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PROVETES DAS MISTURAS E DOS FINOS DAS PEDREIRAS AO MICROSCÓPIO ELECTRÓNICO

CAPÍTULO 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

E PERSPECTIVAS FUTURAS

Actualmente, as políticas ambientais privilegiam a prevenção, a reutilização e a valorização dos resíduos em detrimento da sua eliminação em aterro, razão pela qual, com a presente dissertação pretende-se contribuir para a reciclagem dos finos de pedreiras através da sua aplicação em obras geotécnicas com funções ambientais e, desta forma, implementar a adopção de práticas de construção sustentável nestas obras e incentivar a sua prática, pelo exemplo, noutras obras de engenharia civil. O interesse pelo melhoramento da capacidade de confinamento hidráulico dos finos de pedreira estudados com a adição de pequenas percentagens de bentonite sódica natural, resulta de estudos anteriores terem evidenciado que a condutividade hidráulica dos finos era baixa, mas não o suficiente para viabilizar a sua aplicação na construção de barreiras de confinamento hidráulico onde o requisito mínimo exigido fosse k  1 x 10-9 m/s. Para além disso, a consulta da bibliografia internacional

especializada mostrou que não existem estudos sobre a reciclagem de misturas de finos de pedreira com bentonite tendo em vista a sua aplicação na construção de barreiras de confinamento hidráulico, embora existam sobre misturas de areias com bentonite para o mesmo fim. Assim, considerando os pressupostos apresentados, trata-se de um trabalho que para além do seu grande interesse actual é pioneiro. Os principais objectivos do programa experimental desenvolvido foram: o estudo do comportamento hidráulico dos finos de duas pedreiras (Pedreira do Moinho de

Vento, em Famalicão e Pedreira da Bouça do Menino, em Cervães) tratados com pequenas percentagens (2%, 4% e 6%) de uma bentonite sódica natural; a análise do melhoramento da capacidade de confinamento hidráulico das misturas dos finos das pedreiras com a bentonite, comparativamente com a dos finos das pedreiras sem adição de bentonite; e a avaliação da viabilidade da utilização das misturas finos- bentonite em estruturas de confinamento de resíduos, como é o caso dos aterros de resíduos e de áreas contaminadas, como é o caso das áreas mineiras degradadas.

As principais conclusões retidas da avaliação do desempenho hidráulico das misturas finos de pedreira + bentonite estudadas são apresentadas seguidamente: a) nos finos da Pedreira de Famalicão existe uma diminuição da condutividade

hidráulica com o aumento da percentagem de bentonite, quer nos provetes compactados pelo método Proctor normal quer nos compactados pelo método Proctor modificado, tendo o aumento da percentagem de bentonite nas misturas diminuído a importância da energia de compactação na condutividade hidráulica das mesmas;

b) nas misturas dos finos da Pedreira de Cervães com a bentonite, há diminuição da condutividade hidráulica destas com o aumento da percentagem de bentonite, ainda que muito ligeira, em ambas as energias de compactação, e a influência da energia de compactação aumenta com o aumento da percentagem de bentonite, contrariamente ao observado com as misturas da Pedreira de Famalicão;

c) a maior influência no valor da condutividade hidráulica resultante do tratamento dos finos das pedreiras com a bentonite, ocorreu nos finos da Pedreira de Famalicão, tendo o valor de k diminuiu cerca de 19 vezes, do provete compactado pelo método Proctor normal sem adição de bentonite para o provete compactado com a mesma energia e adição de 6% de bentonite e cerca de 53 vezes do provete compactado pelo método Proctor modificado sem adição de bentonite para o provete compactado com a mesma energia e adição de 6% de bentonite;

d) nos finos da Pedreira de Cervães, a diminuição do valor da condutividade hidráulica do provete compactado pelo método Proctor normal sem adição de bentonite para o provete compactado com a mesma energia e adição de 6% de bentonite foi de apenas de 6,7 vezes e cerca de 5,7 vezes do provete compactado pelo método Proctor modificado sem adição de bentonite para o provete compactado com a mesma energia e adição de 6% de bentonite;

e) nas misturas dos finos da Pedreira de Famalicão com 6% de bentonite, compactadas pelo método Proctor normal, e nas misturas dos finos da mesma pedreira com 2, 4 e 6% de bentonite, compactadas pelo método Proctor modificado, obtiveram-se valores de k  1 x 10-9 m/s, o mesmo não acontecendo nas misturas dos finos da

Pedreira de Cervães com a bentonite, onde os valores obtidos para a condutividade hidráulica foram superiores a 1 x 10-9 m/s;

f) a observação da microestrutura dos provetes ao Microscópio Electrónico de Varrimento Ambiental evidenciaram a influência da adição da bentonite e da energia de compactação na condutividade hidráulica dos finos da pedreira de CRV (não se observou a microestrutura dos provetes de FML ao MEV-A), traduzida pela diminuição dos vazios interpartículas acessíveis à passagem da solução percolante, devido em grande parte à expansão da bentonite durante a fase de percolação e ao aumento do percurso de percolação com o aumento da energia de compactação, resultante da maior homogeneidade da orientação das partículas numa direcção aproximadamente perpendicular à da percolação.

Em síntese, a investigação efectuada evidenciou que os finos da Pedreira de Famalicão podem ser valorizados em obras geotécnicas com funções ambientais onde se exijam valores de condutividade hidráulica inferiores ou igual a 1 x 10-9 m/s, se tratados com a

adição de pequenas percentagens de bentonite sódica natural e compactados com energias equivalentes às do Proctor normal e do Proctor modificado. Dentre este tipo de obras, cita-se, a título de exemplo, o caso das barreiras de confinamento hidráulico de aterros de resíduos perigosos e não perigosos. As misturas dos finos da Pedreira de

Cervães com as percentagens de bentonite utilizadas só podem, porém, ser valorizados na construção de barreiras de confinamento hidráulico de aterros de resíduos inertes ou em obras que não requeiram valores de k  1 x 10-9 m/s, como é o caso do revestimento

de canais para rega.

Tendo por base a recolha e a análise bibliográfica e a investigação experimental efectuadas nesta dissertação, sugerem-se, nos pontos seguintes, futuras linhas de investigação.

1) Dada a dificuldade da obtenção de valores consistentes nas análises granulométricas efectuadas nas misturas dos finos das pedreiras com a bentonite sódica natural (aumento da percentagem da fracção arenosa com o aumento da percentagem da bentonite), em princípio devido à formação de agregados de bentonite com os finos, sugere-se a realização de análises granulométricas com as misturas utilizadas neste estudo para diferentes quantidades do desfloculante empregue, bem como a realização das mesmas análises com outros desfloculantes que estejam disponíveis comercialmente. Em função dos resultados obtidos, seria elaborado um protocolo que contemplasse os procedimentos a seguir na realização das análises granulométricas a este tipo de materiais.

2) Adição de maiores percentagens de bentonite aos finos da pedreira de Cervães, de modo a avaliar se a condutividade hidráulica das misturas obtida nestas condições passa a ser de valor inferior a 1 x 10-9 m/s, o que permitiria viabilizar a

reciclagem destes finos na construção de barreiras de confinamento hidráulico de aterros de resíduos não perigosos e perigosos. Propõe-se a utilização de percentagens de 8, 10 e 12% de bentonite sódica natural. Por razões económicas (custo da bentonite) e de engenharia (percentagens elevadas de bentonite tornam as misturas mais plásticas e mais difíceis de compactar), não se devem utilizar percentagens de bentonite superiores a 15%.

3) Atendendo a que nas obras geotécnicas com funções ambientais os materiais estudados normalmente serão solicitados por lixiviados ou outras soluções

aquosas quimicamente agressivas, entende-se que seria pertinente implementar um programa de investigação que contemplasse o estudo da condutividade hidráulica das misturas dos finos das duas pedreiras com bentonite, utilizando como percolantes, lixiviados preparados em laboratório ou lixiviados recolhidos directamente em aterros de resíduos, por existirem estudos que indicam que a condutividade hidráulica da mistura de areia com bentonite, em particular a sódica, pode aumentar em contacto directo com estas soluções e ser várias ordens de grandeza maior do que à água desmineralizada.

4) Realização de trechos experimentais com misturas de finos de pedreira e bentonite, para comparação do seu desempenho hidráulico com o observado em estudos laboratoriais. Na realização destes trechos experimentais, deve haver especial atenção na preparação e na homogeneização da mistura e nos trabalhos de compactação.

5) Sensibilizar a administração central, os donos de obra, os projectistas e os empreiteiros, para a oportunidade e a importância ambiental, e igualmente económica, da valorização deste tipo de materiais, que contribuirá para a implementação de práticas de construção sustentável nas obras de engenharia civil, em geral, e geotécnicas, em particular.

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