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64 Considerações Finais

Após a realização do presente estudo, foi possível consolidar os conhecimentos que a investigadora tinha relativamente à Intervenção Precoce na Infância, bem como adquirir novos conhecimentos relativamente às funções que os Assistentes Sociais desempenham ao trabalharem em IP. A prática da IP, regulamentada pelo Decreto-Lei 281/2009, tem como objetivo desenvolver competências e superar dificuldades apresentadas pela criança e pela respetiva família, através de um trabalho transdisciplinar desenvolvido por equipas multidisciplinares (Terapeutas, Educadores, Assistentes Sociais, Enfermeiros, Psicólogos, Fisioterapeutas, entre outros), que executam as suas funções em conformidade com as necessidades e ambições expressas pela família com vista ao crescimento saudável da criança.

Neste sentido, a construção do presente estudo iniciou-se com a seguinte

questão: “Qual a intervenção do Assistente Social numa Equipa Local de Intervenção (ELI)?”. Para facilitar o seu entendimento, esta dividiu-se em: “O

Assistente Social tem uma intervenção específica na ELI?” e “Existem diferenças

nos papéis do AS em função do modelo de equipa de Intervenção Precoce em que está inserido? (Multidisciplinar, Interdisciplinar, Transdisciplinar)”. Com as questões apresentadas, a investigadora definiu, como objetivo geral, analisar a intervenção do Assistente Social numa ELI. Como objetivo mais específico, pretendeu-se identificar as singularidades encontradas pelo Assistente Social quando chamado a intervir num modelo transdisciplinar; analisar as eventuais diferenças nas funções desempenhadas pelo Assistente Social, tendo em conta o modelo de equipa em que está inserido; conhecer as funções do Assistente Social no serviço de Intervenção Precoce e sinalizar as competências assumidas pelo Assistente Social numa equipa de Intervenção Precoce.

A análise documental e a recolha dos inquéritos por questionário permitiram concluir que algumas das equipas não se encontram a realizar as práticas segundo as práticas recomendadas em Intervenção Precoce na Infância, nomeadamente pelo facto de desenvolverem a sua atuação segundo outro modelo que não o transdisciplinar. Os profissionais destas equipas classificam o modelo transdisciplinar como um modelo a desejar, no entanto a investigadora

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conclui que as equipas que não trabalham segundo este modelo de atuação, não se encontram preparadas ao nível formativo, dado que necessitam de mais formações das outras áreas do saber e até mesmo ao nível do trabalho em equipa transdisciplinar.

Relativamente às funções que o Assistente Social desenvolve em equipas de Intervenção Precoce, os técnicos mencionaram as seguintes funções: Capacitação das famílias; Avaliação da situação das famílias; Encaminhamentos e articulação com outros serviços da comunidade; Capacitação das crianças; Treino de competências parentais; Visitas domiciliárias; Elaboração do Plano Individual de Intervenção Precoce e ainda a realização de Relatórios Sociais. As funções base do Assistente Social vão ao encontro de algumas das funções que este desenvolve em IP, em que Ander-Egg (1996) as define como funções de consultor, orientador e conselheiro social, em que apoia os indivíduos na satisfação das suas necessidades e auxilia-os na utilização dos serviços da comunidade; fornecedor de serviços, em que o profissional oferece serviços de apoio, sejam eles serviços específicos ou não; planificador, através da planificação de atividades ou projetos com metas e objetivos estabelecidos; Avaliador, em que avalia planos e atividades realizadas no seu local de trabalho, bem como avalia processos e o seu desenvolvimento, de forma a verificar se são eficazes e eficientes. Também desempenha funções de identificador de situações-problema, em que utiliza os recursos disponíveis para auxiliar os indivíduos que se encontrem em situações de risco; educador social-informar, sendo esta uma das funções importantes a desempenhar também em IP, uma vez que apoia os indivíduos e famílias na aquisição de melhores conhecimentos face às necessidades que tenham, de forma a conseguirem resolver os seus problemas sozinhos e a tornarem-se o mais autónomos possíveis (há um empowerment da pessoa/família).

Entre outras funções descritas por Ander-Egg, e apresentadas anteriormente no Enquadramento Teórico, é importante referir que o Assistente Social tem como maior objetivo na sua intervenção capacitar as famílias para que estas se tornem autónomas e consigam decidir por si, tendo em conta o que for melhor para a sua criança. Toda esta autonomia resultará num maior envolvimento na comunidade que conduzirá a uma melhor inclusão, ou seja, a família conseguirá ter uma melhor qualidade de vida e proporcionará um maior bem-estar à criança.

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Parece poder concluir-se com este trabalho que, apesar de 4 equipas não seguirem o modelo transdisciplinar, tentam aproximar-se desse funcionamento, tal facto verifica-se pela equipa ter mencionado planear identificar as necessidades e os problemas com a família e posteriormente também realizam a intervenção em conjunto. King et al. (2009) chamam a atenção para a questão da libertação do papel no processo de construção de uma equipa transdisciplinar, sendo que tal só se verifica quando os membros da equipa deixam de realizar as suas intervenções apenas com as estratégias de intervenção da sua área especifica do saber, mas sim quando há uma junção dos conhecimentos de todas as disciplinas e o profissional as aplica tendo em conta as necessidades com que se depara.

Segundo as práticas recomendadas em IP, tal como referido anteriormente, o processo de intervenção deve ser centrado na família e na criança, tendo em vista o melhoramento das suas competências e da sua qualidade de vida, através da utilização de todos os recursos necessários, tendo em conta as prioridades indicadas pela família (McWilliam, 2010). Para tal, observou-se, através da análise dos resultados, que é necessária a existência de formações contínuas que dotem os profissionais em IP de estratégias e programas atuais mais eficazes.

De um modo geral, a investigadora considera ter atingido os objetivos a que se propôs no início do projeto, contudo é possível mencionar algumas dificuldades encontradas, como foi o caso da dimensão da amostra, que refere uma parte muito reduzida do universo de todas as Assistentes Sociais que trabalham nos serviços de IP em Portugal. Outro aspeto limitativo do estudo prende-se com o

facto de na totalidade das 20 ELI’s que foram contactadas, apenas 10 aceitaram

participar no estudo, uma vez que as restantes 10 não deram qualquer tipo de resposta apesar de se ter procurado sensibilizar a população alvo para a importância da sua participação no estudo.

Não obstante, houve a necessidade de obter uma devolução do questionário com alguma rapidez, dada a brevidade do estudo, o que também pode ter sido um fator que levou a ter uma amostra tão reduzida de participantes.

Face às limitações apresentadas, fica em aberto a possibilidade de, num estudo mais vasto, encontrar outras características do perfil do assistente social que possam não ter sido mencionadas no presente estudo, e também a pertinência

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de num próximo estudo se realizar um reforço sobre o funcionamento das equipas transdisciplinar e as práticas centradas na família. Estes dois conteúdos são os principais fatores que resultam em intervenções eficazes, tanto na relação com a família e a criança, como na relação entre os elementos da equipa. Espera-se com o presente estudo contribuir para um aumento das planificações

de formações dirigidas aos profissionais das ELI’s, pelo impacto que essas

formações têm na melhoria da qualidade do serviço em IP e por esta ser uma das principais necessidades mencionadas pelos participantes do estudo.

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