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As inúmeras medidas implementadas pelo advento de um novo regime contratual no Direito brasileiro, traduzem a ânsia do Estado em tornar o procedimento licitatório mais célere e eficaz.

Os métodos adotados no Regime Diferenciado de Contratações buscam suplantar as soluções tradicionais dos já defasados sistemas procedimentais ainda vigentes. Estes pecam por sua excessiva morosidade e ineficiência na contratação pública.

Neste contexto, o legislador concebeu entre as inovações do novo modelo licitatório, a denominada contratação integrada.

Tal instrumento prima pelo estabelecimento de resultados a serem obtidos, remetendo ao contratado o emprego dos meios necessários para alcançar tal fim.

O efeito desta determinação implica em transferir ao particular uma maior autonomia na concepção do empreendimento.

A inexistência do projeto básico no ato de convocação dos interessados em participar do procedimento licitatório resulta em grandes dificuldades no dimensionamento dos custos envolvidos no projeto e no estabelecimento de parâmetros que permitam o julgamento objetivo das propostas.

Desta forma, conforme já foi exposto anteriormente, podemos aferir a duas implicações básicas da utilização deste procedimento que transmite ao licitante vencedor a concepção do projeto básico.

Primeiro, podemos identificar que a indisponibilidade prévia dos dados técnicos configuradores do objeto licitado prejudica a realização de um juízo objetivo acerca das ofertas disponibilizadas pelos licitantes.

Estes fatores podem possibilitar que o administrador exerça sua subjetividade no momento da escolha da melhor proposta, obstando a aplicação de condições isonômicas na disputa dos concorrentes.

Ademais, a ausência do referido projeto permite ao particular desfrutar de grande autonomia no desenvolvimento dos estudos técnicos que irão compor a obra ou serviço demandados pelo Estado.

A despeito destas considerações acerca das implicações que este regime reproduz no julgamento imparcial do administrador, a legislação que regula este instituto valeu-se de diversos instrumentos que asseguram a competição justa na concorrência das ofertas.

de um anteprojeto de engenharia que reúna todas as informações essenciais para a adequada caracterização e dimensionamento das soluções desejadas pela Administração.

Além disso, ao conceder ao particular o encargo da criação do projeto básico e executivo, a administração remete a ele, também, a responsabilidade pela a viabilidade do empreendimento.

Trata-se de importante recurso dentro do novo regime contratual, pois permite à Administração pública assumir uma posição de vantagem no contexto da relação obrigacional.

Pelo que ficou exposto durante o decorrer deste trabalho acadêmico, podemos conceber que as soluções propostas na adoção deste novo modelo de contrato não afrontam o princípio constitucional da impessoalidade.

A utilização da contratação integrada pressupõe o preenchimento de requisitos exclusivos descritos no texto legal. A liberdade para sua escolha, portanto, está vinculada à motivação exposta pelo administrador. Nestes termos, a descrição técnica e econômica que direciona a escolha do presente regime reflete o condicionamento da modalidade aos fatos arguidos.

Obras e serviços que integram o objeto descrito demandam o domínio de um conhecimento complexo, muitas vezes não compreendidos na dinâmica estrutural da Administração. Os custos que envolvem o desenvolvimento dos dados necessários para execução destes empreendimentos podem onerar excessivamente os recursos estatais. Cuida- se de alternativa admissível sempre que o poder público não possuir conhecimento e experiência suficientes para elaborar alternativa mais adequada para execução do objeto licitado. Desta forma, é mais aconselhável atribuir ao particular a prerrogativa de identificação das soluções apropriadas, já que este detém características que permitem uma escolha segura dos meios necessários.

É possível compreender que a adoção de novas medidas demanda um certo tempo para demonstrarem os reais efeitos de sua aplicação. Julgar as consequências do novo regime é, de certa forma, precipitado, pois os contratos firmados nesta modalidade ainda são recentes, não se podendo avaliar as consequências de sua admissão. Entretanto, a análise das circunstâncias que fundamentam o uso do procedimento resulta mais satisfatórias, podendo ser possível aferir a conformação da motivação com as exigências legais. É, inclusive, este, um dos pontos centrais desenvolvidos neste estudo. Tende-se delimitar os motivos alegados para o uso dessa sistemática procedimental, confrontando-os com a exigência constitucional de uma conduta impessoal pelo administrador.

Podemos, portanto, concluir, que só será legitima a utilização da contratação integrada quando a Administração demonstrar, por critérios que justificam a sua adoção, que esta será a solução mais vantajosa ao interesse público.

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