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Progressão por série no Brasil, 1986 a

1.5 Considerações Finais

O Brasil tem sido historicamente um país marcado por muitas iniquidades: de renda, de gênero, de classe social. Contudo, uma das iniquidades mais relevantes e persistentes tem sido a desigualdade nos resultados educacionais. Este artigo objetivou ir além da análise do resultado educacional (anos médios de estudo), incorporando à literatura evidências com base no método de probabilidade de progressão por série (PPS), o qual provê evidências substantivas sobre as mudanças ao longo do tempo em cada uma das séries do sistema de ensino.

Uma das grandes vantagens em se estudar a evolução das diferentes transições escolares é que a partir delas é possível associar-se a melhoria no resultado educacional a determinadas políticas, o que de certa forma se configura como uma averiguação da efetividade da política educacional. A não ser pelas políticas estritamente direcionadas ao financiamento da educação de uma forma global - e que, por conseguinte, afetam todas as séries - grande parte das ações documentadas no Brasil tem sido focada em transições relevantes e sobremaneira nos primeiros estágios da carreira escolar (ex. a universalização do ensino fundamental, o combate ao analfa- betismo e os programas de aceleração da aprendizagem). Estas iniciativas no âmbito do Estado afetam decisivamente na probabilidade de progressão de toda a população ou de segmentos po- pulacionais específicos em determinadas séries da carreira escolar. Desta forma, salientamos a conveniência do método PPS como instrumento para subsidiar as políticas educacionais, tanto no presente quanto para as perspectivas futuras - mediante a construção de cenários e projeções. Este artigo mostrou que os anos médios de estudo, construídos a partir das trajetórias es- colares de coortes hipotéticas, aumentaram entre 1986 e 2008 no Brasil. Praticamente todas as probabilidades de progressão por série selecionadas neste estudo se elevaram no período anali- sado (e0,e4,e8), a exceção da probabilidade de progressão para o Ensino Superior (e11), que se

manteve estável e em patamar baixo. Destaca-se o aumento em cerca de 20 pontos percentuais na probabilidade de progressão para quinta série (e4), série esta que tem sido historicamente um

ponto de estrangulamento na trajetória escolar.

Sem dúvidas, a melhoria na progressão reflete o sucesso das políticas implementadas no Brasil, em especial após a segunda metade da década de 90, que facilitaram o acesso a escola nos estágios iniciais da carreira escolar (ex. combate ao analfabetismo, programas de aceleração da aprendizagem).

A decomposição da variação média dos anos de estudo nas contribuições das probabili- dades de progressão por série evidenciou que a probabilidade de progressão na primeira série teve um papel importante para o aumento da escolaridade média no Brasil entre 1986 e 2008.

Todavia, se consideramos o período mais recente (2001-2008), há uma reversão deste cenário e a probabilidade de progressão para a quinta série passa a ser mais relevante para explicar a variação média nos anos de estudo.

Em relação às medidas da evolução da estratificação educacional no Brasil, ou aos diferen- ciais no resultado e na trajetória escolar segundo grupos populacionais, verificamos que per- siste um ligeiro diferencial por sexo (em favor das mulheres) e um abismal diferencial segundo a raça/cor e a classe social (mensurada a partir das faixas do rendimento familiar per capita) nos anos médios de estudo. Em termos das probabilidades de progressão por série segundo os atributos, verificamos que elas tendem a convergir entre os grupos analisados na primeira e na quinta série (e0 e e4), sendo esta tendência menos marcante segundo a raça/cor. Na transição

para o Ensino Médio e o Ensino Superior (e8e e11), evidencia-se uma persistência nos diferen-

ciais entre os grupos (exceto entre homens e mulheres). Contudo, espera-se que esta tendência possa se reverter nos próximos anos, como decorrência de políticas recentes voltadas para a universalização do acesso nestas transições, quais sejam: a obrigatoriedade do Ensino Médio e a expansão das vagas e financiamento para o acesso ao Ensino Superior.

Em linhas gerais, as evidências deste artigo apontam que ainda há um longo caminho a ser perseguido pelas políticas educacionais para que o acesso a educação seja universal. Foi visto que foram adotadas muitas ações em direção à equalização no acesso aos primeiros estágios da carreira escolar. Todavia, verificamos que persistem no Brasil barreiras à escolarização, em especial na progressão para o Ensino Médio e no Ensino Superior, já que são nestas transi- ções que persistem marcantes diferenciais na progressão segundo atributos socioeconômicos ao longo do tempo. Desta forma, urge necessária a adoção de políticas que estejam direcionadas também às transições mais tardias, que sejam capazes de assegurar o acesso e a permanência de grupos sociais mais fragilizados na educação formal. Muitas iniciativas foram adotadas a partir dos anos 2000, tais como a obrigatoriedade da conclusão do Ensino Médio e a expansão das vagas e financiamento ao acesso no Ensino Superior. Todavia, resta saber se estas políticas terão continuidade e serão efetivas em seus objetivos.

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Segundo Artigo - Desigualdade de

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