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6 CONCLUSÃO

6.1 Considerações Finais

Este estudo teve como objetivo investigar a relação entre capacidade de memória de trabalho e desempenho oral em L2 a partir da repetição de uma tarefa de tradução. Em resumo, os resultados e conclusões deste estudo foram que:

(1) A repetição da tarefa de tradução levou a diferenças significativas ( ganhos) em termos de fluência e acurácia. Tal resultado deveu-se ao fato de que ao realizar a tarefa os alunos estão mais preocupados com a geração da mensagem (conceituação), assim, ao repeti-la o aluno já familiarizado com o conteúdo, disporá de mais tempo para se dedicar às outras duas fases da geração da mensagem: formulação e articulação. Partindo-se desse pressuposto, durante a repetição, o aluno teve mais recursos atencionais voltados para a forma, as estruturas gramaticais, o que explica os ganhos significativos em fluência e acurácia. Ora, uma vez tendo já gerado o conteúdo da mensagem, o segundo encontro propiciou uma nova chance de produzir o mesmo conteúdo com maior fluidez (melhorias na fluência), bem como propiciou a chance de corrigir os erros produzidos na primeira realização da tarefa (melhorias na acurácia).

(2) A repetição da tarefa de tradução não levou a diferenças significativas em termos de complexidade. Tal resultado deveu-se aos efeitos de trade-off (Skehan, 2009) que sugerem que a atenção a um dos aspectos do desempenho oral é geralmente alcançada às custas dos outros, ou seja, o foco de atenção em fluência, pode ter resultado em recursos atencionais não suficientes para uma eficaz realização dos outros dois aspectos de forma simultânea (acurácia e complexidade). Logo, fazendo com que os participantes deste estudo tivessem

que escolher entre acurácia ou complexidade na segunda realização da tarefa.Consequentemente, na segunda realização da tarefa, com o conteúdo já estabelecido, os participantes puderam dar maior atenção à forma, e optaram por focar em acurácia ao invés da complexidade. Ou seja, optaram por construir frases mais simples com o objetivo de produzir menos erros.

(3) Não existem evidências suficientes para afirmar que participantes do grupo de menor amplitude de memória diferem, em média para porcentagem de itens lexicais resgatados ou em magnitude de valores para porcentagem de orações resgatadas, do grupo de maior amplitude de memória. Ou seja, concluiu-se que a porcentagem de informações resgatadas do primeiro encontro com a tarefa de tradução e implementadas no segundo encontro foi estatisticamente a mesma para ambos os grupos. Tal resultado pôde ser explicado devido ao fato de que ambos os grupos além de utilizar informações do primeiro encontro na segunda realização da tarefa, também utilizaram informações novas. Tal procedimento pôde ser comprovado pelas respostas obtidas nos questionários aplicados (Ver em Resultados). Quando perguntados sobre a quantidade de informações novas implementadas durante a repetição, ambos os grupos relataram ter feito tal procedimento, bem como o grupo de maior amplitude de memória foi o que mais relatou fazê-lo. Portanto, possivelmente, os indivíduos do grupo de maior amplitude de memória foram mais capazes de recuperar informações, mas decidiram não utilizar tudo porque tiveram mais ideias novas para implementar, o que fez com que a porcentagem de informações resgatadas fosse estatisticamente a mesma para ambos os grupos.

(4) Verificou-se que apenas para a variável acurácia (% de orações livres de erro) há diferença significativa entre os dois grupos (maior e menor capacidade de memória). Ou seja, os indivíduos do grupo de menor capacidade de memória apresentaram médias de ganhos significativamente superiores em comparação com o grupo de maior capacidade de memória. Tal resultado sugere que quem conseguiu se beneficiar mais da tarefa de tradução, pelo menos em termos de acurácia (% de orações livre de erros), foram os indivíduos do grupo de menor capacidade de memória. Tal resultado pôde ser explicado pelo fato de que o grupo de maior amplitude de memória foi o mais capaz de recuperar mais

informações sim, mas seus participantes decidiram não utilizar tudo porque tiveram mais ideias novas para implementar. Consequentemente, sendo aqueles que mais implementaram informações novas, os indivíduos de maior capacidade de memória de trabalho foram provavelmente aqueles que menos tiveram controle sobre as estruturas gramaticais, cometendo mais orações com erros. Ora, já que novas ideias estavam sendo geradas durante a repetição, muitos de seus recursos atencionais estavam voltados para a fase de conceituação e não formulação (fase em que as estruturas gramaticais estão sendo formadas) fazendo com que os indivíduos de menor capacidade conseguissem ultrapassá-los no número de orações sem erro.

(5) A ausência de diferenças significativas entre os dois grupos de memória no que se refere às variáveis fluência e acurácia (número de erros por cem palavras), deveu-se ao fato de que a repetição de tarefas cumpriu efetivamente seu papel. Ora, a repetição de tarefas é vista como um planejamento. A experiência e linguagem provenientes do primeiro encontro com a tarefa servem como um tipo de planejamento que poderá ser resgatado no segundo encontro com a mesma tarefa. Assim, o papel do planejamento é o de realmente tentar reduzir as diferenças entre maiores e menores amplitudes de memória, tentando compensar a menor capacidade de memória dos indivíduos de menor amplitude. Tal planejamento que permitiu que os participantes de menor capacidade de memória se preparassem previamente para o segundo desempenho pode ter reduzido as diferenças entre os grupos a ponto de manter estatisticamente iguais as médias de ganhos em fluência e acurácia (número de erros por cem palavras), o que permitiu que ambos os grupos se beneficiassem igualmente da repetição de tarefas em termos de fluência e acurácia ( número de erros por cem palavras).

(6) A ausência de diferenças significativas entre os dois grupos de memória no que se refere à complexidade deveu-se ao fato de que, na literatura, a complexidade é definida como a extensão em que os participantes estão inclinados a correr riscos ao ponto de utilizar estruturas gramaticais ainda não totalmente estabelecidas por seus sistemas cognitivos ( Ellis & Barkhuizen, 2005). Logicamente, nesse tipo de operação cognitiva, a memória de trabalho, que é

essencialmente um sistema de capacidade limitada, responsável pelo armazenamento e processamento de informações, não pôde desempenhar um papel central. Tal atitude de correr riscos tem relação com um aspecto pessoal de motivação e não pode estar diretamente ligado à capacidade de memória. Portanto, o fato de não haver diferenças significativas entre os grupos não causou surpresa alguma, resultado este que corrobora com os achados nos estudos de Ahmadian (2012, 2013).

É importante destacar que muito mais que conclusivas, as considerações feitas até aqui devem ser vistas como sugestões, visto que há limitações no presente estudo, assunto que será apresentado na próxima seção.

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