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RECURSOS EXECUTADOS DA COMPENSAÇÃO FINANCEIRA Ação "Fomento a Projetos de Preservação Ambiental e a Recuperação de

VI. CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES

A Lei do Petróleo estabeleceu a criação da ANP e assegurou ao MMA condições para a promoção do desenvolvimento de ações, projetos e programas voltados para a preservação e conservação do meio ambiente, considerando os impactos ambientais e riscos potenciais relacionados às atividades de exploração e produção da indústria do petróleo, ou seja, os investidores ou concessionários compensam o Estado brasileiro pelos danos gerados.

Segundo o Tribunal de Contas da União, poder-se-ia até criar hipoteticamente um Ministério do Meio Ambiente do Petróleo com os recursos repassados, pois a arrecadação da compensação financeira atingiu um montante financeiro de cerca de R$ 5 bilhões em oito anos de arrecadação.

O modus operandi da arquitetura organizacional estabelecida e o nível de institucionalização da gestão da compensação financeira no MMA são variáveis cruciais para o êxito da política ambiental definida pela Lei do Petróleo. Desse modo, o modelo de governança não apresentou continuidade no desenho organizacional do Programa de Qualidade Ambiental - PQA ou arranjo institucional responsável pelos recursos da Participação Especial, evidenciando a não institucionalização da gestão, já que oito anos de gestão resultaram em três modificações de produtos, de forma a não permitir planejamento e controle das ações ou atividades e influenciar negativamente no resultado ambiental, ocasionando o insucesso de uma política ambiental no suporte às atividades da indústria do petróleo.

A aplicação da compensação financeira no desenvolvimento de estudos e projetos não foi efetiva na proteção ambiental e não gerou resultados diretos à indústria do petróleo, em razão da insignificante aplicação ou utilização dos recursos apropriados; do descontrole de produtos e metas realizados; e do desvio de finalidade na aplicação dos recursos, a exemplo de gastos administrativos em planos de saúde e auxílio alimentação.

Este estudo concluiu que a compensação financeira da indústria do petróleo assumiu a função de instrumento de apropriação de renda ricardiana para captura de ganhos extraordinários, negando-se semelhante função a um tributo ambiental, apesar da vinculação de renda à preservação do meio ambiente e recuperação dos danos

ambientais, porque não proporcionou modificação nos padrões de comportamento dos poluidores, e não apresentou relação entre a aplicação dos recursos e o alcance dos objetivos ou metas ambientais estabelecidos no programa de governo específico.

A compensação financeira é uma fonte de recursos já estabelecida, segura e concreta que poderá oferecer suporte as atividades institucionais dos órgãos ambientais e no apoio à gestão ambiental do país, como por exemplo: melhoria ao processo de licenciamento ambiental e montagem de um sistema de informações ambientais com um arranjo organizacional integrado, a fim de proporcionar melhores condições de atração de investimentos exploratórios, tendo em vista os anseios dos investidores por órgãos responsáveis pelas políticas de meio ambiente capacitados e com estrutura suficiente para assegurar os investimentos e o ritmo de crescimento do setor do petróleo.

A construção de um novo modelo de viabilidade ambiental prévia às outorgas de blocos exploratórios deve buscar um aperfeiçoamento do licenciamento ambiental, por meio da padronização, harmonização e inclusão de articulação de procedimentos entre os atores governamentais envolvidos. Por outro lado, é necessária uma base de dados integrada, relacionando as informações socioambientais das bacias sedimentares brasileiras, que atualmente não existe, e dificulta a evolução do processo de licenciamento ambiental e a gestão ambiental de seus ecossistemas.

A interação de bancos de dados que compatibilize bases de informação em formatos diversos de armazenamento permitirá o cruzamento dos dados, a geração de mapas e relatórios, o controle de redundâncias, o acesso rápido e o compartilhamento das informações como elemento de base para o planejamento setorial e conseqüente aprimoramento do licenciamento ambiental.

Além disso, os recursos da Participação Especial poderiam financiar o desenvolvimento de mecanismos técnicos e institucionais entre os setores de petróleo e meio ambiente para acesso aos sistemas de informação existentes no setor de petróleo e gás natural e no Sistema Nacional de Informações sobre Meio Ambiente – Sinima, visando o desenvolvimento e a implantação de políticas públicas, a agilização do licenciamento e a gestão ambiental com o objetivo de subsidiar o planejamento das outorgas de blocos exploratórios e o licenciamento ambiental das atividades de petróleo e gás natural.

A integração formal do instrumento de compensação financeira da indústria do petróleo ao licenciamento ambiental proporcionaria efetividade à proteção do meio ambiente, a curto-prazo, obtendo, entre outras, maior agilidade nas atividades

ambientais relacionadas à indústria do petróleo. A implementação da compensação financeira deveria ser conduzida pelos órgãos responsáveis, no âmbito de um processo de articulação interinstitucional que estabeleça mecanismos de discussão e integração, tais como Comitês Técnicos institucionais, que facilitem o processo de tomada de decisão operacional.

A Lei do Petróleo possibilitou ao País condições efetivas de competição por investimentos, nas ofertas de blocos exploratórios, na exploração e nos investimentos das concessionárias privadas e públicas, mediante a modelagem de operações que agregam a variável ambiental ao seu desenho, isto é, o alcance de um maior grau de competitividade em comparação aos demais países produtores de petróleo. A atratividade do investimento pode ser decorrente de uma contrapartida oferecida como a garantia de um processo ágil e transparente do licenciamento das atividades da indústria do petróleo, demonstrando a integração das políticas ambiental e energética.

Por outro lado, o Estado brasileiro apropria o montante de 10% da renda do petróleo, a título de Participação Especial, vinculando sua apropriação à destinação para estudos e projetos de preservação do meio ambiente e recuperação dos danos ambientais causados pela indústria do petróleo, todavia a não contrapartida aos projetos ambientais do setor compromete a principal motivação de recolhimento desta receita da renda do petróleo, logo, recomenda-se a devolução dos valores financeiros na forma de benefícios sociais e econômicos ou subsídios para melhoria da infra-estrutura do País. Nesse sentido, este estudo recomenda a extensão de avaliações de eficácia, eficiência e efetividade dos recursos financeiros apropriados em decorrência das atividades de exploração e produção de petróleo e gás natural destinados ao financiamento de estudos e serviços de geologia e geofísica; de planejamento da expansão do sistema energético; dos projetos, atividades e serviços de levantamento geológicos; e da parcela do montante da Participação Especial destinado a Estados e Municípios, confrontantes e não confrontantes.