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A dissertação teve por objetivo analisar a forma como vem sendo ensinado o Direito do Trabalho aos alunos dos cursos de direito, sendo que a problemática está no seguinte questionamento:

O ensino está voltado para as questões sociais e para o processo de formação dos alunos, ou está preso à exposição do que consta na lei, na jurisprudência e na doutrina, fazendo com que o aluno tenha a visão de que a lei está dada, pronta e acabada, sem se ater e refletir sobre os aspectos sociais de maneira que as questões histórias, econômicas, sociais, filosóficas e políticas sejam englobadas?

E decorre outro questionamento: a forma como o aluno participa da relação ensino e aprendizagem é satisfatória ou não para a aprendizagem?

A aplicação de questionários e as leituras necessárias para o desenvolvimento deste trabalho apontaram a necessidade de modificações na relação entre aprendizagem e ensino do Direito do Trabalho, ressaltando a carência de relação entre o conteúdo da disciplina Direito do Trabalho e o conteúdo das disciplinas que compõem o eixo de formação fundamental, apresentando a forma insatisfatória com que o aluno participa da relação ensino- aprendizagem.

Diante disso, é possível afirmar que ao estudante de direito deve ser despertado o pensamento crítico não apenas nas disciplinas que compõem o eixo de formação fundamental, mas no desenvolvimento das disciplinas que compõem o eixo de formação

profissional e prática – aqui o destaque para o Direito do Trabalho, Direito Processual do Trabalho e Prática Trabalhista.

Cabe ao professor dessas disciplinas colaborar para a formação reflexiva do aluno, para que este parta da realidade, com reflexões históricas, filosóficas, econômicas, sociais e políticas sobre o Direito do Trabalho. Além disso, o professor deve aproveitar casos concretos, problemas elaborados para solução pelos alunos, questões apresentadas aos alunos, partindo da observação empírica, passando para análise teórica e voltando-se para a realidade. O aluno deve ser despertado para refletir sobre as condições em que surgiu o Direito do Trabalho, em que condições este está sendo estudado, interpretado e aplicado. Também não bastam modificações no ensino do Direito se o professor mantiver o método tradicional de avaliação, exigindo do discente memorização das respostas apresentadas em questões objetivas, “enchendo” o aluno de testes ou de perguntas que o obrigam à fiel memorização da lei, da doutrina e da jurisprudência.

A avaliação deve se dar através da problematização - com simulação de situações ou apresentação de casos concretos – que possibilite a reflexão e a solução, ou a tentativa de solução, ao caso apresentado, com maior liberdade de raciocínio e apresentação reflexiva. Isso não significa que o professor desprezará o conhecimento do aluno, a legislação aplicável, o posicionamento doutrinário e jurisprudencial. Do contrário, dará liberdade de expressão ao aluno que, por sua vez, não ficará preso à necessidade de decorar conceitos e artigos, podendo, assim, voltar-se para o entendimento do direito como um todo.

É necessário que o professor volte a sua atenção para o aspecto qualitativo, criando e mantendo uma relação ensino-avaliação multidimensional, desenvolvendo, no decorrer do curso, várias atividades, com problematizações para análise e tentativa de solução pelos alunos na sala de aula, além de outras atividades extra classe, analisando os posicionamentos dos alunos e dando a eles o retorno a respeito das respostas apresentadas, o

que serve de avaliação do desempenho de ambos e ajudará a conhecer o método de avaliação do professor.

O professor precisa usar vários instrumentos de avaliação, precisa deixar a forma autoritária da avaliação única, que se preocupa apenas com o aspecto quantitativo, valorizando a memorização, ou seja, não pode se limitar a uma relação ensino-avaliação unidimensional.

Fazendo conexão entre as necessidades apresentadas – especificamente o estudo do sistema jurídico relacionado com as questões sociais, o que motiva análise dos conteúdos das disciplinas que compõe o eixo de formação fundamental – e a proposta pedagógica de Saviani (2003), é possível pensar na proposição de um ensino do Direito do Trabalho que se ocupe das questões históricas, filosóficas, econômicas, sociais e políticas e se relacione intimamente com as disciplinas que compõem o eixo de formação fundamental, além de abordar outros conteúdos necessários à compreensão desses fatos sociais, favorecendo, nas palavras de Saviani acima transcritas, o diálogo dos alunos entre si e com o professor, valorizando o diálogo e a cultura acumulada historicamente, considerando interesses dos alunos, os ritmos de aprendizagem e o desenvolvimento psicológico, sem abandonar a sistematização lógica dos conhecimentos, sua ordenação e gradação para efeitos de processo de transmissão-assimilação dos conteúdos cognitivos, sem deixar de levar em conta que o ponto de partida do ensino deve ser a prática social, comum a professor e alunos, seguindo para a problematização, com identificação dos principais problemas apresentados pela prática e do conhecimento que é necessário dominar, depois para a instrumentalização, que cuida da apropriação dos instrumentos teóricos e práticos imprescindíveis à solução dos problemas encontrados na prática social, para um quarto passo denominado catarse, que cuida da incorporação dos instrumentos culturais, transformados em elementos ativos de transformação social, e, por fim, para a prática social, entendida não mais em termos

sincréticos pelo aluno, com a passagem da síncrese à síntese, em que a compreensão da prática social passa por uma alteração qualitativa. Saviani (2003)

O ponto central do processo educativo é o momento catártico, porque nele se realiza, pela mediação da análise levada a cabo no processo de ensino, a passagem da síncrese à síntese: em conseqüência, manifesta-se nos alunos a capacidade de expressarem uma compreensão da prática em termos tão elaborados quanto era possível ao professor. Saviani (2003, p.72).

Por fim, embora não seja objeto de estudo deste trabalho, fica a consideração do entendimento de ser necessário analisar o envolvimento dos professores de Direito com o processo ensino-aprendizagem, o que abre caminho para pesquisa específica a respeito dessa questão.