionário formal, mas também por uma conversa informal. Parar a aula, ouvir o que o aluno tem a dizer e a perguntar pode ser orientador. As perguntas mostram o que o aluno realmente quer saber. Questões podem assustar, às vezes, mas são um excelente meio para saber o que o aluno pensa e como se relaciona com o conteúdo. Partindo do princípio de que o aluno só aplicará sua vida aquilo que possuir significado, nada mais justo do que determinar o que é significativo para o aluno, qual porção do conteúdo será útil de verdade e não somente adereço a ser esquecido e descartado, tão logo a temporada de testes e avaliações cesse.

Além de ter uma noção do quanto o aluno sabe, tirá-lo do papel de mero espectador e colocá-lo como protagonista no processo de aprendizagem é outro ponto importante desse esforço consciente por parte do professor. A utilização de projetos, problemas ou outras estratégias de aprendizagem ativa constituem recursos a serem explorados no afã de atingir o objetivo de libertar o aluno da passividade.

93

Documentos relacionados