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Foram encontradas três representações sociais do envelhecimento. A primeira aproximada ao universo reificado que representa o envelhecimento como processo, conforme indicado no terceiro capítulo desta dissertação quando foram citadas entre outros autores as ideias de Neri (2001). A segunda representação social é fortemente influenciada pela visibilidade social que o fenômeno do envelhecimento populacional tem gerado. É recorrente o aparecimento de notícias em jornais, revistas, e programas de televisão, bem como discussões políticas. Isso mostra o quanto as pessoas em geral articulam conhecimentos, memórias e pensamentos para poder compreender e agir no mundo que as cerca. Além disso, evidencia-se a importância da Teoria das Representações Sociais, como um esforço da Psicologia Social para compreender como se processam as cognições e a influência do meio e das informações adquiridas e advindas do meio em que se vive, como pautas para os comportamentos e relacionamentos humanos.

Destaca-se aqui a terceira representação social pela qual os participantes compreendem o objeto envelhecimento. Nesta representação pode-se observar uma aproximação do termo envelhecimento a ideias e imagens comuns quando se estuda o fenômeno das representações sociais da velhice. Isto reforça algumas reflexões realizadas durante a execução deste estudo em que discutia-se que alguns objetos considerados com distinção pela ciência, não são distintos no senso comum.

Não existe, entre nós, clareza ou explicações para os motivos, ou as formas que fazem com que elementos distintos tenham um tratamento, parecido, mas é possível recorrer ao processo de ancoragem como parte da explicação e também a relevância que os objetos têm no meio social, de modo que falar sobre velhice ou envelhecimento adquire as mesmas características, ou seja, trata-se tanto do processo (envelhecimento) como da fase (velhice) sem distinção ou diferença, pois isso pode parecer desnecessário para as pessoas no senso comum compreenderem o que estão comunicando. Destarte, a pessoa representa a velhice e o envelhecimento da mesma forma por não diferenciar estes objetos, pois tal diferenciação não tem relevância para a comunicação, compreensão e até para o comportamento subsequente. O estudo de Martins (2002) também apresenta indícios similares ao tratar dos objetos velhice e idoso, entretanto neste estudo os participantes tentam diferenciar os

objetos dando características diferentes, contudo existe uma mistura das características, sendo que a autora compreende que ao falar de idoso falam de uma pessoa que envelheceu, que está na fase da velhice, mas está ativa, bem-sucedida, saudável. Já no caso da velhice, figuram aspectos negativos do envelhecimento e da fase, em que os idosos desta condição são doentes, parados, não se relacionam.

Com relação a representação social da sexualidade, leu-se anteriormente que este objeto é representado de duas maneiras, influenciado pelo sexo da pessoa, ou seja, se for mulher há uma tendência a uma representação social que figuram o amor, a companhia, o carinho como elementos centrais e o sexo como complemento, e no caso do homem inverte-se o sentido de modo que o sexo adquire o papel central da representação. Pode-se argumentar que tais representações seguem uma norma social, em que é esperado do homem, o macho, um comportamento de certa forma animal, vinculado a ideias culturalmente elaboradas em que o homem deve ser sexualmente muito ativo, como garantia de uma masculinidade ótima, onde o sexo é o fundamento. É interessante que as pessoas tentam dar explicações para o comportamento sexual masculino com argumentos científicos, sendo que a importância do ato sexual para o homem estaria relacionada com os hormônios masculinos e que as mulheres seriam diferentes, sobretudo na fase da velhice onde já passaram pela menopausa.

Entretanto, pode-se considerar que a representação social masculina do objeto sexualidade está enormemente influenciada pela construção social do masculino. Não é o objetivo deste trabalho, discutir esse ponto, mas é possível ser um foco para novos estudos.

O principal objetivo deste estudo foi tentar compreender o tipo de relação possível entre os objetos envelhecimento e sexualidade. Na análise dos dados parece que a relação entre estes objetos é nula, ou inexistente, pois ao falar de envelhecimento, os participantes não falam da sexualidade, e vice-versa. Mas cabem algumas reflexões.

Apesar de falar de maneira distinta destes dois objetos e ao mesmo tempo eles serem considerados diferentes pelos participantes, pode-se perceber que a sexualidade é um fator importante para o envelhecimento. Apesar de ter um peso relativo menor que a saúde ou que o estado financeiro, a sexualidade é importante para o idoso. Talvez, é nesta fase do ciclo vital que o conceito de sexualidade é vivido de maneira mais ampla, onde o amor, o companheirismo, a amizade, ganham mais força que o simples ato sexual. Entretanto,

parecem haver diferentes graus para esta compreensão, implicadas pela variável sexo, ou seja, os homens, apesar de também passarem a valorizar outros elementos da sexualidade, o ato sexual continua sendo o foco para eles, como indicados em estudos anteriormente citados, em que o a impotência é um complicador para o homem. Já as mulheres passam a compreender que o sexo é complemento, mas o importante é o amor, a amizade, o carinho, a família.

Corrobora com esta reflexão a fala de dois participantes desta pesquisa, ambos do sexo masculino, sendo um de Erechim e outro de Florianópolis. Ao discorrer sobre o envelhecimento ambos, falam que a impotência sexual é um fato marcante para o homem e que o faz “cair”, se sentir velho. Eles consideram que a impotência tem o mesmo peso para os homens que a aparência física tem para as mulheres. Essa referência feita por eles corrobora ideias citadas por autores como Clarke (2006), Kingsberg (2000), Capodieci (2000), Gelfand (2000) e Bütler e Lewis (1985).

Com isso chega-se a duas constatações, primeiro que não há uma relação entre as representações sociais do envelhecimento e da sexualidade, considerando o método de pesquisa utilizado neste estudo. Segundo que existe uma relação entre sexualidade e envelhecimento, não no plano de representações sociais, mas tratando-se do fenômeno do envelhecimento e da velhice, onde a sexualidade é um fator componente e pode ser até preditor de alguns comportamentos, pensamentos e reações que porventura venham a ser estudados, por se tratar de um fenômeno da vida humana.

Conforme indicações na introdução e capítulos subsequentes do presente trabalho, objetivou-se acrescentar algo no estudo das representações sociais da velhice e do envelhecimento e pôde-se perceber no início destas considerações um fator positivo neste sentido, o indicativo de que ao falar de envelhecimento, é possível que as pessoas estejam falando da velhice, devido a representação do envelhecimento como fase.

No que se refere às representações sociais da sexualidade acredita-se que a presente dissertação constitua uma fonte confiável para estudos subsequentes, pois esta temática precisa ser discutida pela psicologia do envelhecimento, ampliando-se a compreensão. Corrobora com esta reflexão o fato de não ser possível encontrar pesquisas sobre representação social da sexualidade realizadas com idosos ou pessoas que estão próximas da velhice.

Além disso, as duas representações sócias da sexualidade encontradas são indicativo de possíveis comportamentos de homens e mulheres com mais de 50 anos no que se refere a vivência de sua sexualidade, sendo o homem muito mais preocupado com o sexo do que a mulher que destaca a afetividade, a companhia e o amor. Esta constatação pode ser útil no desenvolvimento de campanhas para a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, inclusive o HIV/Aids, nesta população.

Como indicação ao desenvolver tais estudos, os pesquisadores devem estar atentos para não tomar a sexualidade como ato sexual simplesmente, caminho que muitas vezes percebeu-se que este trabalho seguia, pela influência do referencial seguido. Esta tendência foi percebida desde a elaboração do projeto até este momento. Isto pode ter influenciado algumas reflexões, apesar de buscar-se estar atentos a tal tendência.

Neste estudo um ponto considerado falho foi na coleta de dados referente ao que o participante pensava sobre sexualidade. Coletamos dados para esta pergunta de maneira indireta, acreditando que através de um mecanismo de projeção os participantes falassem o que pensavam sobre a sexualidade, respondendo o que imaginam que a sociedade pensa sobre sexualidade, conforme pode ser observado na pergunta 3 do apêndice 2. Acredita-se que se fosse seguida a mesma orientação da primeira parte em que se perguntou o que a pessoa pensa sobre envelhecimento, outros dados poderiam ter aparecido.

Ao final deste trabalho, reafirma-se a importância de estudos sobre a sexualidade, sobre comportamento sexual, representações sociais da sexualidade e do sexo, uma vez que se assiste atualmente a disseminação do HIV e da Aids numa população que anteriormente era pouco infectada. Além disso, pôde-se perceber que a sexualidade é um fator importante, assim como a saúde, a estrutura financeira, social e familiar para o envelhecimento e para o idoso, portanto compreender esse objeto é importante para prover intervenções sociais corretas e eficientes.

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